Sandra Felgueiras em entrevista

Sandra Felgueiras é jornalista da RTP e é a cara do Sexta às 9, um programa semanal de jornalismo de investigação. A jornalista está habituada a fazer perguntas, mas, desta vez, respondeu.

Como é estar no papel de entrevistada?
“Sinto-me sempre estranha porque não é o meu papel de conforto. É como entrevistadora que eu me sinto bem. Eu sou uma curiosa por natureza; a arte da pergunta é algo que me está no sangue. Estou sempre a fazer perguntas ao outros e responder é sempre um terreno mais pantanoso, mas não quer dizer que não dê a volta. Sou uma sobrevivente, estou habituada a dar a volta.”

“Às vezes onde os outros não encontram interesse em questionar e perguntar porquê, eu pergunto. Fiquei sempre com um lado muito infantil, do porquê”

Ser mãe mudou alguma coisa?
“Mudou. Logo a começar porque eu comecei a ter de articular a minha vida e agenda de uma forma minuciosa e adaptada às necessidades da Sara. Passo a vida a correr a ir a casa ver se a Sara está bem. E depois também me fez olhar para alguns assuntos com outra profundidade. Não quer dizer que eu não olhasse para as temáticas dos interesses das crianças com preocupação, mas agora talvez me toquem de outra forma.”

Sandra Felgueiras com a filha

E isso influenciou no caso Leandro Monteiro?
“Acho que antes de ser mãe, teria feito tudo da mesma forma. Mas se me perguntas se sofri mais, respondo-te que sim. Como mãe, sofri horrores quando vi o Leandro. Olhar para ele e ver que é um miúdo que não teve ninguém que se preocupasse com ele… a quem tudo o que de pior aconteceu: ter sido violado, mandado para uma instituição, ser alvo de uma mentira hedionda e ter ido parar à prisão…”

Reportagem do Sexta às 9 sobre o regresso à liberdade de Leandro

“Olhei para ele e vi abandono e isso é absurdamente insdiscritível de tão mau que é. E uma sociedade que tira o sonho a um jovem não é uma sociedade.”

“Nesse momento eu soube que olhei para o Leandro como mãe. No dia em que vi o Leandro sair da prisão chorei baba e ranho”

Leandro Monteiro

“A Sandra Felgueiras, mãe, sentiu o caso Leandro de forma diferente. A minha necessidade de contenção, de estabelecer uma parede entre o que eu sentia e aquilo de que eu precisava para ser profissional, justa, rigorosa.”

Sem o Sexta às 9 o Leandro continuava preso?
“Sem falsas modéstias, sinto que às tantas o Leandro não teria saído da prisão sem o Sexta às 9. Às vezes, não queremos acreditar que a comunicação social muda a vida das pessoas porque não queremos acreditar que o nosso mundo possa ser tão imperfeito que precise de uma ação tão ostensiva para ser alterado.”

“Depois de ter ido a Chaves, e perceber o escabroso processo em que o Leandro estava envolvido, eu não tenho grandes dúvidas de que ele teria continuado preso se não tivéssemos feito nada”

Para o Sexta às 9 há limites?
“Não, o único limite é a descoberta total da verdade. O Sexta às 9 existe para que as verdades que são difíceis de encontrar, que o jornalismo diário tem dificuldade em encontrar, porque exijem muita investigação. Estamos no registo que, na minha perspetiva, é o mais gratificante do jornalismo: perceber a origem das coisas.”

“Verificar que as pessoas sentem que o que fazemos é uma mais valia é muito gratificante.”

Não tens saudades do norte?
“Tenho e não tenho. Vivi 18 anos no norte e estou em Lisboa há 20. Eu tenho uma ideia do norte que quando lá chego já não é a mesma coisa. E fora os momentos de família e amigos, eu já não me reconheço lá. Já não me imagino a viver lá.”

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