«Quando a uma pessoa lhe é diagnosticada um cancro, as fases pelas quais passamos são muitas. Medo, incerteza, ansiedade, raiva. Não sou nenhuma máquina e eu senti isso tudo. A questão é que cedo me apercebi que sentir todos esses sentimentos maus durante muito tempo não me ia levar a lado nenhum. Decidi então colocar um filtro e deixar que só as boas energias entrassem no meu corpo. Não foi fácil mas fui conseguindo. Aos poucos ia entrando gratidão e alegria.
Todas as fases são importantes para o nosso crescimento. Incluindo as fases de mudança física. O engordar, as cicatrizes, o cabelo. Sim, o cabelo, o que toda a gente diz “Ah, isso é o que menos importa!”. Verdade sim senhora, mas no fundo importa. É ele que esconde imperfeições e molda o nosso rosto. Todos os dias pensava nele, em várias formas de o fazer crescer muito rápido porque não queria esperar mais! Passados 24 meses, o meu cabelo já me tapa os olhos, toca-me nos ombros e aquece-me a cabeça. Já me consigo esconder nele e pô-lo atrás da orelha. Aos poucos vou tendo o cabelo como tinha mas o meu Eu interior será pra sempre diferente.» (Helena)

Helena começou a praticar desporto desde muito jovem.
Durante uns tempos deixou de praticar desporto, porque teve de abraçar outros projetos profissionais e a preguiça também não ajudou. Não estando satisfeita com o seu corpo decidiu voltar a praticar exercício físico e inscreveu-se num ginásio. Tinha nesta altura cerca de 20 anos.

Até ao verão de 2012, Helena sempre foi uma jovem saudável. Foi em agosto que os primeiros sintomas apareceram. “Comecei com dores no pescoço, na nuca, depois nos ombros… O primeiro pensamento que tive foi de que devia estar a fazer esforço físico a mais ou que teria feito algum exercício de forma errada.” A verdade é que a situação de Helena agravou. “Passei a não ter vontade de comer e, entretanto, notei que estava um nódulo a crescer no meu pescoço.”
Da deteção deste nódulo até Helena ir ao hospital passaram 2 meses e meio. Quando se dirigiu às urgências do Hospital Santa Maria, Helena descreveu todos os sintomas que sentia nos últimos tempos. “Fiz análises, um raio-x e marcaram um TAC para ser feito no espaço de 1 mês. Fui para casa, tomei a medicação, mas nada melhorou.”

Helena voltou ao hospital 3 semanas depois. Voltou a fazer queixa dos mesmos sintomas, mas desta vez confessa ter exagerado. “Achei que era a única forma de me darem atenção. Exigi mesmo que me fizessem a TAC de imediato.” Assim que fizeram detetaram um objeto estranho e decidiram partir para um endoscopia. “Assim que terminei este exame mandaram-me voltar à triagem para me fazerem uma apalpação. Pensei que vinha para casa, mas informaram-me que não podia sair do hospital.”

Ficou internada no Hospital de Santa Maria durante 9 dias. Entre biópsias, análises e outros exames, Helena ansiava por perceber o que realmente se passava. “Acabei por regressar a casa e um mês depois vou fazer cirurgia no IPO.” Helena foi transferida para o IPO a pedido da própria. “Não estava a gostar da forma como estava a ser tratada e pedi para ser transferida. O processo foi rápido.”

Helena não esquece o dia em que ia para ser operada. “Já estava na sala de operações e mesmo antes de levar a anestesia o médico entra e pede para pararem. O tipo de tumor que eu tinha era inoperável. Voltam a marcar uma nova cirurgia para dia 8 de janeiro de 2013.” Nessa cirurgia, retiraram apenas um bocadinho do tumor para que fosse analisado. A jovem regressou a casa e esperou pelo resultado da análise. “Quando recebi a notícia achava que estava preparada. O IPO disse-me que o meu tumor era de dois tipos e, por isso, teria de fazer uma quimioterapia mais agressiva.”

Durante 5 meses, Helena fez quimioterapia 1 vez de 3 em 3 semanas. Inicialmente recusou-se a deixar a sua rotina diária, mas a doença foi mais forte. “Acabei por ter de meter baixa no trabalho.” Ainda assim, e contra todas as indicações médicas, Helena recusou deixar de fazer exercício físico. “A médica tinha-me proibido de ir ao ginásio. Era importante que guardasse as forças para os tratamentos.” Com o organismo debilitado, a jovem atleta não podia frequentar espaços com muita gente. “Já que não podia ir ao ginásio decidi fazer exercício na rua. Como também não podia apanhar sol, passei a correr à noite.” Ia quase sempre acompanhada por amigos.
Quando Helena contava à médica que continuava a praticar desporto, esta ria-se. “Acho que ela muitas vezes não acreditava… Era complicado acreditar que depois de tratamentos agressivos de quimioterapia eu fosse correr.”
Helena garante que o exercício físico foi essencial para a cura. “Era o meu escape, era a única coisa que me fazia sentir bem… Fazia sentir-me útil.”

Aos 23 anos quando soube do tumor, Helena achava que estava preparada para tudo. “Até para me cair o cabelo eu sentia que estava preparada e até reagi bem. A minha mãe pais quis que eu usasse peruca e sempre me recusei. Preferi assumir-me tal como era. Só usava lenço.”

Ao contrário de Helena, amãe reagiu muito mal, não conseguia perceber o porquê de isto lhe estar a acontecer tão jovem. “Apesar do choque, a minha família e os meus amigos foram o meu apoio. Aliás, nessa altura, deu para fazer um filtro para perceber com quem podia contar.”

Helena decidiu em março de 2013 criar uma página no facebook My Chemical Fitness. O seu objetivo é que esta página fosse uma inspiração para os outros. “Foi uma forma de levar o cancro na desportiva e dar a ver aos outros que não há desculpas para nada. Se eu tenho cancro e ainda assim pratico desporto, então tudo é possível.” A ideia de criar esta página surgiu depois de muita pesquisa. “Percebi que não havia muita informação sobre praticar desporto durante tratamentos como o meu.” O feed-back foi muito positivo.

 

“Não sou heroína, não sou guerreira. Sou apenas uma pessoa que queria muito viver…”

Helena percebeu que estava livre deste pesadelo no dia 15 de outubro de 2013. “A médica disse-me que o tumor já estava em remissão.” Tem sido acompanhada e até à data está bem de saúde.
Atualmente pratica exercício físico todos os dias. “Continuo a fazer musculação, porque é o que mais gosto… Acaba por ser desafiante conseguir puxar cada vez mais carga.”

Quando pratica exercício, Helena diz que se sente livre. “Sinto-me útil, sinto-me bem.”