“Eu tenho duas coisas intrínsecas em mim, no meu ADN: a autossobrevivência e a autossuficiência. E por estas duas coisas, faço e dou tudo”
A aventura de Gaspar Fiúza começou com uma viagem aos Estados Unidos da América, “muito inspiradora”, como conta.
“Estive 3 meses nos EUA sozinho, tinha cerca de 23 anos. Trabalhei em tudo e mais alguma coisa, servi às mesas, até cheguei a chefe de mesa e também trabalhei na televisão portuguesa de lá. Há pessoas que partem sem dinheiro, à boleia. Eu levei 300 contos no bolso e voltei, exactamente, com o mesmo dinheiro. Quando regressei senti que era autossuficiente e que tinha sido um grande teste para mim no campo na sobrevivência”, conta Gaspar.
O que mais chamou a atenção de Gaspar nos Estados Unidos, foram as casas. “Em Portugal era e é tudo igual… de zona para zona, copiam-se todas umas às outras, não há originalidade”, explica Gaspar.
Fiúza conheceu um engenheiro nos EUA que o inspirou. “Não era um engenheiro qualquer… ele andava no terreno, metia ‘as mãos na massa’. E à noite chegava a casa, tomava um bom banho e ia voar no seu jacto privado. E eu adorei isso, adoro esse extremo. A maneira dele viver fascinou-se. Sinto que levando a vida de um extremo ao outro, no mesmo dia, a vida vale a pena!”, revela Gaspar.
E assim começou a surgiu a ideia de construir a sua própria casa “e não descansei até reunir o máximo de informação sobre a área da construção”, conta Gaspar. Mas não foi fácil… “Quando cheguei, só surgiam obstáculos e problemas! Mas decidi arregaçar as mangas e não desisti!”, revela o construtor.
Fiúza sempre teve uma grande apetência para construir coisas. Quando era pequeno estava sempre a desmontar e a montar brinquedos e ainda hoje o faz, com outro tipo de objetos.
Gaspar reuniu mais 3 amigos, entre eles 1 pedreiro e construíram o projecto, que viria a ser aprovado mais tarde.
A casa foi construída nos “intervalos da chuva”, como conta, aos fins-de-semana e nas férias. Demorou cerca de 3 ou 4 anos. A primeira coisa a ser construída foi a oficina (que atualmente é uma sala de cinema), para poderem colocar tudo o que viria a ser necessário para a obra.
“Para construir uma casa desta dimensão são necessárias múltiplas capacidades… a auto-construção, o aproveitamento das águas fluviais, usar o sol para aquecer a água, os contadores bi horários…”, explica Gaspar.
“Muitas são as pessoas que me perguntam como é que eu, que sempre trabalhei na área da construção, consegui construir uma casa destas mas, sinceramente, não sei explicar… É um dom, como alguém uma vez me disse…”
A casa conta com sofás de pedra, tubos largos para qualquer mudança necessária, 13 televisões, os móveis são todos contruídos com madeira, o chão é tijoleira rústica torcida e queimada, também a mesa da sala foi feita com madeira, o telhado sai para fora cerca de 1 metro, a cama foi feita com o resto de madeira da obra, o chão do primeiro andar está assente em troncos de pinhal, redondos. “Fui com o dono recolher as árvores necessárias, descasquei as árvores e usei-as”, explica.
Os cortinados e toda a decoração ficaram a cargo da mulher de Gaspar, Ana Isabel.
“Nessa altura, a minha casa saiu em todo o lado e decidi enviar uma fotografia para a revista ‘Casa Cláudia’. Gostaram muito e pediram-me um exclusivo, durante 2 anos!”, Gaspar.
Nesse sentido, a DECO lançou um desafio: fazer um vídeo com 3 minutos e que correspondesse pelo menos a 1 das 6 categorias. “Mas o que acontece com a minha casa é que corresponde a todas e ainda a mais algumas…!”, conta Fiúza.
E assim nasceu o vídeo de Gaspar… “Eu e o meu filho, Gaspar, fizemos o vídeo numa tarde, à volta de uns grelhados. Íamos filmando e editando”, afirma o construtor.
O outro filho de Gaspar, Sérgio, sofre de autismo, o que condiciona muito a casa… “Está toda vedada. A doença faz com que o meu filho seja muito repetitivo. Quando se farta dos brinquedos, mandava tudo para fora do muro, o que fez com que tivéssemos de vedar tudo e fazer outro muro, para que os brinquedos ficassem entre os dois…”, explica Gaspar.
“Gosto muito deste extremo. Ando pelo campo, vejo cabras, perdizes… e depois venho trabalhar para a cidade. E, ao fim do dia, vou andar de barco e aproveito e caço uns peixinhos ou uma santola, para comer ao fim do dia. Comemos o que apanho e tomamos banho com a água que o sol aqueceu (da chuva)”.