• Poder Soul

    25 maio 2020 – 29 maio 2020

    Segunda-feira

    Camille Yarbrough

    Take yo’ praise

    Vanguard

    Quando a maior parte das pessoas ouve aquele inconfundível sample de voz, no hit de Fatboy Slim – “Praise you” – estará longe de imaginar que está perante uma autêntica lenda da moderna cultura Afro-Americana, uma mulher com um enorme talento, que se reflectiu, e continua a reflectir, em diversos campos.

    Activista, bailarina, actriz, cantora, poeta, escritora e professora, Camille Yarbrough nasceu em Chicago, em 1938.

    Cresceu cercada pelos Blues e foi a música que a atraíu até ao Centro Comunitário onde começou a aprender a dançar, a primeira expressão artistíca que abraçou e que a levou até Nova Iorque e à Broadway.

    Mantendo-se sempre fiel à exaltação da cultura Afro-Americana, abraçando a luta contra o racismo, que também se fazia sentir fortemente no mundo artístico, e pelo direitos cívicos da comunidade negra, viria a participar em várias séries televisivas e até a ter um pequeno papel em “Shaft”, como irmã do carismático detective.

    Depois de ter tido problemas de saúde, começou a escrever a poesia e as canções que acabariam por ser gravadas em “The iron pot cooker”, o primeiro dos seus dois álbuns, um disco que pretendia perpetuar o espectáculo de spoken-word que, desde 1973, levava ao palco do La MaMa Experimental Theatre Club.

    Gravada em 75 e produzida por Ed Bland, depois de ter trabalhado com nomes como The Pazant Brothers, Betty Barney ou Dizzy Gillespie – “Take yo’ praise” – é a canção mais conhecida desse grande Lp, que para muitos, é percursor do rap. 

    Uma obra-prima Funky Soul que retrata, na perfeição, o génio desta mulher que, nas últimas décadas, se tem dedicado à escrita, ao ensino universitário e à produção de eventos em que se celebra a herança cultural e artística da comunidade negra norte-americana e as suas raízes africanas.

     

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  • Poder Soul

    25 maio 2020 – 29 maio 2020

    Terça-feira

    Oliver Sain

    Bus stop

    Abet

    Oliver Sain nasceu em Dundee, no Mississippi, em 1932.

    Começou por tocar trompete e bateria, ainda criança, e, em 1949, mudou-se para Greenville, para se juntar ao seu padrasto, o pianista Willie Love, como baterista da banda de Sonny Boy Williamson, antes de ser ser recrutado por Howlin’ Wolf, com quem tocou, até ser mobilizado para a Guerra da Coreia.

    Depois de regressar aos Estados Unidos, fixou-se em Chicago, trocou a bateria pelo saxofone, tornou-se director músical de Little Milton, com quem formaria os Earthworms, descobriu talentos como Fontella Bass, e colaborou regularmente com a Chess, produzindo discos de nomes como Bobby McClure, Charles Drain ou The Eddie Fisher Quintet.

    Em 65, fez de St. Louis a sua base de operações, montando os Archway Studios e criando a Vanessa Records, independente que foi crucial para a cena Soul local.

    Entre 62 e 81, gravou quatro Lps e mais de uma dezena de singles, para a Bobbin e a A-bet, entre os quais se encontram vários clássicos Rare Groove, para além de ter assinado um colecionável álbum Disco Soul, como The 13th Floor, na Blue Candle, de Henry Stone.

    Editado em 74, em sete-polegadas e como tema de abertura de um longa-duração, com o mesmo nome – “Bus stop” – é um dos seus momentos de eleição.

    Um musculado instrumental Funk, onde a potência do seu sax divaga sobre um Groove percussivo e, extremamente, preciso, que soa hoje tão estimulante como quando foi registado e está à distância de uma bagatela de qualquer coleção que se preze.

     

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  • Poder Soul

    25 maio 2020 – 29 maio 2020

    Quarta-feira

    Eumir Deodato

    Arranha céu

    Equipe

    Por razões inversas às habituais, na grande maioria dos episódios do Poder Soul, não é nada fácil escrever sobre álguem,  cuja obra tem o alcance a a importância da de Eumir Deodato.

