15 Canções para o Euro

Agora que vem aí o futebol total, escolhemos uma banda sonora possível para as partidas de mais um campeonato da Europa. São canções escritas de propósito para a bola, inspiradas ou por ídolos ou simplesmente apropriadas pelos adeptos. Que comecem os jogos.


 

Por Tiago Pereira

 

Sheiks – “Eusébio” (1966)

 

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“Eusébio, tu é que és o tal, Eusébio, o melhor de Portugal”. O país em 1966 a delirar com os Magriços, com um Mundial que, em Inglaterra, tornava o jogo nosso. E os Sheiks, os reis de um R&B português, os patrões do yé-yé a vestir a camisola da selecção. Era difícil fazer mais sentido do que isto. Sem esquecer que os clubismos não estavam na agenda – uma das vozes dos Sheiks, por exemplo, era o sportinguista Carlos Mendes. 50 anos depois, a canção tem caminho aberto para todas as pistas de dança. Quando rodar, onde rodar, sem bola, não importa, “Eusébio” vai ser sempre a tal.

Conjunto Sem Nome – “O Joelho do Eusébio” (1969)

 

Conjunto Sem Nome

 

É uma marcha, é uma festa. Não há outra canção que ponha o povo a bailar e a cantar palavras como “menisco” com esta categoria. “Parou, driblou, e a bola como uma bala partiu.” O Conjunto Sem Nome a transformar Eusébio naquilo que era e continua a ser: um santo popular, um padroeiro de todos os bairros, que se danem as fronteiras e as ruas.

A canção, de 1969, lembrava como o Pantera Negra seria sempre o maior, nos relvados, lesionado ou fora de jogo. Isso nunca interessou, continua a não interessar.

Sérgio Godinho – “Espectáculo” (1979)

 

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A canção chama-se “Espectáculo” e não é necessariamente sobre bola, também mete palcos e televisões e encontros privados fora das luzes da ribalta, que às vezes não fazem falta nem seduzem. Mas é com futebol que o tema arranca e difícil desligarmo-nos disso. “Desce-me essa escada, vem deitar-te na grama”, canta o mestre Godinho. E até o gordo que sempre foi à baliza tem de repente vontade de estar no meio campo com a mania que é número 10, a distribuir jogo como o faz quando manda na Playstation. “Uma bola que está à espera de um penalti que eu vou transformar para ti.” Há lá revienga de amor mais romântica que esta?

Gerry & The Pacemakers – “You’ll Never Walk Alone” (1963)

 

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A história não falha. Esta canção não nasceu em Anfield Road, mítico estádio do Liverpool. Na verdade, o tema foi escrito pela dupla Rodgers e Hammerstein, para o musical da Broadway “Carousel”.

Quase 20 anos depois, Gerry Marsden, líder dos Pacemakers, mostrava a Bill Shankly, o mais histórico dos treinadores do Liverpool, uma gravação do tema. Rapidamente a notícia correu como “é este o novo hino do clube”. Daí até chegar às bancadas foi preciso pouco. E nas décadas seguintes, “You’ll Never Walk Alone” foi mesmo apropriado por adeptos de outros clubes.

O que é que a canção tem de futebol? Tudo. Sozinho? Nunca. É só isso que é preciso saber

Vitorino – “Quero ir à Bola” (2004)

 

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Alguém tem explicar isto: como é que esta canção, a meias entre Vitorino e Manuel João Vieira, ainda não foi decorada do princípio ao fim pelas claques mais trabalhadoras deste país? Como? Clássico absoluto dos relvados modernos transformados em disco, é um dos temas incluídos em “Ninguém nos Ganha aos Matraquilhos”, álbum dedicado inteiramente às maravilhas do desporto rei.

É um choro pela vitória, é o grito melancólico do tipo que perdeu mas que vai regressar na semana que vem. E é um desculpa tão boa como outra qualquer para um brinde. E outro. E só mais um que amanhã há jogo.

Jorge Ben Jor – “Fio Maravilha” (1972)

 

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Que coisa bonita. Era uma vez um adepto do Flamengo, uma das principais equipas do Rio de Janeiro – as outras serão, claro, o Fluminense, o Botafogo e o Vasco da Gama. Melhor: era uma vez um apaixonado pelo jogo de João Batista de Sales, um tipo que não ficou na histórias das maiores estrelas da bola mas que entre as décadas de 60 e 70 se revelou fundamental em muitos momentos chave da equipa. O jogo de Sales era tão especial que teve direito a alcunha e tudo: Fio Maravilha.

O mesmo nome que Jorge Ben Jor – o tal adpeto o flamengo – usou para dar título à canção que elogia os feitos de João Batista. É uma melancólica ode a um homem que, sem nunca chegar ao epíteto de “fenómeno”, se fez insubstituível.

The Marcels – “Blue Moon” (1961)

 

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Aqui é tudo uma questão de história. Recordemos. O Manchester City foi fundado em 1880 e ganhou a Premier League pela primeira vez na temporada de 1936-37. Depois teve de esperar 30 anos para conquistar outra vez o título, em 67-68. Mais grave foi a o tempo necessário até chegar ao terceiro campeonato: 2011-12. Foi um retorno mágico e surpreendente, que levou os adeptos do clube ao delírio.

A equipa, que veste de azul, teve então direito a uma constante declaração de amor por parte do público, que passou a cantar “Blue Moon” com regularidade nos estádios. O standard criado por Rodgers e Hart transformou-se num agradecimento sentido, quase uma atracção turística para quem visita o estádio do Manchester City. Já agora, a última vez que o clube ganhou a Premier League foi em 2013-14.

No meio de tudo isto, talvez a interpretação em modo doo-wop dos The Marcels, continue a ser uma das mais populares.

