O mais recente livro de Pedro Strecht é o ensaio “Hiperactividade e défice de atenção”, publicado pela Fundação Manuel dos Santos. Neste livro, Pedro questiona se não estaremos a abusar do rótulo da hiperactividade e a tratar como doença um problema que é das famílias, da escola e da forma como estamos a lidar com o tempo ou a falta dele.

“Estamos a rotular e a medicar em demasia sem tentar outras respostas. Algumas destas crianças até podem precisar de medicação, mas o uso de psicofármacos na infância e na adolescência deve ser o topo da pirâmide”.

Em 2017, foram vendidos mais de 5 milhões de embalagens de psicofármacos destinados a menores de 15 anos em Portugal. É de notar que a população total portuguesa de crianças e adolescentes até essa idade está longe de chegar aos 2 milhões.

Para Pedro Strecht, a “Hiperactividade com Défice de Atenção” pode ter origem em vários fatores ou situações, e alerta para a necessidade de se fazer uma leitura emocional de cada criança ou adolescente.

“Aposta-se na medicação como se fosse algo milagroso, mas não perguntamos aos pais quanto tempo a criança passa na escola. Quanto tempo está em família, se as regras e os limites estão bem estabelecidos”.

Segundo Strecht, o facto de se receitar psicofármacos quando o cérebro ainda está em desenvolvimento pode levar a consequências no domínio das emoções e dos impulsos. Para o pedopsiquiatra, temos, acima de tudo, que perceber cada criança e evitar a consequência mais fácil do rótulo que pode levar a um abandono de investimento naquela criança.

“É um erro pensar que todo o desenvolvimento da infância e da adolescência se faz sem a presença de dificuldades. Quando os miúdos dão as suas chatices, isso é que é normal”.

Tendo em conta as características das sociedades atuais, e de acordo com Pedro Strecht, as crianças devem:

  • Ter mais tempo de tranquilidade e uma relação afetiva com os pais;
  • Ter regras diárias simples;
  • Ter tempo de recreio e espaços livres;
  • Frequentar atividades saudáveis como desportos de grupo ou o contacto regular com a natureza.