Cinco Ideal:
Beastie Boys

 

Tendo começado como banda punk nos finais dos anos ‘70, os Beastie Boys, projecto fundado por Ad-Rock, MCA e Mike D, conquistaram a sua reputação como “embaixadores” maiores de um género musical mais associado ao underground suburbano… negro. A banda foi, nos anos ‘80, crucial na abertura do mainstream aos sons do hip hop e, principalmente, na brilhante mistura de conceitos e universos tão diferentes na sua génese como o rock e o rap. Fizeram do rap e do hip hop uma plataforma musical acessível à juventude dos anos ‘80.

 

Por Pedro Costa

“No Sleep Till Brooklyn”

 

Uma das canções emblemáticas do primeiro álbum de estúdio dos Beastie Boys – License to Ill (1986) – dá pelo nome de “No Sleep till Brooklyn”. Um título adaptado do tema dos Motorhead “No Sleep till ‘Hammersmith”, com um riff de guitarra roubado ao clássico dos AC/DC “T.N.T.” (1975). A canção relata uma serie de peripécias na estrada com os próprios Beastie Boys, numa narrativa totalmente absorvida pelo espírito “sexo,drogas e rock and roll”. A produção pertence a Rick Rubin (o patrão da editora Def Jam), que promoveu a famosa “ponte

 

sonora” com o estilo metal, ao pedir a Kerry King – guitarrista dos Slayer, que gravavam o famoso Reign in Blood no estúdio ao lado dos Beastie Boys (igualmente com produção de Rubin) – que se deslocasse ao fundo do corredor para gravar um solo que ficaria para a história. “Nada de muito complicado” disse em tempos Kerry King, que recorda que tudo não durou mais de cinco minutos, sendo a sua participação captada em apenas dois takes.

“Hey Ladies”

 

O segundo álbum da banda nova-iorquina, Paul´s Boutique (1989), já com “Ad-Rock ” (Adam Horovitz), é hoje considerado um clássico do género rap/hip-hop mas, na altura do lançamento, foi apelidado de verdadeiro falhanço. A verdade é que, na época, a banda era vista como um simpático conjunto de rapazes brancos que brincavam à “música negra”, que não passariam de uma moda efémera. “Hey Ladies”, um dos singles desse disco, lançado no verão de 1989, utiliza 14 referências musicais diferentes, desde “Shake your pants” dos Cameo, ”Machine Gun” dos Commodores e também “Jungle Boogie” dos Kool and the Gang.

 

O vídeo, ao estilo de “Saturday Night Fever, foi estreado na MTV no dia 25 de julho de 1989, para alguns um dia histórico para o hip hop, em que, para além da música, os Beastie Boys inauguravam também o conceito visual de uma nova consciência que perdura nos dias de hoje. “Hey Ladies”, uma canção sobre o que os homens são capazes de fazer para obterem a atenção feminina – no caso, sexo -, foi também o primeiro single da história a entrar no top 20 de duas tabelas diferentes: Hot Rap Singles e Modern Rock.

“Sabotage”

 

Ill Comunication foi o segundo disco dos Beastie Boys a chegar a n.º 1 na tabela norte americana de álbuns, e o terceiro da banda a atingir o estatuto de tripla platina, o que no mercado americano significa mais de três milhões de unidades vendidas. “Sabotage” foi de facto a canção que ajudou a que este sucesso fosse uma realidade. O tema foi construído sob uma base instrumental de rock, com “scratches” de gira-discos, idealizada pelo malogrado Adam “MCA” Yauch. Gravada em Nova Iorque, no famoso “Tin Pan Alley Studio”, foi ainda uma das primeiras a ser captada em fita nas sessões de Ill Comunication.

 

Permaneceu durante um ano como um instrumental como um instrumental e, já em Los Angeles, Adam “Ad-Rock” Horovitz acrescentou a letra, a menos de duas semanas do álbum ser posto à venda. Associado ao som desta canção temos, igualmente, as imagens do simbólico vídeo de Spike Jonze gravado quase por “acaso”, após a banda se ter mascarado de polícias à paisana para uma sessão de fotos. O conceito é mesmo esse: a paródia a alguns shows policiais televisivos da década de setenta como Chips, Hawaii Five-0 e Streets of San Francisco. No vídeo, cada um dos membros dos Beastie Boys é apresentado como personagem de uma serie de televisão imaginária intitulada… “Sabotage”.

“Rhymin & Stealin”

 

 

A ponte perfeita entre os universos do rap e do rock, graças à mestria do produtor Rick Rubin. Mais uma para o álbum de estreia que transformou três adolescentes judeus da classe média num fenómeno “Showbiz”… e pesadelo para qualquer encarregado de educação mais atento.

A canção que abre Licensed to Ill vai buscar o “intro” de bateria de John Bonham no tema “When the Levee Breaks”, um clássico dos Led Zeppelin, “samplado” em fita em estúdio e posteriormente trabalhado como “loop”.

“Rhymin & Stealin” tem também referências sonoras aos Black Sabbath através do tema “Sweet Leaf” e à versão dos Clash do referencial rock and roll “I Fought the Law”.

 

“Sure Shot”

 

 

Uma das canções preferidas de Adam “King Ad-Rock” Horovitz. Exemplo de um tema hip hop “puro e duro”, misturado com um arranjo ao estilo punk rock quase matemático: intro- verso-refrão-verso-refrão-break-refrão-verso-refrão-conclusão. Exemplo raro, igualmente, de uma canção do universo hip hop que utiliza o som da flauta como instrumento em destaque.

Um som “samplado”, de Howlin for Judy (1970), do flautista jazz Jeremy Steig que confessou em tempos a importância deste facto – a utilização do sampler e respectivo pagamento dos direitos de autor – face a períodos de algumas dificuldades económicas que chegou a passar.