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Dia Mundial do Teatro

Foto: Pedro Pina

A propósito do Dia Mundial do Teatro, que se celebra a 27 de Março, o Domínio Público apresenta ao longo desta semana uma homenagem aos actores, mas também ao poder da voz e das palavras. A Antena 3 convidou 4 actores para declamarem letras de canções portuguesas da cultura pop e que podem ser ouvidas diariamente no Domínio Público, entre as 12h e as 13h. Albano Jerónimo, Maria Rueff, Catarina Wallenstein e Olinda Favas são os actores convidados.

 

Albano Jerónimo

albano

Albano Jerónimo nasceu em Lisboa e faz televisão desde 2003, mas também o vemos nos palcos dos teatros nacionais. Actualmente, entre outros projectos televisivos, Albano Jerónimo dá vida a uma das personagens da peça Águas Profundas +Terminal de Aeroporto. Uma produção do Teatro Nacional São João, no Porto, que tem estreia nacional dia 24 de Março.

Albano Jerónimo declama “Mata-me outra Vez”, dos Ornatos Violeta

 

Letra

Fala-me um pouco mais
Era tão bom ficar
O mal é que eu já não sei quem eu sou
Eu não sei se eu sou capaz
De me ouvir
Fala-me um pouco mais
Era tão bom subir
E dar o que eu nunca dei a ninguém
Sei que é bom teu travo a tudo
O que é mortal

Já agora,
Mata-me outra vez
Era tão bom direi
Mata-me outra vez
Era tão bom direi
Mata-me outra vez
Mata-me outra vez

Tudo tem um fim
E aqui não há
Ninguém que possa ter o mundo
Para dar
Se um dia voltar
Vai ser só mais uma forma
De me ausentar
Daquilo em que eu não
Quero pensar
Já tudo teve um fim
Já que eu
Estou por cá
Eu digo como é fácil
Para mim se já não dá
Sei que é bom teu travo a tudo
O que é mortal

Já agora,
Mata-me outra vez
Era tão bom direi
Mata-me outra vez
Era tão bom direi
Mata-me outra vez
Mata-me outra vez

Páro de andar
Páro p’ra te ouvir
Páro para ver se é bom p’ra mim
Se é melhor só que uma vida
Tão só e prenha de ninguém
E vejo que é bom dizer,
Páro p’ra te ouvir
Mas foi só
Para ver
Se o futuro é para nós
Para quem tem o mesmo mal de
Não saber amar
Falo que
Pensar em mim
É cura e faz-me acordar.
Ou dormir

Fala-me um pouco mais
Era tão bom subir
E dar o que eu nunca dei a ninguém
Sei que é bom teu travo a tudo
O que é mortal

Já agora,
Mata-me outra vez
Era tão bom direi
Mata-me outra vez
Era tão bom direi
Mata-me outra vez

Albano Jerónimo declama “Beijos e Papas de Leite”, de Jorge Palma

Letra

Ela dá-me beijos
E papas de leite
Faz-me um chapeuzinho
Com as nuvens do céu

Põe na minha boca
A cara de seda
E canta comigo
Para eu não chorar

Não chores, não chores
Com os olhos em mim
Toma mel, menininha
E a tua boneca
Peço a deus arco-íris
No céu para ti
E solinho para sempre

Ela abraça-se a mim
Em noites sem sono
Ela tem de chorar
Com as dores de crescer

Que sonhos terá
Nas primeiras noite
Quando me chamar
Pelo nome dela?

Eu vou dar-te beijos e papas de leite
Muitos mimos e doces para comprares por ti
Hás-de rir pela rua
Mais alto que eu
A crescer sozinho

Ela dá-me beijos
E papas de leite
E boas razões
Para me ter nascido

E a nossa cara
Com lustro de seda
Até se fanar
Até se fanar

Maria Rueff

maria rueff

Actriz e humorista, Maria Rueff faz televisão desde o início dos anos 90, mas é em todas as plataformas que se exprime. Na versatilidade dos palcos dos teatros, nas telas de cinema ou ainda nas rubricas da rádio, Maria Rueff é uma referência da sua geração. Maria Rueff tem levado aos palcos do país a peça “António e Maria” numa produção do Teatro Meridional, que mergulha na obra e no universo do escritor e psiquiatra António Lobo Antunes.

