A Contra-Revolução
A CONTRA-REVOLUÇAO (I) – Regressar ao passado!
Logo após o 25 de abril os sectores mais à direita da sociedade portuguesa, com ligações ao poder político derrubado e aos grupos económicos, organizaram-se em projetos de partidos políticos que tiveram vida efémera. Todos afirmavam defender a democracia e acolheram-se à proteção do general Spínola. Estiveram na organização da manifestação da Maioria Silenciosa, que encobria um golpe palaciano destinado a reforçar os poderes do general e a promover a independência de Angola no quadro que Spínola definira no seu livro “Portugal e o Futuro”, como parte de uma comunidade portuguesa. Após o 28 de Setembro esses grupos dissolveram-se e uma parte dos seus membros deslocou-se para Espanha, instalando aí o seu quartel-general, com o apoio dos setores falangistas do regime de Franco e também dos serviços secretos franceses.
O Exército de Libertação de Portugal foi a primeira dessas organizações a constituir-se formalmente em 6 de janeiro de 1975. Surgiu como o braço armado das organizações mais radicais de oposição ao processo político desencadeado a 25 de abril. Ao longo do PREC as ações do ELP e do MDLP confundem-se e os dois movimentos sobrepõem-se conseguindo as mesmas cumplicidades e fontes de financiamento.
O 11 de março fará chegar a Madrid os militares ligados a Spínola, reforçando o contingente de oposicionistas que já ali se encontravam, a partir dos quais se constituirá o MDLP, formalmente a partir do dia 5 de maio de 1975. Este movimento tinha duas componentes, uma militar em que participavam sobretudo os oficiais ligados ao general Spínola e que o acompanharam depois do 11 de Março e outra civil encarregada dos estudos de natureza política.
A estrutura central do MDLP foi sempre crescendo com a adesão de mais simpatizantes e, de início, não lhe faltou apoio financeiro. O problema principal da organização prendia-se com a realização de acções concretas em território português, o que foi sempre muito complicado, apesar dos apoios que conseguiu da Igreja e de caciques do Norte do país.
Outras organizações estiveram também activas, como a chamada “Maria da Fonte”, cujo epicentro se situou na Igreja de Braga e dali se espalhou para várias regiões do Norte e do Centro do país. O seu objectivo, assumido mais tarde pelos seus dirigentes, como Paradela de Abreu, seria o de “preparar o povo para a guerra civil”. Eles esperavam ter uma palavra a dizer, não apenas nas acções da contra-revolução, mas também na solução que viesse a ser encontrada depois da derrota das forças de esquerda. Foi também esta organização que esteve por detrás dos assaltos às sedes dos partidos de esquerda, durante o Verão de 1975, embora algumas destas acções tivessem sido atribuídas ao Exército de Libertação de Portugal. A primeira destas acções será a 26 de maio com o assalto à sede do MDP/CDE em Bragança, movimento que continuou, com mais de cem sedes assaltadas, 30 das quais atribuídas ao ELP.
No contexto de aprofundamento da revolução, a contra-revolução ganhou novos adeptos e os grupos que a promoveram ganharam capacidade de movimento e de mobilização de recursos e de apoios. Ninguém ficou à margem dos confrontos que todos os dias surgiam em várias cidades e outros locais a Norte do Tejo. A Igreja desempenhou um papel determinante no apoio a estes movimentos contra-revolucionários, em especial a partir da diocese de Braga, com o empenho pessoal do célebre cónego Melo. O anticomunismo foi-se instalando progressivamente em amplos sectores no Norte e Centro do país, alimentado também pela Igreja e habilmente utilizado pelas organizações que se propunham incendiar o país, aniquilar as organizações de esquerda e implantar um novo poder em Portugal.
Fonte: Aniceto Afonso, Carlos Matos Gomes e Maria Inácia Rezola
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