• Poder Soul

    18 – 22 de Julho

    18 de Julho

    Hank Johnson

    You lost your thing

    Spear (1972)

    Como é frequente nas “descobertas” de Keb Darge, que acabaram por moldar o movimento a que se viria a chamar Deep Funk, não existe qualquer informação sobre Hank Johnson.

    Aparentemente, este clássico, editado em 1972 pela Spear, é o seu único disco e também o único lançamento da editora.

    “You lost your thing” é uma autêntica bomba de pista de dança. Uma pesada e intensa canção, construída sobre uma base rítmica musculada, um órgão e uma guitarra Funk, mas temperados pela dose certa de psicadelismo, e um take vocal que não deve nada às grandes referências do género.

    Keb Darge transformou-a num dos temas incontornáveis da cena Funk, que decidiu criar com os discos que os fanáticos da Northern Soul pareciam, estranhamente, desprezar.

    Rapidamente se transformou numa peça de coleção e é hoje tão pertinente quanto era quando começou a alimentar clubes há cerca de vinte anos.

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  • Poder Soul

    18 – 22 de Julho

    19 de Julho

    Mixed Emotions

    Gold of my life

    Rock-Way (1975)

    A julgar pelas pesquisas que fiz, este pedaço da mais deliciosa Soul foi alvo de bootlegging… pela EMI belga!

    Projecto oriundo de Richmond, na Califórnia, e apadrinhado por Elijah Cole, que também criou os dois selos que lhe deram expressão discográfica, Rock-Way e Cole, os Mixed Emotions editaram quatro sete-polegadas, um dos quais póstumo, antes de desaparecerem.

    “Gold of my life” é o seu maior hino.

    Esta maravilhosa canção Soul, gravada em 75, é um dos exemplos supremos daquilo a que chamamos Crossover. A obra-prima que grupos com carreiras sólidas e de sucesso como os Tower of Power, por exemplo, nunca conseguiram gravar.

    Não se sabe se teve algum sucesso na altura em que foi gravada, mas terá chamado a atenção das multinacionais, ao ponto de ter sido editada pela EMI belga, sem que Elijah Cole tivesse sido contactado, alegando que o detentor dos direitos seria uma misteriosa Molove Records.

    “Gold of my life” transformou-se, no fim do século passado, num tema obrigatório da cena Soul, altamente colecionável, quer no seu formato original, quer na ilegal prensagem europeia.

    Os filhos de Elijah Cole aperceberam-se do facto e decidiram, há uma dezena de anos, fazer uma segunda edição oficial do tema, bem como editar um single de temas inéditos, resultado da mesma sessão de gravação que nos deu “Gold of my life”.

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  • Poder Soul

    18 – 22 de Julho

    20 de Julho

    The Crow

    Your autumn of tomorrow

    Inner Ear (1970)

    Estranhamente, esta imprevista peça do mais psicadélico Funky Soul, cedo se transformou num hino do Wigan Casino, furando a ortodoxia vigente. E isso explica muita coisa…

    Editada em 1970, pelo pequeníssimo selo de Nova Iorque, Inner Ear, “Your autumn of tomorrow” foi imediatamente adoptada pela comunidade Northern Soul, o que lhe valeu um re-edição britânica, através da Right On!, cinco anos depois.

    Nada neste disco é óbvio, nem encaixa nos standards do género. Nem a sua estranha intro, parcialmente em reverse, nem a dureza Funk com que a canção evolui.

    No entanto, a loucura que provocou nos mais fanáticos e snobs consumidores de sete-polegadas de que há memória – os adeptos Northern Soul – levou a que o original da Inner Ear troque de mãos na casa dos milhares, enquanto a edição oficial inglesa, a que mora cá em casa, se fique pelas escassas dezenas. Vá se lá perceber porquê!

    A canção foi reactivada nos últimos anos, voltando a dinamizar pistas de dança, o que talvez explique a sua inclusão na banda sonora do infelizmente medíocre filme “Northern Soul”.

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  • Poder Soul

    18 – 22 de Julho

    21 de Julho

    Frankie Beverly + The Butlers

    Because of my heart

    Fairmount (1966)

    Dois pontos prévios: Frank Beverly teve uma consistente carreira com os Maze, grupo que formou no início da década de 70, e “Because of my heart” é um dos maiores hinos Northern Soul de que há memória, um dos temas chave da música negra de Filadélfia dos 60 e uma prova de que Frank Beverly gravou uma parte importante do seu legado antes de ser conhecido.

    De facto, antes de formar os Maze e depois de ter passado pelos Silhouettes e pelos Blenders, Beverly teve na origem do grupo vocal, The Butlers, que gravou uma mão cheia de singles para editoras como Liberty Bell, a Phila, a Fairmount, a Rouser, a Gamble ou a C.R.S., deixando a sua marca na Soul de Filadéfia, que tanto peso viria a ter na história da música negra norte-americana.

    “Because of my heart” gravado em 66 e editado pela Fairmount e pela Rouser é, na minha opinião, o seu maior momento.

    Este tema, completamente irresistível, cruza a energia da melhor Northern Soul com a riqueza melódica do Crossover que prenuncia. Tudo aqui é perfeito, desde o piano às palmas passando pela imortal linha vocal.

    Não surpreende portanto que, num mundo como o do colecionismo Soul, as cópias originais troquem de mãos por valores acima do par de milhares e que todas as reedições de que foi alvo, nas últimas décadas, sejam extremamente bem-vindas.

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  • Poder Soul

    18 – 22 de Julho

    22 de Julho

    Frank Penn

    Gimme some skin (instrumental)

    Penn’s (1973)

    Através de Nassau, as Bahamas têm tido um papel de relevo na cena musical internacional, ou não fossem a base dos míticos estúdios Compass Point.

    A ilha da Grand Bahama é geralmente ignorada.

    No entanto, foi daqui que saiu alguma da música mais personalizada do arquipélago e nomes como Jay Mitchell, Willpower ou T-Connection, tudo muito à custa do originalmente barbeiro e barman, Frank Penn.

    Nascido em 41, em Nassau, Penn fixou-se em Freeport no princípio dos 60, para vir a dirigir os estúdios e editora G.B.I. Recordings, através dos quais registou muita da mais estimulante música local, resultado do cruzamento daquilo que chegava da Flórida, via rádio, e do Gombay vigente na ilha.

    Incluído no seu terceiro Lp, gravado em 73 na companhia dos Esquires Ltd., em Miami, “Gimme some skin” é um exemplo perfeito da forma particular como o Funk e a Soul eram absorvidos nas Caraíbas e, neste caso, na Grand Bahama.

    A versão instrumental que aqui apresento transformou-se num clássico da cena Deep Funk ou não fossem o seu Groove musculado, o seu órgão cru e a guitarra wah-wah que a comanda, completamente irresistíveis.

    Frank Penn morreu em 2009, depois de ver o seu talento desvendado a todo o mundo, muito à custa do excepcional trabalho da Numero Group.

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