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Musicais da Broadway para as salas

Mesmo ainda sem datas confirmadas, o cinema americano parece mergulhar de cabeça nos musicais, com preferência para os da Broadway. Rui Pedro Tendinha investigou e percebeu que, da Netflix à HBO, passando por MGM, Universal, Warner e Sony, todos estão nessa jogada.

 

Há uma leva de musicais fortes este ano? Hollywood continua a acreditar que biopics de cantores e musicais baseados em sucessos da Broadway e do West End são receita garantida, mas com o efeito da pandemia começam a surgir as primeiras vítimas. Ao Ritmo de Washington Heights, de Jon Chu, a partir do musical da Broadway de Lin-Manuel Miranda, já foi adiado. Esta era uma das grandes apostas da Warner, um filme de grande orçamento que celebrava a cultura hispânica em Nova Iorque.

 

Por agora, está ainda confirmada a biografia de Aretha Franklin, Respect, de Liesl Tommy, feita quase exclusivamente para homenagear a memória da rainha da soul. Jennifer Hudson foi a escolhida para dar vida a Aretha, e, pelas primeiras imagens, há quem acredite já que pode sonhar com o Óscar.

Também na calha para um presente de Natal para os cinéfilos está West Side Story, de Steven Spielberg, a partir do musical de Arthur Laurents, que por sua vez já era uma versão musical de Romeu e Julieta. Tal como no filme de 1961, de Jerome Robbins e Robert Wise, Spielberg respeita o imaginário dos anos 1950 em Nova Iorque e o preconceito racial da época. Para já, ainda não há nenhum trailer ou teaser do filme, mas sabe-se que o argumento de Tony Kusher pode ter um ímpeto político sobre a atual política xenófoba do regime de Donald Trump.

 

Sem data nesta altura de carrossel das datas de lançamentos, estão também Everybody’s Talking About Jamie, de Jonathan Butterell, e Stardust, de Gabriel Range. O primeiro é a adaptação de Jamie, musical do West End em que se conta a história de um adolescente que num meio socioeconómico desfavorável na Inglaterra profunda decide celebrar o seu desejo de ser drag queen. O nome mais conhecido do elenco é Richard E. Grant, o mentor queer de Jamie. Mas é de Stardust, já adquirido em Portugal, que muitos falam. Trata-se de uma biografia não autorizada de David Bowie, mais concretamente a sua primeira viagem aos EUA e aquele momento preciso em que decide criar Ziggy Stardust. O primeiro clipe do filme já anda pela net e não tem entusiasmado os fãs do camaleão, mesmo apesar de Johnny Flynn, o ator que lhe dá corpo, estar agora muito na moda devido a Emma e Besta.

Seja como for, será mesmo em 2021 e 2022 que a euforia dos musicais se vai fazer sentir mais, especialmente através da reimaginação de êxitos da Broadway. Espera-se que, por exemplo, Tick, Tick… Boom!, de Lin-Manuel Miranda, não veja a sua pós-produção atrasada devida ao vírus. O musical é baseado na vida artística do compositor Jonathan Larson e tem nos principais papéis gente como Lin-Manuel Miranda e Vanessa Hudgens. Lin-Manuel Miranda será também o protagonista de Hamilton, o musical que adapta o seu próprio sucesso da Broadway. O ator de O Regresso de Mary Poppins está omnipresente nesta fase…

A Netlix também já está a investir milhões nos musicais. Na forja está The Prom, a história de um baile de formatura e do preconceito em relação a um casal de namoradas. Um dos experts do entretenimento LGBT, Ryan Murphy, assina a realização de um espetáculo que pode chegar aos Óscares e em que Meryl Streep, Nicole Kidman e James Corden cabem no elenco. Prevê-se que seja realmente uma festa. Igualmente da Netflix, está já nos preparativos uma versão do musical do West End Matilda. Matthew Warchus será o realizador, e sabe-se que Ralph Fiennes terá o papel principal… feminino!

A Disney, por seu turno, tem no catálogo a versão em carne, osso e digital de A Pequena Sereia, desta vez pela mão do realizador de Chicago, o especialista em musicais Rob Marshall. Sabe-se que, para além da recriação dos clássicos de Alan Menken e Howard Ashman, estão garantidas canções novas do inevitável Lin-Manuel Miranda… A protagonista é Halle Bailey, uma Ariel nada ruiva…

A HBO também não foge à norma, e há luz verde para American Idiot, a versão para o cinema (neste caso, para o streaming) do disco dos Green Day. Billy Joe Armstrong, o vocalista da banda, será o protagonista, e a ação seguirá o libreto do musical da Broadway.

Na fase de desenvolvimento, está o mais queer dos musicais: Bare: A Pop Opera, um festim pop de Kristi Hanggi e outra adaptação de um êxito da Broadway que encenava a luta pelo orgulho de dois alunos gay numa escola católica.

Tom Hanks e a Sony não querem também ficar de fora desta onda e estão a desenvolver Beautiful: The Carole King Story, baseado no musical que mostrava a ascensão da cantora americana. Para já, o filme, que será dirigido por Douglas McGrath (Ema), ainda não tem elenco escolhido.

Por seu turno, a Warner quer continuar a adaptar musicais. O mesmo estúdio que nos trouxe nos anos 80 A Cor Púrpura, de Steven Spielberg, já anunciou a intenção de adaptar o musical inspirado nesta história de escravatura. O projeto ainda não tem atores nem realizador confirmado. Pode ser uma armadilha colocar canções como pano de fundo de uma história de abuso sexual…

Guys and Dolls, que em 1955 já tinha dado um filme com Marlon Brando e Frank Sinatra, cortesia de Mankiewicz, está já na “pipeline” da TriStar. Por esta altura, ainda não se sabem nomes envolvidos. É um daqueles casos de desejo de executivo de estúdio e pode inclusive nem acontecer, tal como Mean Girls, uma versão musical do filme de 2004 com o mesmo nome. A Paramount e a criadora do projeto, Tina Fey, estão envolvidas. Em 2018, a versão musical do filme na Broadway foi um sucesso de todo o tamanho…

A lista continua e tem também a possibilidade de finalmente Porgy and Bess ter uma nova versão para cinema. O velhinho musical de Ira e George Gershwin a partir da ópera de DuBose e Dorothy Heyward será adaptado por Dee Rees, cineasta afro-americana muito protegida. Resta saber como tornar atraente para as novas gerações um musical pensado para outros tempos…

Glenn Close é a estrela de outro projeto com valores clássicos: uma nova versão de Crepúsculo dos Deuses. Este novo Sunset Boulevard é mais uma versão do musical de Chistopher Hampton do que uma versão do filme de Billy Wilder. Está ainda em fase de pré-produção.

Por fim, grande expectativa para ver Beanie Feldstein, atriz da moda, nomeada nos Golden Globes, no musical de culto Merrily We Roll Along, de Richard Linklater, a história de um mago da Broadway que é tentado por Hollywood. Poderá ser um dos filmes que foi interrompido pela atual paragem global…

 

Enquanto isso, mal os cinemas reabram, está previsto o regresso das Doce, neste caso numa biografia de Patrícia Sequeira sobre os primeiros anos do primeiro girl group nacional. Bem Bom teve a anuência do criador das Doce, Tozé Brito, e o elenco tem gente como José Mata, Ana Marta Ferreira ou Lia Carvalho. Se for bem promovido, poderá ser um fenómeno de simpatia ao nível de Variações, o grande sucesso de 2019…