Maria Rueff declama “Movimento Perpétuo Associativo”, dos Deolinda

Letra

Agora sim, damos a volta a isto
Agora sim, há pernas para andar
Agora sim, eu sinto o optimismo
Vamos em frente, ninguém nos vai parar
Agora não, que é hora do almoço
Agora não, que é hora do jantar
Agora não, que eu acho que não posso
Amanhã vou trabalhar
Agora sim, temos a força toda
Agora sim, há fé neste querer
Agora sim, só vejo gente boa
Vamos em frente e havemos de vencer

Agora não, que me dói a barriga
Agora não, dizem que vai chover
Agora não, que joga o Benfica
E eu tenho mais que fazer
Agora sim, cantamos com vontade
Agora sim, eu sinto a união
Agora sim, já ouço a liberdade
Vamos em frente, e é esta a direcção
Agora não, que falta um impresso
Agora não, que o meu pai não quer
Agora não, que há engarrafamentos
Vão sem mim, que eu vou lá ter

Catarina Wallenstein

catarina

Catarina Wallenstein nasceu em Londres em 1986. Viveu em Paris e lá recebeu formação musical. Posteriormente, em Lisboa, começou a trabalhar enquanto actriz na televisão, em 2004 e licenciou-se em teatro. Nos últimos tempos, Catarina Wallenstein tem estado no palco com a peça “Doce Pássaro da Juventude”, de Tennessee Williams, no Teatro São Luiz, numa produção dos Artistas Unidos.

Catarina Wallenstein declama “Teimoso”, de Samuel Úria

Letra

Eu nunca fui do prog-rock
Eu já nasci depois do prec
Tarde demais para o proto-punk
Branco demais para ser do rap

Eu nunca fui do prog-rock
Sou neo-retro-redneck
Nasci num antro só de enters
Já nem sei carregar num rec

Eu nunca fui do prog-rock
Só se o prog-rock for o Beck
Nasci quando o bob renasceu
E o Tom gravou o “Heartattack”

Eu nunca fui do prog-rock
Já nem sei carregar num rec
Rewind-core para os meus ouvidos
Fast-forwards fora do meu leque
Teimoso que nem um moleque


Catarina Wallenstein declama “Vida de Escorpião”, de Luís Severo

Letra

Nesta minha vida agitada

Nem tudo foi bem fantasia

Filmes de anjo contos de faca

Lembrado parece mentira

Desde o berço fui o mais novo

Nunca pude ser muito menino

Não sou burguês nem do povo

Eu hem sei se tenho destino

Eu não sou de ninguém

Contei sem mão já tanta lição

Para agora só ter vida de escorpião

Eu acho que nem tu sabes

O que é verdade ou mentira

Vai lá ver dos teus rapazes

Se eu quiser passo na romaria

Mas eu nem preciso de te ver

Pra saber que é um não

Se eu quisesse assim tanto sofrer

Bastava-me olhar pró coração

Eu não sou de ninguém

Contei sem mão já tanta lição

Para agora só ter vida de escorpião

Vem esta dor que me cala

É da primavera ou de mim

Volta o verão e se ele acaba

Já nem lhe canto o fim

Aprendi a ser nada a perder

Com quem me levou o chão

E ainda há quem me dê de beber

Na casa do escorpião

Eu não sou de ninguém

Contei sem mão já tanta lição

Para agora só ter vida de escorpião

Olinda Favas

olinda

Olinda Favas nasceu e vive no Porto. Estudou teatro na Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo do Porto e actualmente contracena com Albano Jerónimo na nova aposta do Teatro Nacional São João, a peça “Águas Profundas + Terminal de Aeroporto”, com estreia nacional marcada para dia 24 de Março.

