Pedro da Silva Martins e Lena d’Água conheceram-se, curiosamente, enquanto jurados do Festival Alternativo da Canção. Na altura, a partilha de um lugar no programa original que lhe deu o nome estava muito longe dos pensamentos de ambos. Tornou-se uma realidade no momento em que Pedro da Silva Martins aceitou o convite da RTP – em 2017, vão assumir, juntos a 2.ª canção da 2.ª semifinal.

Foi a frescura da voz de Lena d’Água que o fez escolhê-la, depois de ter ouvido cantar no evento organizado por Fernando Alvim e ter ficado estarrecido, como se viajasse no tempo, numa magia irrepetível.

Eu parti para o tema já a pensar na voz da Lena d’Água. Sempre tive um fascínio por aquela voz que me estimulava e me fazia ter ideias. Mal apareceu o convite da RTP eu lembrei-me logo. Também era um desafio para mim estar a escrever para a voz da Lena que já tem outra experiência e outra maturidade completamente diferente das minhas (…) O desafio passou a ser: quero escrever algo que seja credível e que seja pertinente hoje em dia, que vá ao encontro desta ideia de canção de festival e que seja competitiva, claro, explicou-nos.

Apesar de ser uma figura incontornável da canção portuguesa, Lena d’Água nunca participou no Festival da Canção em nome próprio. Em conjunto com a cantora, Pedro quis fazer um tema que, não sendo biográfico, estivesse próximo da pessoa para a qual escrevia.

Gosto de tentar que a letra e as palavras sirvam da melhor forma a pessoa que vai cantar. Não é biográfica mas vai ao encontro da ideia ou de uma pessoa que tivesse uma vida parecida com a da Lena. 

O compositor dos Deolinda – ou da Deolinda, como a banda diz – já havia comentado com Márcia e Samuel Úria da necessidade de criar um festival, um programa ou um projeto que desse a conhecer ao público em geral a nova e frutífera música portuguesa da atualidade. O convite da RTP a tantos dos artistas que têm dado um contributo para a área foi perfeito para pôr a ideia em prática.

Achamos que havia uma lacuna de um festival ou de um programa de televisão que fosse apelativo e que mostrasse o trabalho que se tem feito, em termos de autoria, de intérpretes. A música portuguesa está numa forma muito saudável, a atravessar um momento que há anos que não acontecia (…) E pensámos na televisão como uma montra do que está a acontecer, do que se tem feito como bandas, como autores; nós estamos todos a trabalhar para muita gente, há intérpretes a cantarem canções nossas em todo o mundo.

A televisão torna-se assim a casa-mãe de um movimento artístico que visa dar protagonismo ao que de bom se vai fazendo na música portuguesa. Mas Pedro da Silva Martins não esquece o carácter competitivo do certame.

Isto ainda pode ser o primeiro passo de algo muito maior. No sentido do Festival começar a ser um momento para mostrar a forma dos autores e dos intérpretes e este desafio continuar no tempo e repetir-se nos próximos anos com mais autores e intérpretes e com mais tempo de trabalho.

A canção Eu Nunca me fui Embora será a 2.ª em palco na 2.ª semifinal do Festival da Canção 2017, agendada para dia 26 de fevereiro.