• Poder Soul

    17 agosto 2020 – 21 agosto 2020

    Segunda-feira

    E.T. Mensah + his Tempos Band

    Save me

    Decca

    Início de uma semana em que o Poder Soul irá até ao oeste de Africa.

    Conhecido como o Rei do Highlife, E.T. Mensah nasceu em Accra, no Gana, em 1919, para vir a ter um papel crucial na moderna música daquele continente.

    Começou a tocar flauta, ainda criança, na Accra Orchestra, uma banda juvenil, liderada por Joe Lamptey, o reitor da James Town Elementary School, antes de adoptar o saxofone e de se juntar ao seu irmão mais velho – Yebuah – para formar a Accra Rhythm Orchestra, com quem venceu um concurso de talento, em 1939, no King George Memorial Hall.

    A presença de tropas inglesas e norte-americanas no país, durante a Segunda Guerra, e o facto dos dois irmãos terem integrado uma formação multi-racial, que animava as tropas em clubes nocturnos, fé-lo incorporar o Jazz na música tradicional do Ghana, iniciando uma verdadeira revolução, naquela zona de Africa.

    Entrou para os Tempos, em 46, a convite do seu fundador – Adolf Doku – para assumir a sua liderança, dois anos depois e se transformar numa referência de toda uma nova geração de músicos, tanto na sua terra natal, como na vizinha Nigéria, onde, todos os anos, fazia incursões de três meses.

    No fim dos anos 50, assinou contrato com a Decca, arrancando para um importante percurso discográfico que, entre 58 e 75, ano em que se retirou, se reflectiu na edição cerca de uma dezena de Lps e quatro de singles.

    Gravada em 1969, como parte de “Mensah’s african rhythms” – “Save me” – é, para mim, a sua maior contribuição para as pistas de dança.

    Uma tremenda versão do enorme clássico escrito e gravado por Aretha Franklin, dois anos antes, que é percursor da profícua relação que a Soul viria a estabelecer com os ritmos africanos.

     

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    17 agosto 2020 – 21 agosto 2020

    Terça-feira

    Orchestre Abass

    Haka dunia

    Polydor

    Malam Issa Abass nasceu em Bassar, no Togo, em 1942, numa zona de forte influência islâmica, parte de uma área, que se estende do norte dos Camarões ao norte do Gana, que viria a ser apelidada – “The Islamic Funk Belt”.

    Filho de um professor da Escola Corânica local, Abass dominava o árabe, bem como o francês, e começou, muito cedo, a tocar instrumentos tradicionais.

    Aprendeu a tocar guitarra durante uma visita a uma tia, que vivia no Gana, e quando voltou a Bassar formou a sua primeira banda – Les 5 Joyeux Togolais – com quem, rapidamente se tornou tão popular, que a autarquia da cidade decidiu financiar-lhe o equipamento necessário à sua profissionalização, o que aconteceria, em 1969, quando fundou os OK Jazz e fez uma tour à Nigéria, onde descobriu o Eko Tiger, o orgão que o tornaria único.

    Em 71, depois de se fixar em Accra, no Gana, juntou-se ao seu irmão Abderaman Issa e a Tahirou Djobo, Norbert Gnofam, Abderaman e Iddy Mohamed e Ountoun Yaya, para formar a Orchestre Abass, banda que o imortalizaria e com quem, para além de ter dividido o palco com Fela Kuti, que os convidou a assumirem uma residência no mítico Afro Spot, em Lagos, gravou cinco singles, entre 72 e 73, para a Philips, a Polydor e a Disques Chics.

    O grupo terminou em 74, após a tragica morte de Iddy, num acidente de viação e Malam ainda gravou um Lp, a solo, tendo sido vítima de uma atentado, com uma granada, que provocou a sua morte, em 1993.

    “Haka dunia” é o lado b do seu terceiro sete-polegadas, editado pela Polydor, em 72, um retrato perfeito da energia, originalidade e talento deste grupo que fundia, como poucos, Soul, Funk e Afrobeat, com os ritmos tradicionais do seu país e uma autêntica bomba que, sendo quase impossível de assegurar no seu formato original, foi recuperada pela Analog Africa, em 2018, num álbum que também contém um par de belos temas inéditos.

     

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    17 agosto 2020 – 21 agosto 2020

    Quarta-feira

    Bokoor Band

    Onupka swapo

    Bokoor

    Nativo de Inglaterra, John Collins foi viver para Accra, em 1952, quando o seu pai aceitou uma posição como professor de Filosofia, na Universidade do Gana.

    Compositor e músico, que dominava tanto a guitarra, como a harmónica e a percussão, começou a envolver-se com a cena músical local, em 1969, e, dois anos mais tarde, fundou a Bokoor Band, projecto que manteve, ao mesmo tempo, em que colaborou com nomes com E.T. Mensah, Victor Uwaifo, Fela Kuti ou os Bunzu Sounds, banda que foi residente do prestigiado Napoleon Club, e que, em 76, gravaria esta sua canção, para a Makossa, com o título – “Volta suite” – sem o seu conhecimento prévio.

