• Poder Soul

    18 maio 2020 – 22 maio 2020

    Segunda-feira

    The Darling Dears

    I don’t think I’ll ever love another

    Flower City

    Ainda no liceu, Kim McFadden, Helen McGowan, Salena e Beverly Howard formaram o quarteto vocal The Darling Dears, na pequena cidade de Rochester, no estado de Nova Iorque, no fim dos anos 60.

    Na mesma altura, mais exactamente em 1969, os adolescentes “Rudi” Meeks, “Romar” Freeman e Bruce Pitts, começaram a tocar juntos, num espaço cedido pelo ex-marine Jerry Griffin que, acreditando no talento dos então chamados Black Destination, se tornou manager da banda.

    Depois de ter mudado o nome para Funky Heavy Productions e de ter acrescentado uma secção de sopros ao seu line-up, a banda tornou-se bastante solicitada e uma presença assídua em showcases de talento e festas escolares, bem como em clubes nocturnos, construindo uma sólida reputação local e juntando dinheiro suficiente para comprar uma carrinha de treze lugares, com um atrelado, que usava para viajar.

    Em 72, os caminhos das Darling Dears e dos Funky Heavy Productions cruzar-se-iam, quando Alvin Lofton,  produtor e compositor local que tinha trabalhado na promoção da importante Cap City, de Washington D.C., os juntou em estúdio para gravarem um single que se tornaria num Graal para os colecionadores de Sweet Soul.

    Editado pela mínuscula Flower City, “I don’t think I’ll ever love another” é o lado A deste fabuloso double-sider, e o único disco das Darling Dears, que desistiriam da sua carreira artística, e dos Funky Heavy Productions, que acabariam por ser absorvidos pelos bem-sucedidos Voltage Brothers.

    Uma deliciosa canção, que vive do contraste entre a delicadeza das vozes e uma base instrumental crúa, onde a bateria sobressai, num maravilhoso registo low-fi, e que, em 2012, foi reprensada pela Cultures of Soul, tornando-se acessível aos comuns mortais, como eu.

     

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    18 maio 2020 – 22 maio 2020

    Terça-feira

    The Harmonettes

    Shame, shame, shame

    CES

    Godfrey McGregor tinha já uma carreira estabelecida, enquanto membro das Big Band que dominaram a cena músical de Belize, nas décadas de 50 e 60, quando se juntou a Daniel Bennet, Frances Cacho, Raymond Cadle, Cecil Gillett, Austin B., Anthony Jones, Allan Andewin e George Boven, em 1969, para formar os Harmonettes e ser uma das figuras cruciais da revolução operada por nomes como Lord Rahburn e Jesús Acosta, naquele pequeno país da America Central.

    Apesar da banda se ter tornado numa das mais populares daquela época, garantindo casa cheia a todos os espaços de Belize City onde actuava, apenas gravou um Lp e um single, para a CES – Contemporary Electronic Systems – crucial marca fundada por Compton Fairweather, que deixou de instalar sistemas de segurança em edifícios da cidade, para se tornar na sua mais histórica editora discográfica.

    “Shame, Shame, Shame” é uma das canções que compõem o alinhamento de “’Till daylight”, o álbum de 75, cujo título é, aparentemente, uma referência ao facto da banda tocar, nos clubes nocturnos locais, até às primeiras horas da manhã, e, na minha opinião, o seu mais excepcional momento.

    Uma tremenda, crúa e visceral versão do êxito estrondoso de Shirley + Co., que leva qualquer pista de dança ao delírio e que, em 2005, foi incluída na excelente recolha que a Numero Group dedicou ao país – “Belize City boil up” – um dos volumes da série Cult Cargo.

     

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    18 maio 2020 – 22 maio 2020

    Quarta-feira

    Wendell Harrison + The Tribe

    Farewell to the welfare

    Tribe

    Saxofonista, Wendell Harrison nasceu em Detroit, em 1942.

    Começou a tocar clarinete com apenas 7 anos e aos 14, quando andava no Liceu, ao lado de Roy Brooks ou de Charles McPherson, decidiu dedicar-se ao saxofone e ao Jazz, sob a tutela do pianista Barry Harris.

    Iníciou o seu percurso profissional no fim dos ano 50, tocando com nomes como Marvin Gaye, Aretha Franklin e Sam Ward, enquanto membro da banda de Choker Campbell, antes de se mudar para Nova Iorque, em 1960, onde passaria toda a década e colaboraria com Freddie Hubbard, Grant Green, Eddie Jefferson, Sonny Stitt, Hank Crawford, Marcus Belgrave ou Sun Ra, a sua principal referência.