The White Stripes – “Seven Nation Army” (2003)

 

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“Mas isto não foi escrito para jogos de futebol. Estes tipos são americanos, sabem lá eles o que é isso de jogar à bola.” É tudo verdade, mas também é certo que não há fã do 11 contra 11 que não ouça os White Stripes e não sinta que esta canção tem tudo a ver com o seu clube, com as lutas no relvado, com a corrida para a bola, com a defesa da camisola, com a loucura nas bancadas – mais a loucura que se segue fora do estádio depois da vitória naquela final, aquela que realmente interessa.

A guitarra de Jack White transformou-se num hino à conquista de três pontos, cantado de mãos esticadas no ar como quem diz “venham lá que nós ganhamos, nós resolvemos”. Esperem até o europeu começar.

Kirsty MacColl – “England 2 – Colombia 0” (2000)

 

Kirsty MacColl

 

Uma canção sobre uma história de desamor, em que tudo se revela enquanto a Inglaterra ganha à Colômbia por 2 a 0 durante o campeonato do mundo de 1998.

Kirsty MacColl recorda aquela triste apaixonada que descobre, no pub em que a partida leva os ingleses à loucura, que afinal o amor da sua vida é um mentiroso. Afinal é casado, tem três filhos e ela ali, agarrada à bebida e ao balcão. Ao menos, canta-nos Kirsty, agora já sabe a que sabe perder de forma tão desgraçada.

Porque o futebol é a vida, a vida está no relvado, são 11 contra 11 e no fim alguém tem de perder, não há hipótese.

Sham 69 – “Hurry Up England” (2006)

 

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O hino que os heróis punk gravaram para apoiar a selecção inglesa durante o mundial de 2006, na Alemanha. Isto diz muito sobretudo aos portugueses. Fomos nós que eliminámos os ingleses nos quartos de final. Foi preciso ir a penaltis mas e então? Os Sham 69 esforçam-se, é bastante claro, mas não havia nada fazer. Depois as coisas não correram muito bem, fomos eliminados pela França e havia muito a dizer sobre isso.

Mas aqui o que interessa é a Inglaterra. E a verdade é que não havia muito a fazer pelos Sham 69, quando na verdade esta canção é uma versão de “Hurry Up Harry”, de 1978.

The Pogues – “Jack’s Heroes” (1990)

 

The Pogues

 

Itália 90, o campeonato do mundo que acolheu a selecção da República da Irlanda e que a viu chegar aos quartos de final, depois de três empates na fase de grupos e após a vitória contra a Roménia. Quartos de final, isso mesmo. Contra quem? Os italianos, no estádio Olímpico de Roma. Ah, injustiça. A aventura acabou aí, depois de um miserável 1-0. Mas nunca mais ninguém esqueceu Jack Charlton, o seleccionador que transformou os jogadores em filhos, de tal maneira que os irlandeses para sempre o guardam como um herói nacional.

Que o diga Shane McGowan, que aqui canta, como só ele sabe, que irá seguir a rapaziada de Jack para qualquer parte. Para toda a parte.

Morrissey – “Munich Air Disaster 1958” (2004)

 

Morrissey, “Munich Air Disaster 1958”, 2004

 

Gostamos deles. Choramos por eles. Rapazes de pouca sorte. Temos saudades e Morrissey canta tudo isto com uma categoria e uma classe que não surpreendem, é só isto que o homem sabe fazer.

A canção é uma homenagem à equipa do Manchester United que em 1958 perdeu oito jogadores e três técnicos num acidente de avião, numa pista do aeroporto de Munique (depois de um jogo a contar para a Taça dos Campeões Europeus).

Morrissey, já se sabe, pode dar voz ao que quiser mas tem uma classe especial para melancolias trágicas. A que canta neste tema é perfeita.

Manu Chao – “La Vida Tombola” (2007)

 

Manu Chao, “La Vida Tombola”, 2007

 

Se Manu Chao fosse Maradona, havia de ganhar a tudo e a todos, não seria parado por nenhum guarda redes, muito menos pela FIFA, esses que são os verdadeiros ladrões. A vida é uma sorte, depende do lado para onde o azar cai.

O mesmo Manu Chao já tocou esta canção frente a frente com Maradona, já tocou na mão de Deus e isso não é para todos.

É uma ode ao melhor jogador de todos os tempos (podemos dizê-lo assim, certo? ninguém leva a mal) e, ao mesmo tempo, uma sentida declaração de amor à pilantragem.

The Stone Roses – “This is The One” (1989)

 

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Qualquer desculpa é boa para pôr a tocar uma canção do primeiro álbum dos Stone Roses, uma das melhores coisas que a humanidade alguma vez fez.

Mas aqui fala-se de futebol e a verdade é que tudo faz sentido. Ian Brown, adepto ferrenho do Manchester United, habitual detentor de bilhete de época, terá ficado radiante quando a equipa decidiu que esta canção passaria a servir de banda sonora para a entrada dos jogadores do United no relvado.

Tudo o que agora importa é que José Mourinho não mexa nisto, pelo menos neste detalhe ele que não toque. Quanto ao resto, ele que faça o que tiver de fazer.

Kasabian – “Fire” (2009)

 

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É uma canção sobre pilantras, sobre tipos safados, gente que acredita na vitória, sempre. Parece coisa de cowboys dos tempos modernos, gente que está arder, que tem mais do que fazer do que ficar quieto. É só isso. E isso é futebol.

Quem é que o percebeu muito bem? Claudio Ranieri, treinado do Leicester, que este ano foi campeão inglês pela primeira vez. Leicester que é também a cidade de onde vêm estes Kasabian. Tudo fez sentido quando chegou a hora de celebrar o título.

Agora que vá lá alguém dizer a esta rapaziada que isto não é uma canção de bola. Está certo…