• Poder Soul

    20 janeiro 2020 – 24 janeiro 2020

    Segunda-feira

    Betty Davis

    Anti love song

    Just Sunshine

    Betty Davis foi um dos maiores icons femininos da história da música negra, tendo inspirado o filme de Phil Cox “Betty: they say I’m different”.

    Nascida Betty Mabry em Durham, na Carolina do Norte, em 1945 foi para Nova Iorque, com dezasseis anos, estudar no Fashion Institute of Technology.

    Integrou-se imediatamente na fervilhante cena artistica de Greenwich Village e começou a passar discos no Cellar, um clube multi-racial onde se juntavam os mais modernos artistas, músicos e gente do mundo da moda, que emprestou o nome ao seu primeiro single, produzido por Lou Courtney, em 1964.

    Ainda como Betty Mabry começou assim o seu percurso discográfico, ao mesmo tempo que fazia carreira enquanto modelo, gravando mais três sete-polegadas e escrevendo um hit para os Chambers Brothers, em 67, “Uptown (to Harlem)”.

    Nos anos que se seguiram envolveu-se com Hugh Masekela, fez amizade com Jimi Hendrix e Sly Stone, gravou um série da canções para a Columbia, com Teo Macero, que só veriam a luz do dia em 2016, e foi brevemente casada com Miles Davis, tendo sido decisiva no trabalho do genial trompetista, ao “apresentá-lo” ao mais moderno psicadelismo que se viria a reflectir nos seus discos da viragem dos 60 para os 70 e sido capa de “Filles of Kilimanjaro”, disco onde lhe é dedicado um tema.

    Mas foi, entre 73 e 75, depois de uma estadia em Londres e já como Betty Davis, que assinou os seus mais marcantes discos: três Lp e meia-dúzia de singles, editados pela Just Sunshine e pela Island.

    “Anti love song” faz parte do alinhamento do seu primeiro longa-duração, um sólido disco, gravado com a nata de San Francisco, que contou com a colaboração dos ex-parceiros de Sly Stone, Larry Graham e Gregg Errico, e de gente como as Pointer Sisters, Sylvester ou Merl Saunders, e é um dos vários hinos que nos deixou, até se afastar em 79.

    Uma imensa canção, que retrata na perfeição um enorme talento, carregado de carisma e estruturado numa visão da mulher, muito à frente do seu tempo, que foi alvo de muita controvérsia e fez com que os seus discos fossem banidos das rádios e, até de algumas lojas, norte-americanas.

     

    ▶️ OUVIR

  • Poder Soul

    20 janeiro 2020 – 24 janeiro 2020

    Terça-feira

    Donald Austin

    Crazy legs

    Eastbound

    Sabe-se muito pouco acerca do guitarrista, arranjador, compositor e produtor Donald Austin.

    Sabe-se que é nativo de Memphis, mas que foi em Detroit que fez quase toda a sua curta, mas marcante, carreira.

    Na primeira metade da década de 70, para além dos rumores de ter participado nas últimas sessões da Motown na Motor City, colaborou com marcas como Westbound, Eastbound e Woody, com artistas como Junie Morrison, dos Ohio Players, Fuzzy Haskins, dos Funkadelic, Denise La Sale, Al Hudson + Vitamin C, Ron Banks + The Dramatics, Jimmy Scott, A.J. Sparks + The Spark Plugs ou Freddie Wilson e gravou um histórico Lp e um trio de singles.

    “Crazy legs”, que foi inicialmente prensado em sete-polegadas pela Woody, em 72, e deu nome ao seu único e colecionável longa-duração, editado no ano seguinte pela Eastbound, é, para mim, o seu mais excepcional momento.

    Um tremendo instrumental Funk, com um groove contagiante comandado pela guitarra, que nunca falha quando lançado numa pista de dança e que é um clássico obrigatório das cenas Rare Groove e Deep Funk.

     

    ▶️ OUVIR

  • Poder Soul

    20 janeiro 2020 – 24 janeiro 2020

    Quarta-feira

    Zu Zu Blues Band

    Zu Zu Man

    A+M

    Apesar de apenas ter gravado este disco a Zu Zu Blues Band marcou o reencontro de duas lendas de New Orleans, em Los Angeles: Jessie Hill e Mac Rebbenack.

    Jessie Hill tinha-se mudado para a Califórnia, em 1964, depois dos seus singles, para a Minit, terem falhado e gorado as expectativas criadas pelo estrondoso êxito do seu maior hino, “Ooh Poo Pah Doo”.

