Nesta Data Querida

 

Do primeiro festival da Eurovisão a Back To Black de Amy Winehouse. Os concertos, os discos, as canções e os acontecimentos que marcaram a cultura pop e cujo aniversário comemoramos em 2016.

Por Tiago Pereira

 

 


 

24 de Maio de 1956

A primeira edição do Festival da Eurovisão

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É um dos mais antigos programas de televisão do mundo que ainda permanece no ar. E é também um dos mais vistos, com audiências que já chegaram perto dos 600 milhões de espectadores – esqueçamos neste campeonato as competições desportivas, esse é outro negócio. A Eurovisão nasceu há 60 anos como meio de unir os diferentes países da Europa em volta da televisão, no mesmo dia, à mesma hora. Foi decidido que assim seria ainda em ’55 e a vontade era a de contribuir para um sentimento maior de união por todo o continente, dez anos após o final da Segunda Guerra Mundial.

Ao mesmo tempo, serviu de desafio para as transmissões em directo de televisão, que na altura não costumavam ter esta dimensão. O modelo seguido foi o italiano do Festival de Sanremo, que se realizava desde 1951. Aconteceu em Lugano, na Suíça, e contou com a participação do pais anfitrião, da Bélgica, Alemanha, França, Itália, Luxemburgo e Holanda. Ganhou a Suíça com a canção “Refrain”, interpretada por Lys Assia. Portugal participaria na Eurovisão da Canção a partir de 1964. Estreou-se com “Oração”, na voz de António Calvário, Ficou em 11º.

4 de Dezembro de 1956

O Million Dollar Quartet faz uma sessão de improviso nos estúdios da Sun

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É habitual apontar os Cream como o primeiro supergrupo da história do rock’n’roll. Eric Clapton, Jack Bruce e Ginger Baker tiveram actividade regular entre 1966 e 1968 e editaram quatro álbuns (o último, Goodbye, já em ‘69). Mas dez anos antes, 4 de Dezembro foi o dia da sorte grande que juntou Elvis Presley, Carl Perkins, Johnny Cash e Jerry Lewis para uma gravação sem agenda.

Sam Phillips, dono do estúdio e da editora, queria tentar incluir o então quase desconhecido piano de Jerry Lee Lewis numa sessão marcada para Perkins. Elvis e Cash apareceram sem convite mas às visitas nada se nega. Uma primeira edição em disco, de 1981, mostrou 17 dos temas registados. Anos mais tarde surgiu The Complete Million Dollar Sessions com as 47 faixas gravadas.

Tudo num 4 de Dezembro, o mesmo dia em que, em 1996, os Rio Grande – Rui Veloso, Tim, Vitorino, João Gil e Jorge Palma – editaram o primeiro de dois álbuns. Este, homónimo, com temas de Gil e João Monge. O segundo, ao vivo (Dia de Concerto) seria lançado em 1998. Sem milhões de dólares mas também com as marcas todas de um supergrupo.

4 de Março de 1966

O jornal britânico Evening Standard cita John Lennon: “Os Beatles são mais populares que Jesus”

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Foi o início do ano em que tudo mudou para John Lennon – que é o mesmo que dizer que os Beatles nunca mais foram os mesmos e ainda bem para nós todos. Lennon estava à conversa com uma jornalista do London Evening Standard, Maureen Cleave, a mesma que ainda hoje dá entrevistas sobre o assunto. A vida, o amor e as canções, o músico falou de tudo, incluindo as dúvidas que o apoquentavam. Famosos em todo o mundo, com fãs que gritavam mais alto que o som de todos os palcos que pisavam, Lennon tinha a certeza: os Beatles eram mais populares do que Jesus.

A frase deu em sacrilégio em terras americanas. Discos queimados, canções banidas da rádio e desmentidos oficiais – ainda que nada sentidos – da parte do manager, Brian Epstein, e do próprio Lennon. A fama dos Beatles estava perto de tornar-se insuportável. A 29 de de Agosto desse mesmo ano a banda dava o último concerto oficial, em São Francisco, seguido de três meses de férias, cada um para seu lado. Depois mudaram a história da música popular, por isso que ninguém se queixe do pecado cometido. Até o Vaticano veio dizer, em 2008, que estava finalmente tudo bem entre o todo-poderoso e Lennon.

