O que são as infecções de transmissão sexual?

As doenças de transmissão sexual, designadas por infecções sexualmente transmissíveis ou IST, são doenças transmitidas por via sexual. Hoje falamos do vírus do papiloma humano, uma das infecções sexualmente transmissíveis mais frequente que atinge homens e mulheres.

 

O que é o HPV?

O HPV (human papiloma vírus) ou vírus do papiloma humano é uma das doenças sexualmente transmissível (DST) mais frequente. De acordo com o estudo “Avaliação da taxa de cobertura nacional do rastreio, oportunista e organizado, do Cancro do Colo do Útero”, apresentado no ano passado pelo Instituto Português de Oncologia, o HPV é responsável por infecções frequentes (cerca de 80% das mulheres são infectadas ao longo da vida), mas a maioria destas infecções regride espontaneamente, sendo que cerca de 10% tornam-se persistentes.

Trata-se de um vírus que infecta os queratinócitos da pele ou mucosas e possui mais de 100 variações. Pode surgir no colo do útero, boca e ânus. A maioria dos subtipos está associada a lesões benignas, tais como verrugas, mas certos tipos são frequentemente encontrados em determinadas neoplasias, como o cancro do colo do útero.

A infecção do HPV traduz-se em condilomas que podem surgir sob duas formas: condilomas planos (mais difíceis de diagnosticar, raramente dão sintomas e aparecem na vagina e colo do útero) ou condilomas acuminados (elevações da pele na mucosa que pode originar pequenas verrugas).

Dados indicam que 70% das mulheres portuguesas já tiveram contacto com o HPV e estima-se que 12,7% estejam infectadas. Portugal apresenta uma das mais elevadas incidências deste cancro na Europa Ocidental, com 17 casos por 100 mil habitantes e cerca de 100 novos doentes diagnosticados em cada ano. Por ano, morrem cerca de 300 portuguesas com cancro de colo do útero.

 

Como se transmite?

A principal via de transmissão são as relações sexuais e raramente através do parto. Muitos estudos admitem a possibilidade de contágio através de toalhas, roupa interior, casas de banho, piscina ou sauna. No entanto, não está comprovado este tipo de transmissão.

 

Como pode ser feito o diagnóstico?

O diagnóstico pode ser feito através da observação direta, da citologia e da colposcopia. A confirmação do diagnóstico é feita através de biopsia que indica se é um vírus de alto ou baixo risco.

Ainda segundo o estudo “Avaliação da taxa de cobertura nacional do rastreio, oportunista e organizado, do Cancro do Colo do Útero”, oito em cada 10 mulheres fazem rastreios regulares do cancro do colo do útero. Esta mesma sondagem alerta para o facto de cerca de 16,8% das mulheres nunca ter feito uma citologia.

Das 800 mulheres inquiridas, com idades entre os 30 e os 60 anos, 83,1% responderam fazer citologias, e destas 93,5% dizem fazê-lo de forma regular. A maioria (59,8%) afirmaram fazer o exame uma vez por ano e 24,8% de dois em dois anos.

Por regiões, é no Algarve que as mulheres menos realizam citologias (61%) e na região norte onde mais dizem fazer o exame (89,8%). Em Lisboa, a percentagem de mulheres que afirmou ter realizado rastreio atinge os 85%, sendo a segunda maior a nível nacional.

 

Qual o tratamento recomendado?

O vírus do HPV pode ser eliminado espontaneamente, sem que a pessoa saiba que estava infectada. O vírus pode estar presente durante alguns anos no colo do útero sem provocar doença.

Existem várias formas de tratamento, mas o objectivo de qualquer um deles é destruir o tecido infectado. No caso de estar perante um carcinoma do colo do útero, o acompanhamento médico é especialmente importante, uma vez que os tratamentos aplicados são mais específicos e rigorosos. No tratamento desta neoplasia estão indicadas terapias multidisciplinares envolvendo a Cirurgia, a Radioterapia e a Quimioterapia.

 

Como prevenir?

Mesmo depois de tratadas, as lesões podem voltar a surgir. Por isso, há que apostar na prevenção que passa por um exame ginecológico anual, vacinação e utilização de preservativo nas relações sexuais.

O famoso exame Papanicolau é o exame citológico de rotina e a forma maneira mais eficaz de detectar as alterações celulares causadas pelo HPV, permitindo assim a intervenção antes da evolução para cancro.

 

HPV e o Plano Nacional de Vacinação em Portugal

O Plano Nacional de Vacinação comtempla a vacina contra o HPV desde 2006. É administrada, gratuitamente, a raparigas a partir dos 13 anos. São comercializados dois tipos de vacina: a tetravalente (contra os tipos 16, 18, 6 e 11) e a bivalente (que atua apenas contra os tipos 16 e 18). Ambas são recomendadas a mulheres que ainda não tenham iniciado a vida sexual, mas qualquer uma pode receber a vacina.