    Guitarrista transformado em pianista, depois de uma lesão na mão esquerda provocada por um tiro acidental, Mac Rebennack foi um dos principais protagonistas da riquissíma cena músical de New Orleans, desde meio dos anos 50, tendo colaborado com gigantes como Professor Longhair, Art Neville, Allen Toussaint ou Earl King, entre outros. Depois de se ter envolvido no tráfico de droga, em 63, foi condenado a dois anos de prisão. Uma vez cumprida a pena, em Fort Worth, no Texas, resolveu fixar-se em Los Angeles, onde viria a fazer carreira como compositor e músico de sessão e onde nasceria a persona Dr. John, que o imortalizaria.

    Em 66, Jessie Hill e Mac Rebbenack juntaram-se para formar a Zu Zu Blues Band e gravarem a primeira das suas várias colaborações.

    Embora tivesse sido editado pela A+M, uma poderosa major – “Zu Zu man” – seria um flop comercial e o único disco do projecto.

    Um tema absolutamente explosivo, que conserva os ingredientes distintivos da música da carismática cidade do Louisianna, que os viu nascer, e que se transformou numa colecionável arma, nos vários quadrantes da cena retro.

     

    ▶️ OUVIR

  • Poder Soul

    20 janeiro 2020 – 24 janeiro 2020

    Quinta-feira

    Instant Funk

    Wide world of sports

    Salsoul

    Raymond Earl e os irmãos Scotty e Kim Miller formaram os Music Machine, em Trenton, New Jersey, a meio da década de 60.

    A banda notabilizou-se como suporte do quinteto vocal The T.N.J.’s e, em 1971, mudou o nome para Instant Funk, por sugestão do seu manager, Jackie Ellis.

    Depois de terem sido descobertos por Bunny Sigler, que os terá visto num concerto dos T.N.J.’s em que foi convidado a subir ao palco, os Instant Funk, que nesta altura já tinham Dennis Richardson, James Carmichael, Larry Davis, Eric Huff, Johnny Onderlinde, George Bell e Charles Williams na sua formação definitiva, foram convidados a mudar-se para Filadélfia, onde lhes foi proposto gravarem para a mítica The Sound of Philadelphia e onde viriam a construir uma importante e bem-sucedida carreira.

    Para além de terem assegurado as bases instrumentais de discos fundamentais de nomes como Bunny Sigler, Dexter Wansel, South Shore Commition, The O’Jays, Archie Bell + The Drells, Lou Rawls, The Three Degrees, Jean Carn ou Evelyn “Champagne” King, editaram sete Lps e cerca de duas dezenas de singles, entre 75 e 85, primeiro através da TSOP e depois pela Salsoul, entre os quais se encontram clássicos como, o mais do que samplado, “I’ve got my mind made up”.

    Gravado em 78, como lado B do seu maior hino, e incluído no seu segundo Lp, homónimo, no ano seguinte –  “Wide worlds of sports” – é, na minha opinião, um dos seus melhores temas.

    Um incrível instrumental Disco, de forte sabor Jazz Funk, com uma produção e uns arranjos imaculados, que mostra bem o talento e a mestria dos músicos que compunham este colectivo de eleição.

     

    ▶️ OUVIR

  • Poder Soul

    20 janeiro 2020 – 24 janeiro 2020

    Sexta-feira

    Vessie Simmons

    I can make it on my own

    Simco

    Nativa de Los Angeles, Vessie Simmons teve um longo, mas atribulado, percurso artístico.

    Estreou-se em disco, em 1962, com o quarteto vocal feminino The Ribbons que, nos anos que se seguiram, se transformou em The Sandpapers e em The Sequins, assinando meia-dúzia de sete-polegadas, para marcas como Marsh, Parkway, Gramo, A+M e Charger.

    Vítima da ganância dos promotores, para quem os membros destes grupos eram apenas números que tinham que cumprir, usando e abusando de cantores substitutos e chegando a marcar espectacúlos simultâneos da mesma banda vocal em diferentes cidades, ou simplesmente uma chalatã, Vessie Simmons passou a viragem dos 60 para os 70 a actuar com umas falsas Shirelles, acabando por ser condenada por burla, o que também põe em causa a sua convicta afirmação de que terá integrado as Ikettes, entre 63 e 64.

    Depois desta condenação, decidiu dedicar-se ao ensino mas sem abandonar, por completo, a música e, em 75, fundou a Simco Records, editora através da qual acabou por lançar três álbuns e dezena e meia de singles, até ao fim dos anos 90, entre os quais figuram os seus temas mais significativos.

    Gravado em 79, “I can make it on my on” é o seu momento supremo e a sua grande contribuição para a cena especializada.

    Uma grande canção Modern Soul, com uns belos arranjos e um produção competente, que soa hoje tão bem como quando saiu e que parece estar a ter uma segunda vida nos mais esclarecidos clubes.

     

    ▶️ OUVIR