Punk 1977 – 2017

The Sonics – Psycho

Ao longo do ano, a Antena 3 vai revisitar o punk, canção por canção. Revisitar não só o punk, que eclodiu em Inglaterra há quatro décadas, mas também descobrir, lá atrás no tempo, aqueles que o prenunciaram quando punk não era ainda género musical e, um pouco depois desse tempo, aqueles que dele frutificaram. Revisitar desviando também o olhar para outras áreas do globo. Para sítios como Portugal? Que pergunta. Claro que sim. “Há que violentar o sistema”, não é?”


 


The Sonics – Psycho

Quando os Sonics nasceram em Tacoma, Washington, em 1960, “punk” era apenas um substantivo aplicado a rufiões e sabidões da vida, que os escritores da beat generation gostavam muito de utilizar. Mas, se há punk antes do punk, os Sonics estão na linha da frente. Eram uma banda de garagem que ganhou fama local pelos concertos enérgicos e caóticos, sem pachorra para cortesia e bom comportamento. Os discos que nos deixaram não só mostram o que deveriam ser esses míticos concertos como serviram de combustível, anos depois, para a geração que criou o punk nos dois lados do Atlântico.

Com um vocalista, Gerry Roslie, incapaz de baixar da alta voltagem, com um baterista trovejante, o incomparável Bob Bennett, com um saxofonista, Bob Lind, que fazia do instrumento um fuzil rock’n’roll de pontaria afinadíssima, e dois irmãos, Andy e Larry Paripa, a completar a formação, os Sonics criaram alguma da música mais selvagem que os anos 1960 nos legaram (e para além deles). As versões que compunham parte do seu alinhamento transformavam o rock’n’roll de Bo Diddley ou Little Richard num som cru e primitivo a que gerações seguintes, até hoje, foram beber como inspiração. Os seus originais não se desviavam dessa linha.

Cantavam sobre bruxaria e drogaria, trocavam as voltas às assombrações do blues e punham neuroses e paranóia no seu lugar. Eram como se fixassem o olhar em nós e nos berrassem aos ouvidos enquanto nós, surpreendidos, inspirados, vagamente assustados, lhes devolvíamos o olhar. “The Witch”, é um clássico do garage rock e a versão de “I’m a Man”, de Bo Diddley, um portento de energia rhythm’n’blues. “Strychnine” é indispensável em qualquer colecção rock’n’roll. E depois há “Psycho”. É a canção que resume, em som e título, o que foram os Sonics. Foram mesmo punk antes do punk? Depois de os ouvir, essa pergunta fica no limite do insulto.


Ficha Técnica:

Textos – Mário Lopes
Voz – Daniel Belo
Sonoplastia – Luís Franjoso