Gustavo Pedrosa, psicólogo/terapeuta familiar da Oficina de Psicologia, falou-nos acerca dos filhos que querem passar, pela primeira-vez, o fim-de-ano sem os pais. Que tipo de conselhos e recomendações devem ser tomadas numa situação destas. Um tema para toda a família ter em atenção.

Entre os pedidos dos adolescentes e os receios dos pais – a arte da negociação

A partir de determinada idade os adolescentes querem começar a sair à noite, o que leva à apreensão de muitos pais. O filho fica fora do controlo dos pais e na companhia de outros adolescentes, muitos com princípios e valores distintos daqueles que os pais tanto se esforçaram para ensinar aos seus filhos. E as tentações são muitas, a começar pelo álcool e pelo contato com desconhecidos.
Estabelecer regras é fundamental

Um aspeto fundamental, antes de começarem as saídas, é o estabelecimento de regras precisas sobre a forma como os filhos se devem comportar. A hora de saída e de chegada, como e com quem vão e vêm, com quem devem (e não devem) estar, e principalmente como se devem comportar, são aspetos que devem ser combinados com antecedência.
Qualquer regra deve ser elaborada em conjunto com os filhos. É importante que eles sintam as regras como necessárias, racionais e razoáveis, para assegurar que sejam cumpridas. Da mesma forma, as regras devem ser simples e concretas, dizendo respeito a assuntos específicos e não abstratos.

Consequências do não cumprimento

Devem ser estabelecidas consequências do não cumprimento com antecedência, para que todos saibam, as consequências do não cumprimento de alguma regra. Esta consequência deve ser justa e proporcional para que não leve à desautorização dos pais.

Com que idade?

A idade a que um adolescente poderá começar sair à noite no final do ano, o que significa chegar a casa depois da meia-noite, é muito variável de família para família. A maioria dos especialistas é consensual na defesa de que é sensato que não seja antes dos 14 anos pois antes desta idade não existe habitualmente maturidade para lidar com alguma situação inesperada. Mas isto não significa que tenha de ser obrigatoriamente nesta idade, dependerá do interesse que o jovem demonstrar, da sua maturidade, do contexto onde pretende começar a sair, etc. Mais do que diferenciar a liberdade entre rapazes ou raparigas, as regras devem ser ajustadas de acordo com o grau de maturidade e capacidade de lidar com os problemas que o adolescente apresenta.

A que horas chegará?

As horas de chegada a casa são tendencialmente um ponto de conflito. Aos 14 anos este não deve ser um aspeto a negociar. Os pais estabelecem a hora que consideram apropriada e o filho ou a filha tem de aceitar esse facto. Ou em alternativa fica em casa. A partir dos 16 anos, habitualmente, é normal existir já alguma negociação.

O que é e não é negociável

Algumas coisas não são negociáveis: não saber com quem vai e com quem vem, ou não saber a que horas vem, são alguns exemplos. Mas outros aspetos podem ser discutidos, como saber com quem vai e com quem vem de uma festa. Não é necessário que saibam os nomes e idades de todos os amigos, mas devem conhecer pelo menos um ou dois e saber os números dos seus telemóveis para o caso de precisarem de contactar o filho e ele não atender o telefone. Os pais têm de explicar que o fazem apenas por uma questão de segurança e que em condições normais não utilizarão aquele contacto.
Nos mais novos, os pais poderão fazer um sacrifício e ir buscar o adolescente à saída da festa ou da discoteca, nem que seja às duas da manhã. Será útil conhecer um ou dois pais de colegas do filho e combinar com eles quem vai buscar todos de uma vez e os distribui pelas respetivas casas de forma alternada numa fase inicial.