16 de Maio de 1966

São editados os álbuns Blonde On Blonde, de Bob Dylan, e Pet Sounds, dos Beach Boys

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Quem quiser que decida qual dos dois discos é melhor, mais importante, mais influente e histórico. Vai ser sempre tempo perdido. Há uns quanto eventos que fazem de 1966 um ano de mudança para o rock’n’roll, para a música urbana e a cultura popular. Mas poucos tiveram o impacto impossível de contabilizar com lógica e razão como estes dois. Blonde on Blonde, o ambicioso álbum duplo de Bob Dylan, a revolução americana feita a partir de dentro, que virou a tradição do avesso sem a negar, bem pelo contrário, redescobrindo-a e tornando-a nova, como só Dylan poderia e saberia fazer.

Pet Sounds, a obra maior de Brian Wilson, o legado único dos Beach Boys, o disco que transformou a canção num pedaço de possibilidades ilimitadas e que fez do estúdio uma ferramenta criativa como nunca se tinha imaginado até então. Chegaram os dois às lojas no mesmo dia. Não é caso único. 22 de Novembro de 1968: White Album, dos Beatles, e Village Green Preservation Society, dos Kinks. Ou 24 de Setembro de 1991: Nevermind, dos Nirvana, Blood Sugar Sex Magik, dos Red Hot Chili Peppers; e The Low End Theory, dos A Tribe Called Quest. Um dia antes tinha sido a vez de Screamadelica, dos Primal Scream. Semana santa dos noventas.

27 de Junho de 1966

Frank Zappa lança o primeiro álbum: Freak Out!

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Primeiro as primeiras coisas. Frank Zappa chamava-se mesmo Frank Zappa. E a partir daqui, não vale a pena pensar em nome artístico nenhum, nunca será melhor que a marca de baptismo que este americano recebeu ao nascer, em 1940.

26 anos depois, o nome de Zappa não estava na capa de Freak Out!. Prioridade aos Mothers of Invention, a banda com quem trabalhou para dar umas quantas voltas aos blues e ao R&B americanos, entre ’66 e ’75. Meteu-lhe improviso em cima, achou que o jazz tinha soluções que nenhuma outra forma criativa podia encontrar, ao psicadelismo sempre o tratou por “tu” e até procurou contaminar a cultura popular com linguagens de outros universos, como a música concreta.

Estreou-se com um álbum duplo, para começar a preparar o mundo para um percurso único, daqueles que só os eternamente insatisfeitos e infinitamente criativos conseguem alcançar. Frank Zappa morreu em 1993, com 52 anos, depois de fazer mais de 60 álbuns. Ainda hoje ninguém está preparado para esta obra.

5 de Agosto de 1966

É editado Revolver, dos Beatles

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George Harrison inventou o breakdance em “Taxman”; há o nevoeiro do countryside inglês, onde tocam sempre violoncelos, com Eleanor Rigby; o mais sonhador dos “deixem-me em paz, não quero, não me apetece” que é “I’m Only Sleeping”; a canção de amor mais ácida de que há memória é “Love You To”; e ainda há o boogie woogie de Doctor Robert, o génio de McCartney em “For No One” ou “Tomorrow Never Knows”, com o verdadeiro primeiro homem no espaço, John Lennon. Sgt Pepper’s só chegaria no ano seguinte mas estava já feita a revolução em ’66.

Na verdade, este Revolver pode muito bem ser escolhido como o melhor disco dos Beatles (da história da pop, percamos a cabeça, ninguém nos vai levar a mal). Das manipulações de fita à capa de Klaus Voorman, dos arranjos de cordas à fantasia sem travão de “Yellow Submarine”. “Paperback Writer”, fruto das mesmas sessões de estúdio, não foi incluído no disco porque não calhou, mas tem o melhor som que uma guitarra eléctrica conseguiu fazer naquele mesmo 1966. É coisa boa a mais para um só ano, para quatro garotos apenas. Digam a quem nunca ouviu Revolver que isto tem 50 anos, eles não vão acreditar.

16 de Dezembro de 1966

A Jimi Hendrix Experience edita o primeiro single, “Hey Joe”

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A canção não é de Jimi Hendrix mas isso é só no papel. Ninguém sabe muito bem quem a escreveu, é um tema vindo das memórias populares americanas e conta a história de um marido que persegue a mulher infiel e o respectivo amante, fugidos para o México, com medo da vingança do homem ferido no seu orgulho.

