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Poder Soul
24 julho 2017 – 28 julho 2017
Segunda-feira
Coletta Woodson
Follow the wind
acetato (196?)
Nos anos 90 um dealer especializado britânico encontrou seis acetatos, aparentemente cortados para referência de produção, desta grande gravação do fim da década de 60, que nunca tinha visto a luz do dia.
Quatro destas peças únicas, imprimidas pela Mercury Sound Studios, estavam creditadas a Little Eva e duas a Coletta Woodson.
Tal foi a loucura que provocaram no seio dos maiores colecionadores europeus que, poucos repararam que a razão para os créditos serem diferentes era o facto de serem também takes diferentes, por muito que as diferenças entre ambos fosse subtil.
Ian Wright, que inicialmente assegurou a versão de Little Eva, não descansou até conseguir uma das duas cópias da mais incisiva e superior gravação de Coletta Woodson e acabou por incluí-la no segundo volume da série Sister Funk, tornando-a acessível à generalidade dos amantes de música negra.
Mais um momento de génio de uma perfeita desconhecida, que garante o seu lugar na história, à custa da dedicação e afinco de Djs e colecionadores que não desistem de dar vida à mais obscura e injustiçada música gravada pela comunidade negra americana nas profícuas décadas de 60 e 70.
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Poder Soul
24 julho 2017 – 28 julho 2017
Terça-feira
Ann Cole
Each day
Baton (1956)
Ann Cole nasceu em 1934 em Newark, New Jersey, e estreou-se com o grupo de Gospel The Colemanaires antes de se lançar numa carreira a solo, aos vinte anos de idade.
Entre 54 e 62 gravou alguns marcantes lados de Rhythm & Blues para editoras como a Timely, a Mor-Play, a Baton, a Ace, a Sir, a MGM e a Roulette, acabando por se retirar quando um acidente de viação a atirou para uma cadeira de rodas.
“Each day”, o lado b do hit de 56, “In the chapel”, gravado na companhia de The Suburbans and Orchestra, para a Baton, é, na minha opinião, o seu momento excepcional.
Esta enorme canção que antecipa a Soul e que também teve uma bela versão de Sylvia Simms é um verdadeiro enche pistas, com um estatuto de culto em diferentes quadrantes da cena Retro, dos clubes Rhythm & Blues aos Soul passando pelos Mod.
Não sendo um disco completamente inacessível no seu formato original é difícil de arranjar em boas condições, pelo que a reedição de que foi alvo em 2010, através da Fryers, se revelou altamente oportuna.
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Poder Soul
24 julho 2017 – 28 julho 2017
Quarta-feira
BPS Revolution
Life is a song worth singing
Lemilt (197?)
Há ainda muitos aficionados da cena Soul que acham que este disco nunca teve edição comercial, até porque foi introduzido nas pistas de dança pelo francês Gilles Morel, através de um acetato.
De facto, este sete-polegadas é tão obscuro, que não consta em quase nenhuma discografia dos B.P.S. Revolution, uma banda Gospel que gravou um Lp e uns poucos singles na década de 70, para editoras como a Snoopy, a Kent Gospel, a Jewel e a New Testament e que teve em “Brotherly love” o seu único hit.
A verdade é que esta espantosa versão do original de Thom Bell, imortalizado por Teddy Pendergrass, foi mesmo editada pela misteriosa Lemilt, algures na segunda metade dos 70.
E também é verdade que a única cópia desta edição que alguma vez vi faz parte da minha coleção, depois de a ter negociado com o lendário Dave Thorley, e que é com todo o orgulho que a partilho aqui, no Poder Soul.
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Poder Soul
24 julho 2017 – 28 julho 2017
Quinta-feira
The Mark IV
If you can't tell me something good
Brite Lite (1982)
Jimmy Ponder e Lawrence Jones, ambos nativos da Georgia, Walter Moreland, oriundo da Florida, e Lucky Antomattei encontraram-se em Nova Iorque, no início da década de 70, para formarem os Mark IV.
Cruzaram-se com Roy C., o fundador da Alaga Records, que assumiu o seu management e financiou a gravação que lhes valeu um contrato com a Mercury.
Entre 72 e 82, os Mark IV editaram um Lp e perto de uma dezena de singles para marcas como a Mercury, a Alaga, a OTB, a Tree Line e a Brite Lite; dividiram palcos com gigantes como Wilson Pickett, Gladys Knight and The Pips, The Stylistics ou B.B. King; atingiram uma dimensão nacional, algo ao alcance de poucos nestes tempos e deixaram-nos alguns grandes hinos da cena Soul, principalmente, na fase final da sua carreira, numa altura em que Roy C. tinha dado lugar a Otis Brown e Donald Shaw.
Gravada em 82 para a Brite Lite e editada em sete e doze polegadas, com versões distintas, “If you can’t tell me something good” é, na minha opinião, o maior desses hinos, principalmente na versão de single que aqui trago.
Enquanto a versão de maxi é um colecionável trofeu para a comunidade Disco, este take mais crú e curto é um verdadeiro Graal para a cena Modern Soul e um disco só alcance dos mais obstinados.
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Poder Soul
24 julho 2017 – 28 julho 2017
Sexta-feira
Michael Kirkland
The prophet
Zay (1971)
Michael James Kirkland nasceu em Yazoo City, no Mississipi, em 1949.
Como muitos jovens negros, iniciou-se no Gospel e formou um grupo com os seus irmãos, Walter e Robert, com quem se mudou para Los Angeles, em 56 – The Seven Seals.
Influenciado pelas vozes que dominavam o Jazz, como Nat King Cole, Dinah Washington e Nancy Wilson, e pela estrela Soul, Sam Cooke, Michael decide deixar a música secular e tentar a sua sorte no circuito de clubes.
Assume a liderança dos Mike + The Censations e, até ao fim dos 60, grava uma série de singles, o primeiro dos quais, em 65, para a Bryan, editora criada pelo seu irmão Robert, para o efeito.
“The prophet”, editado em 71 pela Zay, é o seu primeiro disco em nome próprio e antecede os dois enormes Lps que nos deixou: “Hang on in there” e “Doin’ it right”, ambos gravados para a Bryan, nos dois anos seguintes.
Esta canção Soul Funk, de forte consciência social, não será a sua obra-prima mas é o seu grande disco de pista de dança, um clássico da cena Deep Funk que está a ser recuperado pelos clubes Soul.
Michael ainda mudou o nome para Bo Kirkland, a meio dos anos 70, e gravou alguns bons discos em parceria com a ex-Ikette Ruth Davis, antes de se retirar no fim da década.
É hoje um dos nomes chave da mais socialmente envolvida Soul dos 70.
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