O Padre Fontes é o principal impulsionador do Congresso de Medicina Popular, em Vilar de Perdizes, e das “Sextas-Feiras 13” em Montalegre. Ao contrário do que se possa pensar, ele não acredita “em bruxas, nem em feitiços, nem sequer no diabo”.
O Padre António Fontes, nasceu em Cambezes do Rio, uma aldeia do Barroso, em 1940. Desde pequeno que sempre disse que queria ser padre, e aos 10 anos, com a escola primária feita, já estava no seminário. “Enquanto andei no seminário, os meus pais, sabe Deus como, viram-se aflitos para suportar aquela despesa. Na agricultura ninguém tinha salário e todos os trimestres era necessário pagar. Quando não havia a quantia necessária, pedíamos dinheiro aos vizinhos ou vendíamos qualquer coisa”.
O padre Fontes diz que “não se pode ser padre numa região cheia de miséria e injustiça e ficar a olhar para o lado. É por isso que as gentes do Barroso nunca abandonaram o seu paganismo fundamental. O paganismo dava-lhes curas, mezinhas, vida comunitária, assistência na desgraça. E a igreja veio para aqui falar de cátedra, nunca entendeu estas gentes. Por isso nunca conseguiu fazê-las deixar de acreditar em bruxas e fantasmas. Eu farto-me de dizer às pessoas que essas coisas não existem, estão dentro de nós, e até já me tornei o conselheiro de muita gente que pensa que sou bruxo.”
Contudo, há curandeiros que têm capacidade de curar. E não é por sugestão. Existe a cura pelas mãos, pelas palavras, pelos olhos, pelas massagens. Umas vezes melhor, outras vezes pior. Sobre os exorcismos. Toda a gente faz exorcismos. Exorcismo é um palavrão, que traduz o que antigamente seria tirar o diabo do corpo. Isso era exclusivo dos padres. Havia um ritual próprio, mas acho que a igreja acabou com os exorcismos há alguns anos, embora existam padres que os façam. Atualmente, o pseudo-exorcista é feito por qualquer curandeiro, qualquer pessoa pelos meios que conhece, e outros por imitação dos padres.
No fundo não é fazer exorcismo. É uma farsa, uma representação entre o ator e o espetador.
Dia 13 em Montalegre
“É uma grande noite. A cidade está cheia com milhares de pessoas. Os restaurantes tem ementas cheias de pratos mágicos, decoramos tudo a preceito, pomos escadotes no meio da rua para as pessoas passarem por baixo, há tendas a vender todo o tipo de produtos e mezinhas. Há muita muita música e encenação teatral com bruxas e demónios.”
O ano de 2015 abençoou Montalegre com três Sextas 13. A segunda do calendário acontece amanhã e promete cumprir o sucesso de edições anteriores. A capital de Barroso volta a vestir-se a rigor e a fazer uma celebração, focada nos azares, bruxedos, contos, lendas e locais sombrios da memória, volta a fazer uma forte aposta na música e teatro.
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