Poder Soul

28 de Dezembro – 1 de Janeiro

Pedro Tenreiro desenterra os tesouros perdidos da idade do ouro da música negra, de segunda a sexta-feira, pelas 16h20, na Antena 3.

Ted Ford – Real Soul (Budd) 1970 (28 de Dezembro)

Nascido Horace Henry Ellis em Montgomery, capital do Alabama, Ted Ford viu a sua irregular carreira discográfica iniciar-se à custa de abrir um concerto local para o seu ídolo Joe Tex.

Apesar de ter estado em constante actividade, entre a segunda metade dos 60 e o fim dos 70, de ter suscitado o interesse da Atlantic, de ter gravado material, que nunca veria a luz do dia, com Willie Mitchell e de ter acabado em L.A. na companhia de gente como Bobby Womack e Fred Wesley, Ted Ford acabou por editar apenas uma mão cheia de sete polegadas.

“Real soul”, gravado em 1970 para um pequeno selo da sua terra natal – Budd – é um extraordinário e contagiante exercício Funk, que, garantidamente, incendeia qualquer pista de dança.

Ted Ford

Key ‘n’ Cleary with The Chosen Few Band – What it takes to live (Buffalo’s Reflection) 1976 (29 de Dezembro)

Gravada em 1976, na cidade de Buffalo, no estado de Nova Iorque, esta obra-prima é apenas uma das faces visíveis da actividade social e criativa dos amigos, Jessie e Syl, em prol do enriquecimento cultural da sua comunidade.

Talvez por isso mesmo, o seu destino foi, tal como o das centenas de cassetes de debates que gravaram, dos fictícios spots publicitários que produziram e dos outros singles que editaram, o esquecimento.

Keb Darge encarregou-se que descobrir “What it takes to live” a meio dos anos 90 e de o transformar num tema de culto das cenas Funk e Modern Soul e, mais recentemente, a Soul Cal fez questão de não lhe permitir voltar ao esquecimento ao incluir esta canção imortal no leque de re-edições que a têm destinguido.

Key'n'Cleary

Ricky Allen – Cut you lose (Tam-Boo) 196? (30 de Dezembro)

Nascido em Nashville, Ricky Allen fez toda a sua carreira discográfica em Chicago, durante a década de 60, onde gravou um número apreciável de singles para editoras como a Age, a U.S.A., a Bright Star e a 4 Brothers.

Embora nunca tenha conhecido o verdadeiro êxito, Ricky Allen é, sem dúvida, uma das vozes incontornáveis da Soul dos 60, que conta com um sem número de grandes canções na sua curta discografia e cujo destino deveria ter sido outro.

“Cut you lose”, editado inicialmente pela Age, em 1963, foi o seu tema mais bem sucedido.

Talvez por isso Ricky Allen o tenha regravado, alguns anos mais tarde, para a Tam-Boo, numa versão em que as suas raízes Rhythm & Blues davam lugar ao ritmo mais moderno do Funk. Este sete-polegadas viria a transformar-se num objecto de culto, disputado entre os mais ambiciosos Djs e colecionadores.

Ricky Allen

Pamoja – Oooh, baby (Keiper Production) 1975 (31 de Dezembro)

Um dos projectos de culto de Keith Stevens, Pamoja, grupo que dividia com a mulher, apenas editou este single, na sua Keiper Production, em 1975.

Apesar de “Oooh baby” ser uma extraordinária canção, muito à frente do seu tempo, que viria a transformar-se num hino da cena Soul actual, Keith Stevens nunca teve reconhecimento fora da sua cidade natal – Chicago.

Em 1980, Stevens formou, com Oliver Miller, os Jewel, para gravar, novamente por conta própria, “Paradise”, outro disco altamente colecionável, que lhe valeu um contrato com a Erect que, depois de editar um albúm e um 12 polegadas, abandonou o duo.

Há alguns anos, as duas canções bandeira de Keith Stevens foram reunidas num single da Lotus Land, de Andy Noble, que hoje troca de mãos por preços invulgarmente altos para uma re-edição, tal é a raridade das “bombas” que contem.

Pamoja

Mighty Lovers – Ain’t gonna run no more (Soulhawk) 1968 (1 de Janeiro)

Os Mighty Lovers são, aparentemente, uma segunda encarnação dos Ideals, grupo de Chicago que goza de um estatuto de culto na cena Mod, com quem “partilham” “Mighty lover”, single editado duas vezes pela Boo-Ga-Loo, em ambos os nomes.

“Ain’t gonna run no more”, o seu derradeiro e supremo momento, foi gravado, em Chicago, por Richard “Popcorn” Willie e editado na sua editora de culto, representante maior da Soul alternativa de Detroit, a Soul Hawk.

Durante décadas foi uma das canções subvalorizadas da mais ortodoxa cena Northern Soul, mas a procura de novos caminhos, que viriam a passar por uma maior influência do Funk no som que mais estimula as pistas actuais, valeu-lhe um outro estatuto e consequente raridade.

Foi, este ano, re-editada pela Soul Junction, tornando-se acessível a todos.

Mighty Lovers