Punk 1977 – 2017

Xutos & Pontapés – Sémen

Ao longo do ano, a Antena 3 vai revisitar o punk, canção por canção. Revisitar não só o punk, que eclodiu em Inglaterra há quatro décadas, mas também descobrir, lá atrás no tempo, aqueles que o prenunciaram quando punk não era ainda género musical e, um pouco depois desse tempo, aqueles que dele frutificaram.

 

Xutos & Pontapés – “Sémen”

Um pequeno balneário do Pedrouços Atlético Clube. Tim em cima dos bancos dos jogadores com os  cabides a pender ali perto. Zé Pedro enfiado no chuveiro, Kalú e Zé Leonel nas proximidades daquele espaço exíguo. Estávamos em Agosto de 1981 e os Xutos & Pontapés preparavam-se para gravar nas instalações do clube de Belém a cassete que António Sérgio ouviria pouco tempo depois. António Sérgio, o grande e primeiro divulgador do punk em Portugal, homem da rádio e homem de acção que, além de dar voz a programas históricos como Rotação ou Rolls Rocker, pusera nas ruas a colectânea pirata Punk Rock 77 e se preparava para inaugurar uma editora para dar voz a bandas que representassem um novo fôlego, um novo pulsar. Bandas como os Xutos & Pontapés.

Quatro anos antes, Zé Pedro saíra do festival de Mont-de-Marsan, em França, com o som dos Clash e dos Damned a zumbir-lhe nos ouvidos – Kalú também lá esteve – e chegara a Portugal com um alfinete espetado na boca. Dois anos antes, em Janeiro de 1979, os Xutos & Pontapés mostravam nos Alunos de Apolo, em dez minutos iniciados às três da manhã e depois da actuação dos pioneiros do punk português, os Faíscas, que o caminho do rock’n’roll era em frente e não ficar parado na berma da estrada a olhar para trás. A esse primeiro concerto seguiram-se muitos outros. A banda aprimorava o som e afiava a linguagem.

No balneário do Pedrouços Atlético Clube, em Agosto de 1981 o som tornou-se fita de cassete. António Sérgio ouviu-a e percebeu instantaneamente. Em Novembro, Zé Leonel saído da banda, Tim tornado vocalista, Francis recrutado para a guitarra, os Xutos & Pontapés gravam o primeiro single. Em Dezembro, a editora que o financiara, a Rotação, punha o 45” nas lojas. No lado B, “Quero mais”, no lado A, “Sémen”. Os ecos dos Clash a transformarem-se em expressão portuguesa. Os Xutos a deixaram a primeira marca, provocadora e excitante, indelével.


Ficha Técnica:

Texto – Mário Lopes
Voz – Daniel Belo
Sonoplastia – Luís Franjoso