Nuno Figueiredo e Jorge Benvinda são a dupla que vai representar a canção n.º7 da 2.ª Semifinal do Festival da Canção 2017. O convite da RTP requereu alguma ponderação por parte do compositor Nuno Figueiredo por não ser um desafio ao qual está habituado, mas rapidamente acedeu depois de conhecer os “companheiros de composição”.

Eu acho que um dos maiores medos era não termos referências, estávamos a partir do zero e o que nos foi dado foi total liberdade. Nos primeiros dias foi o desafio de perceber qual seria a linha que eu ia seguir, mas depois acho que consegui enquadrar bem a ideia que me surgiu no objetivo da canção.

Quanto à canção que compos especialmente para o evento, é evidente o carácter ritmado e divertido do que propõe.

A canção segue a minha linha de composição. Por um lado a ironia das palavras, a história tem uma série de alusões àquilo que somos enquanto povo português, o nosso modo de estar, aqueles pormenores que caracterizam a nossa forma de estar e de viver, que é uma que eu gosto de caracterizar nas letras das músicas; e por outro lado a presença inconfundível do Jorge e da voz do Jorge.

Jorge Benvinda partilha os palcos com Nuno Figueiredo nos Virgem Suta. A dupla tem por isso uma ligação e uma familiaridade muito particular que torna o trabalho mais proveitoso.

Eu pensei no Jorge desde o início. Tenho a pessoa mesmo ao meu lado e não conseguia conceber outra pessoa a cantar isto, porque é mesmo preciso ir de peito aberto para cantar aquilo e com toda a confiança (…) As palavras têm de estar todas ali muito certinhas porque senão não cabe. Se não couberem corre tudo mal, não dá para respirar!

Tal como nos Virgem Suta, a letra de Gente Bestial será em português – sobretudo porque também fala do povo que tão bem representa a língua. A escolha da língua não foi uma questão, da mesma forma que Nuno não considera que

Eu nem sequer pensei na hipótese de escrever noutra língua porque não tenho a mesma destreza e gosto particularmente da língua portuguesa para as minhas brincadeiras fonéticas e para os jogos de palavras que uso. Não seria capaz de fazer de outra forma e noutro idioma. Para mim não me choca cantar em português. Lá porque o objetivo final ser um certame que não é em Portugal não implica que eu tenha de fazer concessões àquilo que é a minha forma de compor.

A canção é um elogio à forma de ser dos portugueses, que a uns pode parecer uma forma de estar muito desregulada mas que é na verdade “a melhor forma de levar a coisa”.

Quando tens um país bonito, quando tens um país com sol, quando tens um país com coisas boas para usufruir, é impossível que alguém pense em conter-se em relação a certas coisas. Isto é mesmo o reflexo do que somos e eu gosto muito destas diferenças entre povos. A ideia de se globalizar tudo para que esteja tudo mais próximo não nos aproxima nada… Faz até crescer barreiras onde elas não deviam existir.

É esta essência de ser português que está bem patente em Gente Bestial, sem entrar em melancolias e de forma ritmada, elogiosa e alegre. Nuno Figueiredo junta-se a Jorge Benvinda e Bruno Vasconcelos – produtor da canção – em palco.

Será um momento divertido da nossa vida na música, que tem tantas dificuldades. Vai dar-nos um gosto especial. Festival da Canção olé!

Será a penúltima atuação da 2.ª semifinal, agendada para dia 26 de fevereiro.

Foto: Sérgio Aires