Foi a primeira canção editada pela banda de Hendrix e foi também esta versão que convenceu o manager e produtor Chas Chandler (dos Animals) a transformá-la em single de apresentação para o homem que chegou a Londres no final de Setembro desse ano, gravou “Hey Joe”, a 23 de Outubro, e em Dezembro atirava isto ao mundo. Os guitarristas ingleses, confiantes do domínio que tinham sobre o R&B e os blues americanos, não perceberam bem o que estava a acontecer.

Nos EUA, “Hey Joe” só seria single a 1 de Maio de 67. Anos mais tarde foi o último tema do concerto de Hendrix no Woodstock, em 1969, e também a canção que encerrou o festival, pouco depois das 11 da manhã de 18 de Agosto, segunda-feira.

24 de Setembro de 1971

T. Rex lançam Electric Warrior

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Os T. Rex não eram assim. Nem sequer tinham este nome, assinavam todos os discos como Tyrannosaurus Rex. Mas isso dos títulos como muitas letras era coisa do passado. Por exemplo, o primeiro álbum do grupo, de 1968, foi My People Were Fair and Had Sky in Their Hair… But Now They’re Content to Wear Stars on Their Brows e cabia tudo na capa do disco.

Mas Electric Warrior era outra coisa. Ao segundo álbum com novo nome, Marc Bolan estava definitivamente afastado das canções de outros tempos, muito mais dadas às fantasias da folk psicadélica. Bola era agora um rock’n’roller completo, com apelido glam como nunca antes se tinha visto (talvez apenas na capa de The Man Who Sold The World, de Bowie, no ano anterior) ou ouvido. “Mambo Sun”, “Jeepster” ou “Get it On”.

Foi há 45 anos que este novo mundo aterrou entre nós. As guitarras afinal nasceram para ser maquilhadas. Bolan veio ao mundo para ser rei do boogie. Morreu antes dos 30, num acidente de carro, e nunca mais houve aspirante às coisas do rock que não quisesse ser como ele.

26 Novembro de 1971

Discos de José Mário Branco e Sérgio Godinho são apresentados no cinema Roma, em Lisboa

 

 

Não foi um concerto mas ouviu-se a música de dois discos, do princípio ao fim. Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades, álbum de José Mário Branco, e Romance de Um Dia na Estrada, EP de Sérgio Godinho, ambos de 1971 (no ano seguinte seria editado o primeiro LP de Godinho, Os Sobreviventes).

A sala encheu para ouvir a obra dos dois artistas exilados em França e para escutar a entrevista que o jornalista Adelino Gomes fez a ambos, em Paris. Tudo com transmissão na Rádio Renascença, no programa “Página Um”, de José Manuel Nunes.

Tudo em tempos de censura, quase três anos antes do 25 de Abril mas já em ambiente de revolução: política e social (aquele era já o período final do marcelismo) que tornava inevitável a mudança de regime; mas também cultural e criativa, graças dois dos mais desafiantes compositores e intérpretes de uma música portuguesa que explorava tanto a palavra como a música que lhe dava forma. E no mesmo ano em que tinha já acontecido a primeira edição do festival de Vilar de Mouros, a 7 e 8 de Agosto.

23 de Abril de 1976

É editado o primeiro álbum dos Ramones

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Dois minutos e meio tem a canção mais longa deste disco e a estratégia continua a fazer escola. Os quatro heróis improváveis de Queens haveriam de chegar a Manhattan e depois espalhar a doutrina punk pelo mundo. Colegas de escola, amigos e vizinhos. Foram estes os critérios para formar a banda em 1974. E a música: a dos New York Dolls, dos Stooges ou de Alice Cooper, mas também a dos Beatles ou dos Beach Boys. A canção pop vestiu casaco de cabedal como nunca até aí. Um jogo simples entre três ou quatro acordes, estrofe puxa refrão, 1-2-3-4 e aí vão eles.

Nem sabiam bem ao que iam quando Johnny Ramone formou a banda mas estavam certos que queriam mais do que os pátios de Forest Hill. O baixista afinal não podia cantar, o vocalista teve de deixar a bateria. Nada disto prometia dar em “Blitzkrieg Bop”, “Beat on the Brat”, “I Wanna Be Your Boyfriend” ou “Now I Want to Sniff Some Glue”. Duas semanas para gravar o álbum, porque não era preciso mais e porque o dinheiro era curto. E, fazendo bem as contas, há 40 anos que quem ouve o disco pela primeira vez pensa em fazer uma banda.