Olinda Favas declama “Todagente”, dos Da Weasel

Letra

Toda a gente critica o telemóvel do vizinho

Mas no fundo toda a gente queria ter um igualzinho

Toda a gente grita: todos diferentes todos iguais

Mas se calhar há uns quantos bacanos a mais

Toda a gente quer ser solidária

Mas na hora da verdade toda a gente desaparece da área

Toda a gente quer ser muito moderna

Mas a tacanhez essa há-de ser eterna

Toda a gente quer fazer algo de original

Acabando por copiar aquilo que acham original

Toda a gente repara que acabo duas frases da mesma maneira

(se for esse o caso toda a gente caiu na ratoeira)

Apenas quero confirmar se estou a receber a devida atenção

Da parte de toda a gente que ouve essa canção

Toda a gente precisa de parar e relaxar um bocado

E eu, como toda a gente, já ’tou stressado

Pego no microfone e faço disso o meu talento

Por fora, por dentro, mostrando o meu rebento

Superficial, composto, directo e indirecto

Tá-se cool e tá-se bem

Entrega-te ao meu som é agora o que convém

Toda a gente critica

Toda a gente tem muita pica,

Mas é na mesa do café que toda a acção fica,

Não há dinheiro que pague este sozinho…

Manda mas é vir mais um cafézinho

Toda a gente até compra camisa

Mas dessa treta ao fim ao cabo já ninguém precisa

Toda a gente fala da situação em Timor

Muitos para ganharem algo e muito poucos por amor

Há quem costume falar de revolução

Mas a revolução não vai ser transmitida na televisão

Ela tem que acontecer dentro de cada um

Caso contrário nunca chegaremos a lugar algum

Há quem queira resolver os problemas do mundo inteiro

De uma só vez, confiante, tal e qual um bom escuteiro

Mas enquanto se perseguem tão nobres ideais

Esquecemo-nos de limpar os nossos quintais

Tentamos combater todos os males da terra

Quando afinal é na nossa casa que começa a guerra

Toda a gente devia parar de falar olhar para dentro e agir

Virgul, dá-lhe a seguir


Olinda Favas declama “Espalhem a Notícia”, de Sérgio Godinho

Letra

Espalhem a notícia

Do mistério da delícia

Desse ventre

Espalhem a notícia do que é quente

E se parece

Com o que é firme e com o que é vago

Esse ventre que eu afago

Que eu bebia de um só trago

Se pudesse

Divulguem o encanto

Do ventre de que canto

Que hoje toco

A pele onde à tardinha desemboco

Tão cansado

Esse ventre vagabundo

Que foi rente e foi fecundo

Que eu bebia até ao fundo

Saciado

Eu fui ao fim do mundo

Eu vou ao fundo de mim

Vou ao fundo do mar

Vou ao fundo do mar

No corpo de uma mulher

Vou ao fundo do mar

No corpo de uma mulher bonita

A terra tremeu ontem

Não mais do que anteontem

Pressenti-o

O ventre de que falo como um rio

Transbordou

E o tremor que anunciava

Era fogo e era lava

Era a terra que abalava

No que sou

Depois de entre os escombros

Ergueram-se dois ombros

Num murmúrio

E o sol, como é costume, foi um augúrio

De bonança

Sãos e salvos, felizmente

E como o riso vem ao ventre

Assim veio de repente

Uma criança

Eu fui ao fim do mundo

Eu vou ao fundo de mim

Vou ao fundo do mar

Vou ao fundo do mar

No corpo de uma mulher

Vou ao fundo do mar

No corpo de uma mulher bonita

Falei-vos desse ventre

Quem quiser que acrescente

Da sua lavra

Que a bom entendedor meia palavra

Basta, é só

Adivinhar o que há mais

Os segredos dos locais

Que no fundo são iguais

Em todos nós

Eu fui ao fim do mundo

Eu vou ao fundo do mim

Vou ao fundo do mar

Vou ao fundo do mar

No corpo de uma mulher

Vou ao fundo do mar

No corpo de uma mulher bonita