• Poder Soul

    9 julho 2018 – 13 julho 2018

    Segunda-feira

    Ray Agee

    The wobble-Oo

    Tri Delt

    Cantor e escritor de canções, Ray Agee nasceu no Alabama, no seio de uma enorme família, profundamente religiosa, com quem se mudou para Los Angeles, no fim da década de 30, onde viria a formar o grupo Gospel – Agee Brothers – com três dos seus dezasseis irmãos, iniciando uma carreira que lhe deveria ter rendido outra notoriedade, mas que lhe valeu um estatuto de culto no meio da cena especializada, até porque é uma daquelas vozes profundas e incisivas que tanto contribuíram para a “invenção” da Soul.

    No princípio dos anos 50 trocou o Gospel pela música secular e, nas duas décadas que se seguiram, gravou mais de quatro dezenas de singles para editoras como a Queen, a Elko, a Spark, a Cash, a Ebb, a Veltone, a Shirley, a Tri Delt, a Krafton, a Celeste, a Jewel, a Soultown ou a Watts Way, entre outras, alguns dos quais são verdadeiros clássicos.

    “The wobble-Oo” é um desses discos indispensáveis e aquele que aqui trago, talvez porque ainda não tenha conseguido juntar “I’m losing again” ou “I’m coming home” à minha coleção.

    Gravada em 62 para a Tri Delt, esta enorme canção, que abre com uma daquelas intensas intros vocais de que tanto gosto, cruza de forma genial Rhythm & Blues e a mais visceral Soul e mostra bem o talento impar de Ray Agee que, além de ser um extraordinário vocalista, escreveu temas de grande qualidade que foram gravados por nomes como Bobby Bland ou Johnny “Guitar” Watson.

    Um disco de raridade relativa que tem ganho um crescente protagonismo nos vários quadrantes da cena retro e que é uma peça essencial para qualquer coleção que cubra a melhor música negra gravada na década de 60.

     

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    9 julho 2018 – 13 julho 2018

    Terça-feira

    Everyday People

    Is it really that bad

    Acetato Forte / Athens of the North

    No fim da década de 60, Andre Hampton, Charlie Taylor, Len “Beaver” Pearson, Marvin Mitchell e Lawrence “LB” Colding, abandonam as bandas de garagem de Kansas City – Chargers, Airliners e Standells – para formarem os Everyday People.

    Em 69, depois de acabarem o Liceu, começaram a tocar intensamente nos clubes da cidade e, três anos mais tarde, vão até aos Damon Recording Studios, para uma sessão de gravação que resultou na edição do seu único disco – “Super black” – um dos mais raros sete-polegadas da cena Deep Funk, editado pela mítica independente local, fundada por Ellis Taylor, Forte Records.

    Não se sabe se “Is it really that bad” foi gravado na mesma sessão de gravação, nem é certo que tivesse sido registado para servir de base a uma canção do grupo vocal de New Jersey – The T.N.J.’s – mas este tema, que apenas foi prensado num par de acetatos, é, na minha opinião, o seu mais genial momento.

    Um espantoso instrumental Funk, carregado da mais solarenga Soul, que teve finalmente uma edição comercial, em 2013, quando foi incluído no volume da série da Numero Group – Eccentric Soul – dedicado à Forte Records e que, no ano passado, foi prensado no lado b da reedição em single de “Super Black”, feita pela incontornável Athens of the North.

     

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    9 julho 2018 – 13 julho 2018

    Quarta-feira

    Sweet Stuff

    Freaky (to you)

    Soultown

    Este é o único disco gravado por este misterioso grupo Californiano e nem Bobby Sanders, fundador da crucial independente de Los Angeles Soultown, se lembra da sua gravação, muito menos dos artistas que estiveram na sua génese.

    Editada na segunda metade dos anos 70, esta terá sido uma tentativa frustrada de capitalizar em cima do hit de 1975, do enorme Leon Haywood, que pode ter estado, tanto na origem como no fim, dos Sweet Stuff.