 

29 de Abril de 1976

Bruce Springsteen salta o muro de Graceland

American Bruce Springsteen performs, on June 29, 1985 in La Courneuve, outside Paris. AFP PHOTO MICHEL GANGNE (Photo credit should read MICHEL GANGNE/AFP/Getty Images)
@MICHEL GANGNE/AFP/Getty Images

Em 1976, Bruce Springsteen já podia fazer o que quisesse. Ainda não tinha editado Born in The USA – esse, e os respectivos milhões que vendeu, só em ’84. Mas já não lhe faltava popularidade e reconhecimento. Em ’75 tinha feito Born to Run e, depois dessa epifania rock’n’roll, nunca mais fomos os mesmos, nem nós nem ele. Ainda assim, isso não lhe dava liberdade total, não que chegasse para entrar na propriedade dos outros às três da manhã. Enfim, uma vez rufia de New Jersey, para sempre rufia. Springsteen e a E Street Band estavam em Memphis, para mais uma data da digressão de Born to Run.

Passaram em frente a Graceland, a residência oficial do rei Elvis Presley e quiseram ir visitá-lo. Bruce nunca teria sido o Springsteen que conhecemos se Elvis não lhe tivesse aparecido à frente, se não o tivesse visto naquela emissão do Ed Sullivan Show em 1957, se “Hound Dog” (mais cedo) ou “Burning Love” não lhe tivessem moldado os gostos. A casa de Elvis tinha a luz acessa, Springsteen quis conhecer o homem, saltou e correu até à porta. Os seguranças apareceram e levaram-no para fora de Graceland, enquanto explicavam que Elvis não estava em casa. E não estava mesmo. Springsteen acabou por nunca conhecer Presley, que morreu em 1977.

4 Junho de 1976

Os Sex Pistols dão um concerto no Lesser Trade Free Hall, em Manchester

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É o concerto da história onde mais gente diz ter estado, o que quer dizer que alguns estarão a mentir. Até porque, lembrou já o jornalista e crítico inglês Paul Morley (mais um que diz ter estado presente), não estaria assim tanta gente na sala de Manchester, provavelmente entre 40 a 100 pessoas. Os Sex Pistols chegavam à cidade, num concerto marcado por Pete Shelley e Howard Devoto dos Buzzcocks. De repente, o punk rock era possível, o indie era uma realidade.

O do it yourself chegava e seduzia Ian Curtis, Morrissey (que escreveu sobre o concerto para o NME) ou Tony Wilson. Factory, Haçienda, Smiths, Madchester, por aí fora. Talvez seja de mais, provavelmente não. Até porque a sala era propícia às revoluções. Algum tempo antes, a 17 de Maio de 1966 (há 50 anos), alguém gritava “Judas!” para Bob Dylan, esse traidor que decidira tornar-se eléctrico. “Não acredito em ti, és um mentiroso”, respondeu o músico. Foi a melhor introdução para a mais notável interpretação de “Like a Rolling Stone”.

25 de Novembro

Em 1976, os The Band dão o último concerto. Em 1981, os Heróis do Mar dão o primeiro

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Dois nomes pretensiosos para duas bandas que justificaram a escolha, cada uma à sua escala e medida. The Band foi o outro nome dos The Hawks, depois de acompanharem Ronnie Hawkins e Bob Dylan. Quatro canadianos e um americano, que tomaram como sua toda a tradição cantada daquele continente. Despediram-se enquanto banda no dia de Acção de Graças, num concerto em São Francisco filmado por Martin Scorsese. Ao menos essa noite perfeita de há 40 anos ficou guardada, no filme The Last Waltz.

Exactamente cinco anos depois, os Heróis do Mar estreavam-se em palco, no Rock Rendez Vous. A banda nascera em Março, com um primeiro single (“Saudade”/ “Brava Dança dos Heróis”), em Agosto, e um álbum homónimo em Outubro. Som e imagem juntos, como era suposto, entre o punk e a new wave. O Rendez Vous, em Lisboa, foi o primeiro palco a ver tudo isto. Nunca Portugal tinha cantado e dançado assim e não o voltou a fazer depois da separação do grupo, em 1990. O concerto de reencontro esteve para acontecer em 2013 mas foi cancelado.

27 de Maio de 1986

É editado o álbum Raising Hell dos Run-D.M.C.