    É que este espantoso músico, compositor, arranjador e produtor, nascido no Rio de Janeiro, em 1942, tem uma longa e marcante carreira, que se cruza com alguns dos nomes maiores da música popular, das últimas seis décadas, que vão do Tom Jobim ou da Roberta Flack até à Bjork, passando pelos Kool + The Gang.

    Começou o seu percurso no fim dos anos 50, em pleno advento da Bossa Nova, ao lado de Roberto Menescal e Durval Ferreira mostrando, muito cedo, uma inclinação especial para os arranjos, que viria a assegurar no disco de estreia de Marcos Valle, antes de se tornar numa das figuras centrais do chamado Samba Jazz, formando grupos de culto como Os Gatos e Os Catedráticos.

    Em 1967, desafiado por Luiz Bonfá, mudou-se para Nova Iorque, arrancando para uma carreira, que o levou a ser decisivo em centenas de trabalhos de nomes de referência, como Wes Montgomery, George Benson, João Donato, Stanley Turrentine ou Earth, Wind + Fire, entre muitos outros, para além de ter consolidado uma discografia, em nome próprio, que se havia iniciado na Forma, em 64, com um sem número de grandes discos editados, principalmente, pela CTI, de quem foi um assíduo colaborador.

    “Arranha ceu”, que foi gravado duas vezes, em 73 – para “Deodato 2”, o segundo longa-duração que registou para a CTI e como parte de “Os Catedráticos 73”, colecionável Lp, lançado no Brasil pela Equipe – é, na minha opinião, o mais genial dos seus muitos momentos de génio.

    Um enorme e intemporal instrumental, que cruza de forma excepcional Jazz, Funk, Soul e MPB, e que na sua versão brasileira, talvez porque não tenha a extrema resolução hi-fi da americana, tornando-se mais visceral, atinge uma dimensão quase astral.

     

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  • Poder Soul

    25 maio 2020 – 29 maio 2020

    Quinta-feira

    Linda Williams

    Elevate our minds

    Arista

    Natural de Nova Iorque, Linda Williams é uma talentosa compositora, arranjadora, pianista e cantora, que ainda se mantém pertinente, usando o seu nome real – Aziza Miller – e que, sob este pseudónimo, deixou a sua marca na cena Soul e Jazz de Fusão, da década de 70.

    Nessa altura, foi directora músical, algo inédito para uma mulher, de Natalie Cole, entre 75 e 80, compôs standards como “La costa”, interpretados por nomes como Ahmad Jamal ou Phil Upchurch, emprestou a sua voz a clássicos como “Capricorn rising”, de Richard Evans, e editou um sólido Lp, em nome próprio, através da Arista.

    Gravado em 79, “Elevate your mind” faz parte do alinhamento de “City living” e foi a sua grande contribuição para as pistas de dança.

    Uma excelente canção Soul, tingida pelo Jazz e por uma estrutura rítmica de inspiração latina, que se tornou num hino da cena Rare Groove britânica e que, recentemente, voltou a ter uma presença assídua nos clubes mais esclarecidos da cena especilizada.

     

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  • Poder Soul

    25 maio 2020 – 29 maio 2020

    Sexta-feira

    Rideout

    Someone special

    Rota Enterprises, Ltd.

    Len Rideout foi um misterioso músico, cantor, compositor e produtor, nativo de Oakland, na Baía de San Francisco, que esteve activo na primeira metade dos anos 80.

    Entre 1980 e 82, gravou quatro singles para a Hot Licks Records, pequena independente que parece ter criado, todos essenciais e altamente colecionáveis e onde marcam presença alguns dos mais requisitados músicos de sessão da Califórnia, como as secções de sopros dos Collage ou dos Pure Delite, colaboradoras habituais de nomes como Sylvester, The Whispers, Bill Summers ou Fats Gaines Band.

    “Someone special” foi o seu disco de estreia e, depois de ter sido prensado em sete-polegadas pela sua Hot Licks, foi licenciado, na versão ligeiramente diferente, que hoje vos trago, à Rota Enterprises, operação editorial de William Kamarra, com base em Nova Iorque e ramificações em Montreal e em San Francisco, que deixou a sua marca na cena disco independente e no mais embrionário Hip Hop.

    Uma imensa canção Modern Soul, de acentuado sabor Boogie, que nunca falha quando lançada numa pista de dança e é um dos vários hinos que este talentoso, mas obscuro, artista deu à cena especializada.

     

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