Poder Soul

7 – 11 de Dezembro

Pedro Tenreiro desenterra os tesouros perdidos da idade do ouro da música negra, de segunda a sexta-feira, pelas 16h20, na Antena 3.

Lucille Mathis – I’m not your regular woman (A-Bet) 1968 (7 de Dezembro)

Lucille Mathis era, aparentemente, uma protegida do Dj Bill “Hoss” Allen da WLAC de Nashville, que, pela sua mão, gravou dois sete-polegadas para a A-Bet, subsidiária da Excello.

Apesar deste dois singles serem momentos excepcionais da Soul do sul dos Estados Unidos, Lucille Mathis, pura e simplesmente desapareceu de cena, após a sua edição.

“I’m not your regular woman”, que tem sido uma arma secreta dos mais atentos Djs das cenas Soul, Funk e Rhythm & Blues, nunca conheceu uma re-edição, nem sequer uma inclusão em qualquer colectânea.

Esta canção prepara-se, agora, para ter uma vida nova, através da belíssima versão que da diva Soul portuense, Marta Ren, que serve de single de avanço do seu álbum de estreia para a italiana Record Kicks.

Lucille Mathis

The Valentinos – Sweeter than the day before (Chess) 1968 (8 de Dezembro)

The Valentinos é a segunda encarnação dos Womack Brothers que, tal como o nome indica, juntava, nos anos 50 e inicio dos 60, os cinco irmãos de Cleveland, que viriam a ser determinantes na história da música negra, com destaque para Bobby, uma verdadeira lenda.

Embora não seja o maior sucesso duma família que até “forneceu” um hit aos Rolling Stones, “Sweeter than the day before”, gravado para a Chess, em 1968, é, na minha opinião, o seu momento mais marcante, tendo-se transformado num dos hinos de Northern Soul, persistindo, década após década, como uma referência desta militante cena.

The Valentinos

Sugar Pie DeSanto – Go Go power (Chess) 1966 (9 de Dezembro)

Sugar Pie DeSanto ocupa um lugar de destaque na galeria das grandes vozes Soul da década de 60 e, só não tem o reconhecimento que merece, porque dividiu os seus momentos de maior glória coma a amiga Etta James.

Ainda assim, são várias as canções, desta figura marcante da West Coast, que, ao longo duma sólida carreira, iniciada em 1955, viriam a ocupar as tabelas nacionais de vendas.

“Go Go power”, editada pela Chess, em 66, não é um desses casos, mas é hoje um dos mais potentes combustíveis das pistas de dança especializadas, não fosse o seu Groove frenético absolutamente irresistível, e a voz de Sugar Pie DeSanto um verdadeira bênção.

Sugar Pie DeSanto

Coke Escovedo – I wouldn’t change a thing (Mercury) 1976 (10 de Dezembro)

Coke Escovedo é um percussionista , oriundo da baía de São Francisco, que, para além de ter trabalhado na cena de Jazz Latino, dos 50, encabeçada por Cal Tadjer e ter feito parte das formações de Santana e Azteca, é tio de Sheila E., lendária baterista e protegida de Prince, nos anos 80.

Descobri “I wouldn’t change a thing”, tema do segundo dos seus três álbuns, em nome próprio – “Comin’ at ya!”- num clube do guru da cena Rare Groove, Norman Jay, o Shake and Fingerpop, em 1987, e, desde esse momento, que a canção nunca saiu da minha mala.

Escrito por Johnny Bristol, cantado por Errol Knowles e com Joe Henderson no Sax, “I wouldn’t change a thing”, é um dos grandes temas Soul dos anos 70, completamente intemporal, a que nunca se fez verdadeira justiça e é, certamente, uma das canções da minha vida.

Coke Escovedo

Manzel – Space Funk (Fraternity) 1977 (11 de Dezembro)

Uma das bandas mais “sampladas” de que há memória, tendo fornecido “matéria-prima” a gente como Grandmaster Flash, Eric B. & Rakim, De La Soul ou Ultramagnetic MC’s, entre muitos outros, os Manzel são um grupo instrumental de Kentucky, que nasceu em 1973 e desapareceu em 78.

Nestes cinco anos de carreira, editaram quatro temas, divididos em dois sete-polegadas, com a chancela da Fraternity Records.

Embora “Midnight theme” tenha um dos drum beats mais emblemáticos da história do Hip Hop, “Space Funk” é o seu grande clássico.

Este pedaço de Funk cósmico, que junta com uma mestria impar uma secção rítmica irrepreensível, o synth futurista de Manzel Bush e as cordas da Cincinatti Symphony Orchestra, soa hoje perfeitamente actual

As gravações de Manzel foram recentemente recuperadas por Kenny Dope, que finalmente lhes deu a visibilidade que mereciam.

Manzel