Pode dizer-se que Nuno Gonçalves é um perfeccionista. O compositor de excelência dos The Gift aposta na qualidade indiscutível do tema que ocupará o 8.º e último lugar no alinhamento da 1.ª Semifinal do Festival da Canção 2017. Para representar o seu trabalho escolheu um trio a que deu o nome de Viva la Diva, composto por Kika Cardoso (vencedora do programa de talentos Factor X), Luís Peças e João Paulo Ferreira.

A viver em Madrid, Nuno Gonçalves tem uma agenda profissional cheia de responsabilidades que não descura. Apesar dos timings a que a agenda da RTP obriga, a participação a que se predispôs no Festival da Canção não terá menos empenho do que uma canção pensada para a banda de Alcobaça.

A maqueta que enviei não era para ser ouvida, só enviei para cumprir o prazo estipulado. Custa-me piorar as coisas por causa do timing. Sobre a música completa e finalizada, vou entregá-la na data, mas possivelmente sem orquestra. Até dia 19 há sempre algo a melhorar…

O trio que escolheu inclui uma voz feminina e dois tenores. O nome Viva La Diva lembra o refrão da canção que representou Israel na Eurovisão em 1998, mas foi apenas uma coincidência, mas se isso significar mais pontos, Nuno Gonçalves fica muito contente.

Escolhi esse nome porque queria salutar as coisas boas da vida. A música tem de ser algo mais do que vender ou não vender. Gosto de dar esperança às pessoas pela música e queria algo que refletisse essa esperança. Para além disso, temos a Kika que é uma diva e dois quase castratti e achei que seria muito a propósito.

A escolha destes três talentos para darem voz ao tema que compôs não foi um acaso e não pretende que seja um grupo one hit only. Nuno Gonçalves acredita enquanto produtor e compositor que é preciso nutrir este género de vozes e dar-lhes um projeto.

Tal como fiz com o grupo Amália Hoje, acredito que este género de grupos nasce para criar um projeto que viva depois de uma canção e, no caso, até depois de uma pontuação. A música é mais do que uma classificação. Em relação a este grupo, tenho esperança que não se fique por um tema e, quem sabe, que venha a gravar um EP com seis músicas. Tendo um nome já é meio caminho para que se torne uma coisa que tenha uma vida própria.

O compositor estava acompanhado por Sónia Tavares quando recebeu o convite da RTP pelo telefone. Prontamente discutiu com a amiga e colega alguns intérpretes que poderiam fazer parte deste projeto. Foi a vocalista dos The Gift, também jurada no Factor X, que sugeriu Kika, garantindo que para além de talentosa, era humilde e ficaria bem no papel.
Luís Peças, por outro lado, faz parte dos conhecimentos de Nuno e em 95 chegou a cantar com os The Gift. Quando o grupo que integrava – e onde estava incluído João Paulo Ferreira – deixou de poder animar o Mosteiro de Alcobaça, o contratenor e levou a música para a rua.

Foi uma situação deplorável e de louvar ao mesmo tempo, pelo tipo de música que fazem. Por isso achei que era importante conceder-lhes também este momento.

A canção em si é o que mais preocupa Nuno Gonçalves que não se inibe de imaginar também uma envolvência cénica que faça jus ao tema, mas sobretudo que deixe confortável os protagonistas de Viva la Diva.

Pensei numa coisa colorida mas monocromática, com cores sólidas. Mas o importante é que eles estejam elegantes, bonitos e, sobretudo, a cantar bem. Prefiro que a música tenha qualidade, ainda que tenha imaginado um cenário pop-arte monocromático (…) Quando havia algum azar em palco ou quando não se podem fazer testes de som antes do espetáculo, penso que é uma ofensa para quem paga bilhete. Estamos ali para dar um espetáculo e a qualidade é essencial.

A música é o factor determinante que o terá levado a aceitar o convite da RTP, para além da carga histórica que o Festival encerra e que torna a participação na concretização do sonho de infância. Para além disso, o compositor sente-se lisonjeado por ter sido integrado num grupo de compositores tão reconhecido.

Tenho curiosidade acerca das outras canções, mas há uma classificação no final. Há um júri. Não é só uma mostra de música portuguesa e a competição também está lá. 

A Eurovisão não é o destino mais próximo de Nuno Gonçalves. Sobre a participação no certame nacional deste ano, o compositor pensa passo-a-passo, melhorando o que pode e dando apoio no que, até ver, dependa do seu trabalho.

O foco é fazer a melhor canção possível, eles estarem confortáveis e assumirem o lugar de líderes de projeto. O objetivo inicial é criar uma canção visível e notável para o Festival e ganhar um dos quatro lugares para a final. Depois na final o lugar cimeiro era ótimo.

A canção de Nuno Gonçalves chama-se Nova Glória e pretende reativar a boa música no Festival da Canção. Será o último tema a concorrer na 1.ª Semifinal do Festival da Canção 2017.