    Seja como for, este espantoso take é, na minha opinião, muito superior ao original.

    Infinitamente mais suja e provocadora, mais funky e futurista, esta versão cantada por uma bela e incógnita voz feminina, foi resgatada do esquecimento a que estava votada, em 2002, quando a Luv’n’Haight a incluiu na compilação “California Soul”.

    Não sendo um single incomportável no seu formato original tem, desde aí, composto as coleções dos mais obstinados adeptos da melhor Soul da década de 70 e sido uma presença regular nas pistas de dança especializadas.

     

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    9 julho 2018 – 13 julho 2018

    Quinta-feira

    Band of Thieves

    Love me or leave me

    Ovation

    A Band of Thieves começou a ganhar forma em Minneapolis quando, no fim de 1973, Napoleon Crayton abandona a nova encarnação dos Valdons e se junta ao guitarrista, nativo do Oklahoma, que se mudou para as Twin Cities para tocar primeiro com os Amazers e mais tarde com os Blazers e os Navajo Train, Donald Breedlove.

    Até 76, ano em que editou o seu único Lp, esta dupla foi reunindo à sua volta os velhos amigos Wilbur Cole, James “Creeper” Vasquez, Orville Shannon, Jeffrey McRaven, Bill Gaskill, Gary McKeen e Mark Maxwell, transformando a Band of Thieves numa oleada máquina, que construiu uma sólida reputação nos palcos locais, bem como em todo o Midwest americano e o sul do Canadá.

    Contratado pela Ovation Records, o grupo gravou, entre 76 e 77, dois Lps, no importante estúdio Sound 80, mas o segundo foi arquivado, depois de se terem desentendido com Herb Pilhofer, o arranjador que serviu de ponte com a editora.

    “Love me or leave me” faz parte do alinhamento daquele que acabou por ser o seu único disco, um sólido Lp que cruza, de forma competente, Soul, Funk e Disco e retrata na perfeição o imenso talento da Band of Thieves e da dupla que a comandava.

    Uma deliciosa balada, a pedir para ser samplada, que não deve nada aos maiores clássicos da exótica cena Low Rider, paradoxalmente nascida na dura comunidade chicana de Los Angeles mas que, nos últimos anos, tem servido de fonte de inspiração para os mais ambiciosos Djs europeus.

     

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    9 julho 2018 – 13 julho 2018

    Sexta-feira

    O’Jays

    I love music (part 1)

    Philadelphia International

    Compostos por Eddie Levert, Walter Williams e Eric Grant, os O’Jays são um dos mais importantes e bem-sucedidos grupos vocais da história da Soul.

    Nascidos em 1958, em Canton no Ohio, começaram por se chamar The Triumphs, gravaram dois singles para a King enquanto The Mascots e, no princípio da década de 60, adoptaram o nome O’Jays, em homenagem ao decisivo Dj de Cleveland, Eddie O’Jay, que apoiou as suas primeiras gravações.

    Depois de chegarem ao Top 100 nacional, em 63, com “Lonely drifter”, o seu quarto disco, os O’Jays arrancam para uma fulgurante carreira que nos deu um sem número de Lps e singles clássicos, para marcas como a Imperial, a Minit, a Bell ou a Neptune, nos anos 60, e para a Philadelphia International, onde gravaram os seus mais marcantes momentos, na década de 70.

    “I love music” é, provavelmente, o maior desses hinos.

    Esta extraordinária e épica canção escrita pela decisiva dupla Gamble e Huff, que estará entre os dez temas essenciais da Soul dos 70, foi gravada em 75 e, além de ter sido editada em sete-polegadas na versão curta que aqui vos trago, fecha o alinhamento do excelente Lp “Family reunion”.

    Um tema que faz parte da nossa memória colectiva, que é tão forte e intemporal que nem a mais snobe comunidade especializada, sempre a fugir do óbvio e a competir pela mais rara e obscura Soul, é capaz de recusar.

     

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