Maria e Rodrigo são avós a tempo inteiro. Quatro netos que são a “luz dos seus olhos” e que fazem das suas vidas mais animadas e coloridas que nunca.

Tiveram dois filhos rapazes que foram criados entre o mini-mercado da mãe e o camião do pai, que trabalhava nos transportes de carga. Uma vida preenchida mas que ficou mais completa com o nascimento do primeiro neto, o João Tomás, que hoje tem 14 anos.

“O meu filho mais novo chegou uma vez cá a casa a dizer que tinha uma novidade para nos dar, e eu estava com medo que ele me desse algum desgosto, os meus filhos davam-me preocupações mas desgostos não. Quando ele me disse que a Verónica (nora) estava grávida só lhe disse: ai que coisa tão boa. Sempre quis ser avó. Foi uma notícia tão boa e veio trazer uma mudança nas nossas vidas”, relembra Maria.

Na altura Maria disse ao filho que se ele e a mulher quisessem ela criava o menino, era o seu maior desejo e assim aconteceu. “Criei-o como se fosse ama, deram-me o maior prazer da minha vida e pouparam também eles um quanto dinheiro, que não gastavam em creche e ama”.

Maria continuou a trabalhar no mini-mercado mas cuidava do neto a tempo inteiro. Depois entretanto o marido adoeceu e a sua mãe também ficou doente e teve de ir viver com ela e com o Sr. Rodrigo. Passaram um tempo agitado, entre hospitais, mini-mercado e cuidados com os netos, porque entretanto o filho mais velho do casal juntou-se com uma rapariga que já tinha uma filhota, a Verónica na altura com 3 anos, que adotaram como neta (que hoje tem 11 anos).

“Até ao João Tomás ter 4 anos foi complicado porque tinha de cuidar dele, do marido e da minha mãe, mas nunca deixei o meu neto, nunca!” lembra-se Maria.

Depois o neto mais velho entrou na pré-primária e as rotinas acalmaram. Maria ia busca-lo à escola, dava-lhe almoço e ficava com ele no final do dia. Por essa altura nasce outra neta, Maria Inês (hoje com 9 anos). Com a menina já foi diferente porque ia tendo a ajuda da outra avó materna, mas admite que sempre foi fácil partilhar os netos, não se considera uma avó obsessiva.
Em 2006, a neta tinha um aninho e o joão cerca de 6 anos quando o avô foi sujeito a uma operação complicada, foi transplantado no fígado. Aí deixou de trabalhar e ficou em casa para se dedicar a outra profissão: à de avô.

Rodrigo Soares é um apaixonado da bola e desde cedo influenciou os netos nessa paixão, sobretudo o João Tomás que “aprendeu a jogar com a avó, que andava sempre com ele aqui no terraço a jogar contra a parede e a treinar as primeiras fintas” conta entre sorrisos o avô Rodrigo.

Rodrigo ainda o neto tinha 4h de nascimento já o tinha inscrito como sócio do sporting. Desde cedo que o leva ao estádio e agora aos treinos no clube onde joga. “Foi uma paixão que partilámos e ainda partilhamos. É o meu companheiro da bola, antes não tinha com quem ir agora nunca vou sem ele. Tou-lhe sempre a dizer agora é o avô que te leva mas depois quando não puder conduzir tens de ser tu a trazer-me, ele ri-se e prometeu-me que sim, estou para ver”, diz Rodrigo.

João Tomás e Maria Inês são filhos do neto mais novo, que vive perto dos pais. Já o outro filho mais velho vive mais distante, daí os netos (Verónica – neta emprestada e o Joao Vitor de 4 anos) não estarem tanto com os avós. Mas mesmo assim, todas as semanas se vêem e o avô faz de motorista privado quando é preciso.

“Quando os netos começaram a andar na escola já era diferente, vinham almoçar cá a casa, o avô ia busca-los ao fim do dia. A Inês ainda hoje toma o pequeno almoço todos os dias connosco e depois levamo-la à escola. Somos nós que vamos pôr o João aos treinos, aos ensaios da música, às aulas de inglês, levamos a menina ao ballet quando é preciso. Somos cozinheiros, motoristas, assistentes pessoais, tudo o que for preciso. O Tomás todas as sextas vem cá almoçar e ao fim de semana fazem da nossa agenda sempre muito ocupada, entre concertos e jogos não dá para parar” afirma a avó Maria.

Maria lembra-se de jogar à bola com o neto e das sopas de letra que sempre fez com os netos. Ensinou-os a ver as horas, a apertar os sapatos e ajudava em tudo o que era preciso. Tanto Maria como o marido sabem que foram e são uma grande ajuda para os filhos, mas nunca fizeram nada sem a opinião deles.
Hoje em dia têm os dias mais livres, de quando eles eram pequeninos e sentem saudades desses momentos, mas ao mesmo tempo sabem que estão ali tão perto que não dá para sentir falta do amor dos netos. “Tinha a loja e muitas coisas para fazer mas nunca deixei os meus netos, não sei se sou a melhor avó, ou uma grande avó, só eles é que sabem, mas a verdade é que sempre gostaram e gostam de cá estar na nossa casa. Sempre ajudei nos meus filhos no que pude, ajudámos, eu e o meu marido e sei que fomos um papel fundamental na vida deles, como apoio moral e financeiro.” acredita Maria.

Rodrigo diz que como avô tem muito mais paciência do que quando era pai, porque até os disparates dos netos têm graça. “Aturo muito mais tudo dos netos do que dos filhos, é uma paixão diferente, nem maior nem menor. Nós não mandamos neles, só temos as partes boas e estão perto por isso somos uns sortudos.”
Em relação ao Sporting diz que o clube dos netos já estava decidido antes de nascerem, “faz parte da marca da casa”. Rodrigo gosta de ser motorista dos netos e lembra-se com saudade dos jogos que assiste com o João Tomás desde pequeno e das sestas que este dormia consigo no camião, quando trabalhava.

“Uma vez quando ele era pequeno perguntei-lhe o que queria ser quando fosse mais velho, respondeu-me que queria ser avô”, afirma babado.
Durante o fim de semana anda por todo o lado só para os ver e afirma que os netos foram uma grande ajuda a superar a doença e de ter deixado de trabalhar novo, mas com o tempo sempre ocupado com a “luz dos seus olhos”.

Rodrigo gosta de cantar e o fado que mais o marcou e que mais lhe pedem para cantar chama-se “Meu neto, minha raíz” de Eduardo Rodrigues. O avô babado diz que a letra faz-lhe lembrar do melhor da vida, a luz dos seus olhos, os seus netos.


“Meu sonho se realizou, e hoje o homem que sou, sinto alegria não minto, tenho amor e muito afeto para oferecer ao meu neto todo o carinho que sinto… tenho amor e muito afeto para oferecer ao meu neto todo o carinho que sinto (…) Ele é a luz dos meus olhos, neste mundo de escolhos a minha vida lhe dou, eu só espero poder ver ouvi-lo um dia dizer, gosto de ti mêu avô.. eu só espero poder ver ouvi-lo um dia dizer, gosto de ti mêu avô”

Fado: Letra – Francisco Hilário
Música: Pedro Rodrigues