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“My Adidas”, “It’s Tricky”, “Walk This Way” ou “Peter Piper”. Todas no mesmo disco. Todas com 30 anos e ainda há quem queira fazer-se herói do hip hop porque ouviu apenas uma delas. Raising Hell, o terceiro álbum dos Run-D.M.C., foi o primeiro disco de hip hop a chegar ao número 1 da lista de R&B da Billboard. O primeiro a facturar milhões e a explicar aos cépticos que mais do que canções, o hip hop era um movimento abrangente e em crescimento, uma revolução na música pop e uma transformação nos comportamentos urbanos. E, claro está, uma mina de ouro que na altura ainda estava por explorar.

Na verdade, 1986 seria um ano histórico para o hip hop. Depois de Raising Hell, a 15 de Novembro era editado Licensed to Ill, a estreia em formato longa-duração dos Beatie Boys, o trio de vindo do hardcore e que juntou as influências rock com o rap e uma colecção imbatível de samples, de Kurtis Blow a Led Zeppelin, passando por Bo Diddley. Foi o primeiro álbum de hip hop na primeira posição do top geral da Billboard. Ambos os discos, dos Run-D.M.C e dos Beastie Boys, tiveram Rick Rubin na produção, os dois a partir de Nova Iorque.

12 de Dezembro 1986

Os Smiths dão o último concerto

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A primeira foi “Ask”, a última foi “Hand in Glove”, no final do segundo encore. Um total de 15 temas, número em nada especial. No concerto anterior a banda tinha tocado 19 mas dessa vez estavam em Manchester e quando se vai a casa a coisa muda sempre de figura. Conclusão: os  Smiths não sabiam que este seria o último concerto que dariam. Na verdade, não sabiam ainda que a banda iria separar-se no ano seguinte, apesar das pistas e do ambiente pouco saudável entre os quatro músicos.

Houve ainda umas quantas aparições em programas de TV mas esses intervalos não contam como concertos. Na Brixton Academy, numa actuação que fez parte do movimento Artistas contra o Apartheid, Morrissey disse “olá”, disse “obrigado” e “gostamos muito de vocês”. Johnny Marr, Mike Joyce e Andy Rourke deram sinais de que ainda se entendiam e que o mundo, a partir do ponto de vista de um Smith, ainda era uma coisa bonita.

Ainda assim, o último verso de “Hand in Glove”, a canção de despedida, é “I’ll problably never see you again”, algo como “provavelmente não vou voltar a ver-vos”.

14 de Fevereiro de 1996

Os Clã lançam o álbum de estreia LusoQualquerCoisa

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Abençoado o ano da graça de 1996, que nos deu Manuela Azevedo, para nunca mais a perdermos de vista. Dizemos mais, que assim tem de ser: banda danada, esta, que entrega o protagonismo à chefe de sala – como nenhuma outra que tenhamos conhecido nos últimos anos – enquanto gera canções de excepção como quem resolve uma outra tarefa banal. Costuma chamar-se talento a este tipo de atitude e os Clã têm-no à bruta desde que são gente. O mais provável é que lançar o disco a 14 de Fevereiro não tenha seguido nenhuma intenção romântica.

Ainda assim, se foi esse o caso, LusoQualquerCoisa, é uma desculpa perfeita para lembrar que o disco continua a ser rastilho para um “nós-os-dois-quando-e-onde-quiseres” sem prazo de validade. É pôr a rodar, esperar que a coisa role, não há como falhar. 15 canções numa festa funk-pop de garagem, com cuidado apurado em todos os detalhes, não falha um que seja (Mário Barreiros e Carlos Tê são dois culpados extra de tudo isto e fica-lhes bem a dedicação).

 

8 de Julho de 1996

As Spice Girls apresentam o primeiro single: “Wannabe”

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Basta uma de duas coisas: ou o nome do grupo ou o título de uma canção. Feito. O cérebro toma conta da questão e obriga-o a cantarolar um refrão até ao final do dia. Goste ou não das Spice Girls, isso não interessa nada para o caso. É o efeito pop trabalhado ao limite e foi isso que as quatro inglesas fizeram em Julho, há 20 anos (dia 7 no Reino Unido, dia 8 no resto do continente e na Austrália, só em Janeiro de 97 nos EUA). Soltaram “Wannabe” pelo mundo e até Novembro, quando o álbum Spice chegou às lojas de toda a Europa, nada mais importou. A canção foi número um em 37 países, o álbum vendeu mais de 30 milhões de cópias (80 milhões nas contas totais da carreira das Spice Girls).

