Cerca de 12% da população sente frequentemente dores de cabeça, sendo o sexo feminino o que mais sofre deste problema.
Isabel Pavão, neurologista e especialista nesta área da medicina, explica o que está na sua base.
“Há dois tipos fatores, nomeadamente biológicos e predisposição genética. Está, por exemplo, demonstrado que se herda a suscetibilidade para sofrer de enxaqueca. A forma como se reage aos estímulos do dia-a-dia, o que está mais ligado à cefaleia de tensão é outro dos fatores. Ou seja, fatores constitucionais e depois a interação com o ambiente, reagir de uma forma mais tensa, com contração muscular.”
Ora se há variáveis que não podemos controlar, existem outras que estão ao nosso alcance. Ter uma vida saudável, hábitos de sono regulares, fazer desporto e não estar muitas horas sem comer são regras básicas para quem quer evitar as dores de cabeça. As mais frequentes são a enxaqueca e a cefaleia de tensão que são crónicas.
Abusar dos analgésicos
Pensar que não há nada a fazer quanto às dores de cabeça é um equívoco. “Há medicamentos que ajudam bastante a evitar as crises. Não podemos mudar os genes, mas há muitos fármacos que melhoram as enxaquecas. Vale a pena pedir ajuda quando as pessoas sofrem muito”.
Existem, no entanto, doentes que caem no abuso de analgésicos. “Quanto mais tomam, mais precisam de tomar, mais dor têm. O estar sem analgésico cria-lhes uma cefaleia de abstinência que pode ser muito idêntica à enxaqueca. A grande regra é tomar com conta, peso e medida e alguma sensatez e quando as pessoas entram nas fases de abuso a única solução é parar, o que muitas vezes é difícil”.
As consequências de uma toma indiscriminada de analgésicos passam pelo agravamento da dor, tornando-a intratável e criando dependência. Mas não só: tem um efeito nefasto para os rins e fígado.
O clássico anti-inflamatório, aceitável esporadicamente, em grandes doses favorece úlceras e gastrites, por isso, atenção se estiver a tomar este tipo de fármacos mais de quatro vezes por semana. Se a dor for incapacitante, súbita, muito intensa, diferente do habitual ou se se sofre ou vive angustiado por causa dela, é essencial procurar um médico.
Causas das dores de cabeça
De acordo com dados divulgados na última década, cerca de um milhão de portugueses é regularmente afetado por dores de cabeça e enxaquecas. As principais causas são:
- Cefaleias primárias, nomeadamente enxaqueca, cefaleia de tensão, cefaleia em salvas
- Patologias nos olhos, seios perinasais, boca, dentes, coluna cervical, cérebro, doenças vasculares e traumáticas
- Tumores cerebrais, infeções, meningites e/ou febre
- Depressão
- Ansiedade
- Síndrome de Pânico
- Álcool
- Estar muitas horas sem comer
- Abstinência de cafeína
- Alimentos: bebidas ácidas, chocolate, queijo, alimentos muito gordurosos. Aditivos usados na comida chinesa
- Medicamentos, por exemplo vasodilatadores
- Abuso de analgésicos
Para além da própria causa da dor, a sua duração e intensidade, assim como as queixas associadas e fatores agravantes permitem segmentar as cefaleias em vários tipos.
– Dor de cabeça crónica que se caracteriza por episódios de dor pulsátil.
– A dor, moderada a intensa, tende localizar-se num dos lados da cabeça, podendo mudar de lado. É sentida, sobretudo, na região da órbita e da têmpora.
– Os episódios de dor duram entre quatro a 72 horas. Podem ter intervalos de dias, semanas, meses ou mesmo anos.
– Queixas associadas: Intolerância a estímulos sensoriais (luz, som); náuseas; vómitos; aura (quinze por cento dos indivíduos experienciam fenómenos neurológicos transitórios. São sintomas que duram cerca de 20 minutos e antecedem a dor. O indivíduo vê pontos brilhantes, sente a mão e o braço dormentes, tem alteração da linguagem).
– Dor de causa genética.
– Fatores desencadeantes: flutuações hormonais, período menstrual, pílula, jejum prolongado, álcool, privação de café, stress, privação de sono ou dormir em excesso, gorduras, chocolates, natas e queijo.
– Fatores agravantes: Luminosidade, barulho, esforço, movimentos da cabeça
– Fatores de alívio: Exercer pressão da zona que dói, frio local (panos, rodelas de batata); dormir e evitar fatores agravantes.
– Tratamento: Fármacos antimigranosos específicos, anti-inflamatórios e fármacos profiláticos de vários grupos.
– Dor crónica tipo aperto, pressão, peso. Algumas pessoas relatam sentir uma espécie de capacete.
– Dor bilateral, moderada a ligeira, que se localiza na região frontal. A dor pode dar a sensação de uma fita apertada à volta da cabeça ou abrangê-la na sua totalidade, irradiando para a nuca até aos ombros.
– A dor pode ser quase diária ou ocasional, podendo durar minutos, meia hora e até vários dias seguidos. Pode ser uma dor contínua.
– Queixas associadas: Síndromas depressivos, dores nas costas, coluna, pescoço, ombro, alterações do sono, esquecimento, ansiedade.
– Causa: diminuição da tolerância à dor, contração dos músculos à volta da cabeça.
– Fatores desencadeantes e agravantes: Contrariedades do dia-a-dia, aborrecimentos, stress, irritação, ambientes ruidosos.
– Prevenção: antidepressivos em doses baixas são muito eficazes, exercício físico, evitar os fatores desencadeantes.
– Fatores que aliviam: técnicas de relaxamento (massagem nas costas, pescoço, banho quente, ioga); estar num ambiente sossegado.
– Tratamentos: Fármacos antidepressivos e relaxantes musculares.