Diana: as bruxas não existem

"Eu sou uma bruxa boa. Há muitas bruxas em Portugal"

Diana tem 46 anos. Tem um olhar e uma voz tão doces que quando diz, sem hesitar, que é uma bruxa, tendemos a ficar perplexos. A palavra bruxa, talvez por causa dos filmes infantis, lembra-nos um mundo sombrio, feito de caldeirões e rituais com cânticos de palavras imperceptíveis. Mas Diana assemelha-se mais a uma pessoa a quem pediríamos conselhos ou que poderíamos ouvir durante horas.

Está, na verdade, habituada a isso. Diana é yoguini e terapeuta energética e é também investigadora e professora universitária, preocupando-se sobremaneira com o papel feminino na sociedade e com a natureza. O mundo espiritual e o mundo da lógica jogam assim nas mesmas linhas, mas não são avaliados com a mesma compreensão. A lógica da Academia está sobretudo associada à ponderação, aos estudos sociais repetidos e validados; a espiritualidade respeita a energia, os seres de luz e rituais mágicos que nem as religiões sabem aceitar.

Ser inteligente não passa somente pelo exercício da mera racionalidade. Na Academia isso é equacionado como sendo equivalente e no entanto nós hoje já falamos de inteligência emocional e de outros tipos de inteligência. Como por exemplo a intuição; a que nós mulheres estamos muito ligadas por ciclos hormonais… e que vamos recalcando.

Diana assume-se como bruxa porque quer oferecer a essa palavra o valor positivo que relembre os milhões de mulheres perseguidas – sobretudo pela Igreja – por terem um saber ligado à magia e à comunhão com o mundo natural.

Quem são as bruxas? São sobretudo mulheres ligadas a um tipo de saber alternativo. O que estava fora das instituições, fora da religião organizada e da medicina. Essas mulheres recorriam ao mundo natural e curavam. A religião queria ela própria monopolizar esse acesso aos transcendente. E acabou por o cristalizar.

Entre os colegas universitários e mesmo dentro do seio familiar há um cepticismo em relação ao tema da espiritualidade pela qual escolhe também pautar a sua vida. “Na academia sou demasiado freak e entre os freaks sou demasiado académica”, confirma. Até os alunos a consideram diferente de todos os outros professores.

Eu acho que eles têm medo que eu os transforme em sapos!

O acesso à espiritualidade é um trabalho individual, feito em comunidade ou numa constante percepção de si próprio. A terapia energética que faz com outras pessoas é uma terapia de síntese, que reúne uma série de saberes que recolheu de outras vidas e das indicações dos guias ou seres de luz que a acompanham. Usa esses saberes de forma intuitiva.

Eu trabalho com as mãos – passo energia através das mãos, limpo através das mãos -, utilizo cristais, utilizo taças tibetanas que é uma vibração que muitas vezes é ótima para harmonizar e desbloquear, muitas vezes com um som forte. E uso também voz, cânticos.

Não há, no entanto, um livro de rituais infalíveis que nos encaminhem para a energia certa. Os rituais mágicos que segue e partilha acreditam no livre arbítrio e que são realizados com a intenção de mudar alguma coisa; especialmente dentro de cada um. A sociedade materialista que promove a idoneidade e a desconexão com a dor é a mesma que nos cria ansiedade e a obsessão pelo controlo.

Temos de começar a abrir mais a nossa visão, a sair desta história que nos consome, do lucro imediato, e ter uma perspetiva mais mágica sobre o mundo.

Mais Histórias

Sou anti-preconceito e tenho uma história (minha) para contar

Só precisas de submeter aqui!

Enviar história