A spicemania só não foi maior que a dos Beatles. O grupo começou a ser formado em 1994, por uma empresa de management que procurava surpreender o mercado das boy bands (na altura dominado pelos Take That e East 17) com uma girl band que fizesse a diferença. Após o período de casting e selecção, Emma Bunton não fazia parte das cinco escolhidas, entrou para o grupo depois de Michelle Stephenson ter sido despedida. Estiveram para chamar-se Touch mas, bem o sabemos, acabou por não ser assim. Nos últimos meses têm surgido rumores sobre uma possível reunião de comemoração destes 20 anos, mas nada mais do que isso.

11 de Setembro de 1996

David Bowie lançava o single “Telling Lies”, primeira canção com distribuição online

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O dia 9 de Novembro está no registo da coisas da música como o dia oficial do lançamento de “Telling Lies” em disco (em 1997 seria integrada no alinhamento do álbum Earthling). Mas a canção ganhou estatuto de revolucionária por ter sido a primeira, pelo menos por um artista desta dimensão e com um contrato de representação discográfica mundial, a distribuir um tema pela internet. Foi um processo repartido por três fases, entre 11, 18 e 25 de Setembro de 1996 – em cada um dos dias era oferecida uma nova versão da canção.

Com a ligação à internet mais comum da altura, os velhos modems dial-up, era possível obter “Telling Lies” em mais ou menos 11 minutos (se o vento estivesse a nosso favor). Nas primeiras horas em que a transferência – gratuita – era possível, foram descarregadas cinco mil canções. Durante o período em que o download foi permitido, o total passou as 300 mil unidades. No site oficial, o músico dizia: “Por vezes, atiro-me de cabeça para as coisas só para ver o que acontece.” Foram precisos mais alguns anos mas o que aconteceu foi uma revolução completa.

13 de Setembro de 1996

Tupac Shakur é morto em Las Vegas

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Tinha tudo para ser o maior e era-o, de facto, quando morreu aos 25 anos. Só não teve o nome de Tupac no primeiro ano de vida. Em 1972 era rebaptizado tal e qual o último imperador inca. Era filho de dois membros do movimento Black Panther. E não precisou de muito para ser o garoto mais popular da escola: pelas razões mais comuns e porque ainda petiz era já um rapper de habilidade rara.

Deu nas vistas num primeiro tema dos Digital Underground, para depois editar 2Pacalypse Now, o primeiro de quatro álbuns, em 1991. All Eyez On Me, o último, lançado em 1996, é até hoje considerado como um dos mais importantes títulos da história do hip hop. Heróis como Nas ou Eminem continuam a apontá-lo como referência e os números não enganam: até ver, à volta de 80 milhões de discos vendidos e as somas têm tendência a continuar.

Por um lado, Shakur fez do hip hop arma contra desigualdades e injustiças sociais. Por outro, foi protagonista da guerra costa este – costa oeste que teve rappers, managers e editores em oposição, de um lado e do outro dos EUA. 2Pac, associado à Death Row Records, e apesar de ter nascido em Nova Iorque, era o nome maior da cena da costa oeste (numa altura em que do outro lado do país os nomes principais eram os de Notorious BIG e Puff Daddy). No meio dessas rivalidades, 2Pac foi morto a tiro há 20 anos, enquanto estava dentro de um carro (com Suge Knight), em Las Vegas, após um combate de boxe entre Mike Tyson e Bruce Seldon.

27 de Outubro de 2006

Back to Black, de Amy Winehouse, é editado

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Querer ser como os que fizeram o R&B de ‘50 e ‘60 é legítimo, nunca mais a canção pop voltou a ser um monumento de adoração como naquele tempo. Mas voltar a sê-lo com categoria é dos desafios mais difíceis de enfrentar. Amy Winehouse foi das que mais perto esteve.

Com Back To Black juntou os ingredientes que noutros tempos faziam a diferença: uma banda perfeita (os Dap Kings), trabalho de estúdio exigente, produção cuidada (por Mark Ronson e Salaam Remi) e um talento tremendo, para escrever e para interpretar. Back To Black fez o percurso que tinha a fazer – todos os prémios, os números das vendas e um sucesso difícil de digerir e superar. E teve pouco tempo para que lhe déssemos a devida atenção, antes que procurássemos em Amy Winehouse outras histórias.

Mas é um disco de 35 minutos sem máculas, com canções quase tão boas como a entrega que Winehouse lhes dedicou. Quem o põe a rodar precisa de pouco para perceber a sorte que tem.