REVER PROGRAMA NO RTP PLAY

Rosa é a prova viva de que nunca devemos desistir dos nossos sonhos.
Veio do Minho, de Arcos de Valdevez, para Lisboa quando tinha 13 anos para fazer a instrução primária. Depois disso frequentou dois anos de um curso comercial.

“Sempre gostei de estudar. Quando estava na primeira classe, a professora ligou para o meu pai para eu passar logo para o 2º ano, porque o 1º ano era fácil para mim e estava a perder tempo.”

Como qualquer outra moça da sua idade, Rosa começou a namorar e acabou por deixar os estudos e ir trabalhar. Foi na Associação Nacional dos Parques Infantis, coordenada pela poetisa Fernanda de Castro Ferro, que Rosa trabalhou nos primeiros anos de carreira, como professora de lavores. Ensinava bordados, costura, como fazer uma saia, uma camisa, coser meias… tarefas normais para as mulheres daquele tempo.

Quando o jardim infantil fechou, Rosa teve de procurar um novo trabalho. Foi nessa altura que viu um anúncio num jornal que procurava candidatas para enfermeiras.
“Fui ao Hospital dos Capuchos para saber o que é que era preciso para ser enfermeira. Disseram-me que se quisesse ser auxiliar de enfermagem podia começar de imediato, mas se quisesse ser enfermeira tinha de concluir o 3º ano do liceu. Queria mesmo ser enfermeira e, por isso, fui trabalhar.”
Conseguiu arranjar emprego em casa de uma professora. Todo o dinheiro que ganhava era para pagar a um professor que a preparava para o exame.

Durante os 3 anos do curso de enfermagem, Rosa contou com a ajuda da sogra para cuidar dos filhos. “Ela dava-me uma grande ajuda para ir levá-los e buscá-los à escola. Houve uma vez que ela se esqueceu de ir buscá-los e o meu filho mais velho foi atropelado. Tinha 9 anos e morreu.”

Depois de terminar o curso de enfermagem, em 1957, Rosa foi impedida de trabalhar nos serviços de enfermagem do hospital. “Era casada e, na altura, as enfermeiras para trabalhar não podiam ser casadas. Acabei por só ficar 8 meses e depois fui trabalhar para a Misericórdia de Lisboa, no Hospital Infantil.” Nesta altura Rosa já trabalhava por turnos.

Esteve 5 anos a trabalhar na Misericórdia e foi sempre conciliando o trabalho com cursos complementares de enfermagem. Passados os 5 anos, Rosa decidiu abrir um serviço de enfermagem por conta própria, que funcionou durante 15 anos, na Praça da Figueira. “Depois de ter esse serviço, candidatei-me aos hospitais civis. Foi na altura que o meu marido faleceu, vítima de enfarte do miocárdio. Trabalhei na Ordem Terceira de São Francisco até 1995”, altura em que completou 70 anos e atingiu a idade limite para a reforma.

Em 1987, Rosa foi estudar para tirar do 7º ao 12º ano.
Em 1990, Rosa já frequentava a Universidade Autónoma de Lisboa, onde se licenciou em Sociologia. “Ainda trabalhava como enfermeira quando decidi voltar a estudar. Fiz o curso de 5 anos, porque na altura ainda não havia o Tratado de Bolonha.”

Quando terminou o curso, Rosa achou que estava na altura de parar com os estudos. “Tive 10 anos em casa até a Universidade me ligar. Ligaram-me para saber se eu gostava de ir fazer a licenciatura de Psicologia. Disse logo que não! Tinha medo de chumbar… Não sabia se a minha cabeça ainda estava boa para isso.”

A verdade é que a Universidade conseguiu convencer Rosa e, mais uma vez, aos 81 anos conseguiu surpreender tudo e todos. “Tirei o curso e não chumbei em nenhuma cadeira. Mas não foi fácil, porque eu faço todos os trabalhos à mão e só depois passo para o computador. Nunca me dei muito bem com o computador, mas lá vou aprendendo.”

Nos últimos anos, a Universidade Autónoma de Lisboa tem sido a segunda casa de Rosa. Teve de enfrentar alguns preconceitos, mas ainda assim conseguiu fazer alguns amigos. “A estranheza dos meus colegas jovens era uma velha, de quase 70 anos, estar a estudar com eles. Perguntavam-me: Mas a senhora paga para estudar? Claro que pago!”

Com 3 licenciaturas – Enfermagem, Sociologia e Psicologia – D. Rosa, como prefere ser tratada, quis ir mais longe. Neste momento, a poucas semanas de fazer 90 anos, prepara-se para entregar a tese de mestrado e já está a preparar o doutoramento (tudo na área da psicologia). “Mais mês menos mês e a tese de mestrado já está concluída. Estou a fazer sobre o sofrimento, a dor e o preço oculto a pagar pela vida. Esse preço oculto é a morte porque não sabemos quando morremos”, diz Dona Rosa admitindo que foi a sua experiência como enfermeira que a motivou a fazer esta investigação.

O tema da tese de doutoramento também já está definido. Será sobre Envelhecimento saudável ativo e o seu genoma. “É inspirada na minha pessoa. Não sou uma pessoa doente e não me lembro a última vez que fui ao médico”.

Rosa tem 4 netos e 5 bisnetos. O seu único filho sempre achou bem que a mãe aprendesse mais. “O meu filho sempre me apoiou. E agora, o meu bisneto que também estuda na UAL, às vezes ajuda-me a passar os trabalhos para o computador.”

A um mês de completar 90 anos, Dona Rosa garante que o segredo para uma vida ativa e preenchida em qualquer idade é “Não parar… é andar para a frente até Deus querer. Acho que se nos agarramos a um sofrimento vamos mais depressa para a morte”.

 

REVER PROGRAMA NO RTP PLAY