Todavia, a vacina não protege contra a infecção de todos os tipos de HPV, não prevenindo a totalidade dos casos de cancro do colo do útero, nomeadamente cancros anogenitais e verrugas genitais.

A maior incerteza no que respeita à vacina diz respeito à duração da imunidade, uma vez que não é possível comprovar a sua persistência para além de cinco anos.

Segundo um estudo publicado pela Associação Americana para a Investigação sobre o Cancro, a vacina contra o papiloma vírus humano pode proteger simultaneamente todas as regiões que podem ser infetadas pelo vírus (colo do útero, boca e ânus). Já estava provado que a vacina contra o HPV era eficaz em proteger uma determinada região passível de ser infetada, mas não existiam dados sobre a proteção que ela oferecia nas três regiões ao mesmo tempo. Essa eficácia situa-se numa média de 65%.

A eficácia da vacina é mais significativa para mulheres virgens (83%) que, à partida, nunca contactaram com o vírus HPV. Também as mulheres que já estiveram expostas ao vírus permanecem protegidas em 58% dos casos.

Anualmente são diagnosticados em média mil novos casos de cancro do colo do útero em Portugal.

 

HPV nos homens

Quando se fala no vírus HPV pensa-se de imediato na mulher, porque este vírus aumenta o risco de cancro do colo do útero. A verdade é que também pode causar problemas de saúde ao sexo masculino.

 

Nos homens, é mais difícil de detectar a existência de infecção. Tanto o cancro do pénis, quer o anal são raros em homens com um sistema imunitário saudável. Em homens com as defesas comprometidas por doenças como a infecção por VIH/Sida a probabilidade é maior. E cresce mais em homossexuais e bissexuais activos.

 

O mais frequente são as verrugas genitais, erupções na pele que surgem no pénis, testículos, virilhas e ânus. Algumas agrupam-se formando como que uma couve-flor, mas outras são tão discretas que passam despercebidas, confundindo-se com a pele saudável.

 

É recomendada a vacinação nos homens?

A vacinação no homem, embora possa ser efetuada pontualmente por indicação médica, não é recomendada. Se notar verrugas genitais, deve recorrer a uma consulta (médico de família, consulta de infecção de transmissão sexual, urologista); alertar a(o) sua/seu parceira(o), que deverá também ser observada(o) e usar preservativos nas relações sexuais.

 

História do HPV

Os condilomas acuminados, manifestação típica de uma infecção genital por HPV, são conhecidos desde a antiguidade e desde então reconhecidos como uma doença venérea. O termo deriva da junção do termo Latim “condyloma” ou Grego “kondyloma”, que significa tumor duro, e do termo Latim “acuminare”, cujo significado é tornar pontiagudo ou aguçar.

As verrugas genitais (condiloma acuminado) sempre estiveram relacionadas com a área urológica. Durante muito tempo as lesões acuminadas, penianas principalmente, foram o único apanágio dessa família de vírus – os papilomavírus humano (HPV), relacionados com o baixo nível social, com hábitos precários de higiene e, de uma certa maneira, recebendo pouca atenção de urologistas, dermatologistas e venereologistas.

Historicamente, a doença foi reconhecida por Hipócrates (460-377 A.C.) e mais tarde descrita por um historiador romano de nome Martius e desde então foram feitas várias citações nos tratados médicos antigos. Embora gregos e romanos já descrevessem as lesões, as citações na Idade Média eram imprecisas. Durante muito tempo as verrugas foram consideradas doença de homossexuais e eram muitas vezes confundidas com gonorreia ou sífilis, até ao século XVIII.

Foi no século XX que começaram a surgir provas que as verrugas eram causadas por um vírus. Fala-se nomeadamente de um grande pico de transmissão na década de 50, quando os soldados da Guerra da Coreia regressaram e contaminaram as suas esposas, depois de terem mantido relações com mulheres nativas com prevalência de condiloma genital.

A partir da década de 70 começa a associar-se a transmissão do HPV ao aparecimento do cancro do colo do útero e estudos epidemiológicos evidenciaram que a transmissão do HPV ocorria por contacto sexual.

Foi em 1976 que Harald zur Hausen, no Instituto de Virologia Clínica de Erlangen-Nuremberga, na Alemanha, associou o cancro do colo do útero ao vírus do papiloma humano. A descoberta de Hausen permitiu o desenvolvimento da vacina contra o HPV em 2006 e valeu-lhe o Prémio Nobel da Medicina em 2008.

A partir de 1995 o vírus HPV passou também a ser associado a outros casos de cancro, como o cancro peniano ou da faringe. Alguns estudos explicam o aparecimento destes tipos de cancro através do aumento da prática do sexo oral ao longo das últimas décadas.