    Em 78, criou a sua própria marca para gravar o primeiro dos dois e.p.s, editados pela Bokoor Band, antes de montar o Bokoor Recording Studio, em 82, que passou a absorver uma parte significativa da sua ligação à música, para além do notável trabalho académico, que desenvolveu, enquanto musicólogo e antropólogo.

    “Onupka swapo” é o tema de abertura do seu disco de estreia e aquele que foi adoptado pelos mais progressivos Djs.

    Um contagiante instrumental Afrobeat, acompanhado por uns tradiconais ad-libs vocais e, estranhamente, dominado pela harmónica, que nunca falha quando lançado numa pista de dança e que foi recuperado na compilação de culto – “Afro-Rock volume one” – editada, em 2001, pela Kona Records, e reprensada pela Strut, nove anos depois.

     

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    17 agosto 2020 – 21 agosto 2020

    Quinta-feira

    Ebo Taylor Jnr. with Wuta Wazutu

    Mondo Soul Funky

    Polydor

    Filho do lendário guitarrista do Gana, com o mesmo nome, o teclista e cantor Ebo Taylor Jnr. começou o seu percurso musical na Smart Nkansah’s Band, que viria a dirigir.

    Depois de ser recrutado para a tropa, fez parte da Army Band e da 6th Battalion Band.

    Quando regressou de uma estadia no Médio Oriente, onde fez parte do serviço militar, Ebo Taylor Jnr. juntou-se aos Dutch Benglos, antes de assinar um contrato com a Polydor, para gravar o seu único Lp, na companhia dos Wuta Wazuto, uma jovem banda pop que, como muitas outras, havia surgido na sequência do declínio do Highlife.

    No fim da década de 70, decidiu pôr de parte a sua carreira a solo, para se dedicar a fundo à produção e à engenharia de som.

    Gravado em 1978, “Mondo Soul Funky” é, para mim, o mais especial dos grandes temas que compõem “Gotta take it cool”, o seu único, marcante e colecionável álbum.

    Um monstro Afro Funk mid-tempo, com um groove irresistível e um supremo trabalho de teclados, que, em 2004, foi incluído no segundo volume da essencial recolha da Soundway – “Ghana Soundz” – e, no ano passado, reeditado pela Mr. Bongo, quando recuperou o seu histórico Lp.

     

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  • Poder Soul

    17 agosto 2020 – 21 agosto 2020

    Sexta-feira

    Eric Kol

    You’re my solution

    Tabansi

    Compositor, produtor, músico e cantor nigeriano, Eric Kol começou a tocar versões de lendas norte-americanas, como Elvis Presley ou Otis Redding, a meio dos anos 60, com instrumentos “emprestados” pela biblioteca do British Council de Lagos, para se transformar num dos protagonistas da explosão da indústria discográfica local, na viragem dos 70 para os 80.

    O seu percurso profissional, começou em 72, quando assinou as canções e os arranjos do único e colecionável single dos Immortals, uma banda de Afro Funk, editada pela His Master’s Voice.

    Poucos anos depois, assinou contrato com a EMI, e, até 78, gravou dois Lps e um single, que marcaram a sua estreia a solo, numa altura em que as multi-nacionais começavam a perder a sua força e surgiam ambiciosas operações editoriais locais, como a Skylark, a Taretone, a Phonodisk ou a Duomo, que procuraram igualar os standards de qualidade da melhor música anglo-saxónica, ao gravarem nos Estados Unidos e no Reino Unido ou a investirem em estúdios munidos com a melhor tecnologia.

    Foi, assim, inevitável que seus os passos seguintes, estivessem associados a essa revolução, com a gravação de mais dois álbuns: um para a Tabansi, uma das importantes marcas fundadas por G.A.D. Tabansi, que também criou a Taretone e a Win Records, e outro para a Phonodisk, editora de Alhaji Haruna Ishola, que construiu um estúdio de ponta em Ijegu-Igbo, com quem Eric Kol colaborou, ao assegurar a produção executiva de disco históricos, como “Moving time”, dos Apostles, entre outros.

    “You’re my solution” é um dos temas que faz parte do alinhamento de “Today”, o Lp editado pela Tabansi, e, para mim, o seu mais genial momento.

    Uma imensa canção Modern Soul, que conta com a decisiva colaboração de nomes de referência da cena nigeriana, como Jake Sollo, Emma Baloka, Effi Duke ou Felix Lebarty, que não deve o que quer que seja ao melhor que, nesta altura, nos foi dado no outro lado do Atlântico e que faz parte de um disco que, no ano passado, foi reeditado pela BBE, para júbilo de todos os amantes da melhor música negra.

     

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