As pinturas de Almada Negreiros nas gares marítimas de Alcântara e da Rocha do Conde d’Óbidos são pouco conhecidas dos portugueses. A primeira razão é que as naves das gares, onde estão as espantosas e monumentais pinturas de Almada, não estão, por norma, abertas ao público e só podem visitar-se com marcação prévia junto do Porto de Lisboa. E em parte porque, apesar do seu efeito espetacular, a verdade é que os painéis estão colocados a cerca de três metros do chão, o que significa que são as pinturas que nos olham de cima para baixo. O espetador só subindo a um escadote pode olhá-las de frente. Foi o que fizemos no Visita Guiada. No Porto de Lisboa não havia um escadote que nos pudessem emprestar. Então a carrinha da RTP onde se desloca a equipa passou por minha casa e enfiámos lá para dentro o escadote que uso para as limpezas domésticas dos tetos e das estantes. No local, o nosso colega José Manso emaranhou-se no alto escadote, fixou a câmara com uma forte fita adesiva e fez as imagens detalhadas de cada painel, um a um. De cada vez que carregava no botão “rec” tinha de descer porque o escadote não oferecia estabilidade para uma imagem sem tremuras, mas não desistiu. Foi assim que, pela primeira vez, todos pudemos ver estas obras de Almada de frente. Mesmo algumas das pessoas que conheciam as gares de Alcântara e da Rocha do Conde d’Óbidos e já se tinham impressionado com os painéis, ao ver as imagens do José Manso, se espantaram com a qualidade dos detalhes das pinturas. Não nos digam a nós, equipa do VG, que não se fazem coisas porque não há condições: com vontade, imaginação e trabalho (quase) tudo se pode fazer.