    Regressou à sua cidade natal em 71, depois de passar cerca de um ano na Califórnia, a trabalhar com Esther Phillips ou Art Pepper, para se juntar a Phil Ranelin, Harold McKinney, Marcus Belgrave, Doug Hammond, Ken Cox e Charles Moore e formar o mítico colectivo artístico – Tribe – cujo o trabalho, de forte consciência política, se reflectiu numa revista e numa editora que, entre 71 e 78, gravou alguma da mais militante e vanguardista música negra independente daquela época e inspirou toda uma geração de criadores que viriam a operar a revolução Techno e House, na Motor City, como Carl Craig ou Kenny Dixon Jr., entre outros.

    Prensado em sete-polegadas, em 75, mas gravado como parte de um Lp, que nunca viria a ser completado – “Farewell to the welfare” – é um dos muitos momentos de eleição, que nos deu Wendell Harrison, na companhia dos seus parceiros da Tribe.

    Uma verdadeira obra-prima Soul Jazz instrumental, que retrata na perfeição o imenso talento dos vários membros deste histórico colectivo e que, sendo extremamente rara e valiosa no seu formato original, foi alvo de uma cuidada reprensagem pela Clap City Records, no ano passado, que junta uma pequena, mas bela, publicação, à reedição do single.

     

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    18 maio 2020 – 22 maio 2020

    Quinta-feira

    Camille Doughty

    Elijah Rock

    Gospel Roots

    Nativa de Columbus, Camille Doughty tem uma longa e marcante carreira e é uma das grandes vozes Gospel do Ohio.

    Começou a cantar com apenas 10 anos, integrando os Green Gospel Singers, depressa se tornando em solista e lider dos vários coros que foi integrando.

    Nas últimas cinco décadas, Camille Doughty teve um sem número de aparições televisivas, dividiu palcos com nomes referência do género, como Mahalia Jackson, The Clara Ward Singers, The Staple Singers, The Winans, The Soul Stirrers e The Mighty Clouds of Joy e, além de ter participado em quase todas as gravações dos Psalmeneers of Columbus e numa série de discos da Savoy, gravou um Lp, em nome próprio, para a Gospel Roots, uma das marcas do império de Henry Stone.

    “Elijah Rock” é o tema de abertura de “God’s prescriptions”, o álbum editado em 1978, e a sua grande contribuição para as pistas de dança.

    Uma extraordinária releitura Funky Soul do hino imortalizado por Mahalia Jackson, vinte anos antes que, recentemente, foi recuperada pela Honest Jon’s, num sete-polegadas que serviu de aperitivo à bela compilação “Christians Catch Hell (Gospel Roots, 1976-79)”.

     

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    18 maio 2020 – 22 maio 2020

    Sexta-feira

    Shahid Wheeler

    Just one dance before you go

    Cat-Mount

    Aparentemente nativo dos arredores de New Jersey, o misterioso Leroy Shahid Wheeler apenas gravou este disco e, tudo indica, por amizade.

    Esta gravação terá sido fruto de um convite do seu amigo Jim Hartnett, um músico, compositor e produtor que estudou teoria músical no Liceu e formou a banda de estúdio Hosanna que, em 1975, gravou “Hipit”, um clássico das cenas Soul e Rare Groove britânicas.

    Três anos depois, Jim Hartnett decidiu criar a pequena independente Cat-Mount, para registar esta canção e desafiou o seu amigo Shahid Wheeler a interpretá-la com o seu espantoso falsete. 

    O disco foi um flop, Shahid Wheeler terá voltado para a sua vida, longe do universo artistíco, e a marca criada por Jim Hartnett, que ainda se mantém actividade e que, em 82, compôs o também colecionável “Dance with me baby”, creditado à Freezing Fire Band, ficou por aqui.

    Ainda assim, “Just one dance before you go”, prensado num doze-polegadas, que tem a versão instrumental do tema no lado B, transformou-se num favorito dos clubes especializados.

    Uma imensa canção Disco Soul, com um groove contagiante e uns tremendos arranjos, assentes num belo trabalho de orgão e sopros, que, sendo rara e pouco acessível no seu formato original, foi reeditada, no ano passado, pela Melodies International, marca de Floating Points, que se dedica a desvendar alguma da música que o move.

     

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