• Poder Soul

    10 – 14 de outubro

    Getto Kitty

    Stand up and be counted

    Stroud

    A música foi crucial na disseminação dos ideais de cidadania do Civil Rights Movement e no despertar da consciência política da comunidade negra norte-americana que, nas décadas de 60 e 70, se mantinha subtilmente segregada pela classe dirigente branca.

    Do Jazz afro-centrico de gente como Archie Shepp ou Pharaoh Sanders aos hinos Funk de James Brown, “Say it loud, I’m black and I’m proud” ou Get up, get into it, get involved”, foi muita a musica que contribui para a mudança de mentalidades que viria a alterar o curso da História americana.

    “Stand up and be counted” da, erradamente escrita, Getto Kitty é uma dessas chamadas de atenção. É também mais uma prova do génio, infelizmente pouco reconhecido, do seu compositor e arranjador – Weldon Irvine – um homem cujo peso na evolução da música negra é, infinitamente, superior aquele que lhe é atribuído… que o diga Nina Simone!

    Editado em 1972 pela Stroud, este espantoso exercício do melhor Funky Soul alguma vez gravado, é o único disco de Getto Kitty e uma peça essencial nas mais criteriosas coleções de música negra.

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  • Poder Soul

    10 – 14 de outubro

    House Guests

    My mind set me free (Part I)

    House Guests

    A citação do tema da Missão Impossível em registo Funk, que serve de introdução a esta canção, é um momento do mais puro génio.

    E na verdade, este disco é de um dos grandes personagens da história do Funk e da Soul.

    William “Bootsy” Collins e o seu irmão mais velho Phelps “Catfish” Collins resolveram formar os House Guests, em 1971, depois de terem abandonado o baixo e a guitarra dos J.B.’s de James Brown, cujo som inconfundível ajudaram a moldar.

    Gravaram apenas dois singles, ambos no seu primeiro ano de vida, pois viriam a ser convidados por George Clinton, a integrarem a formação dos Funkadelic, juntamente com o restante line-up dos House Guests, o que levou a banda a cessar a sua actividade e viria a catapultar Bootsy Collins para um protagonismo decisivo na evolução da música negra.

    “My mind set me free” é uma contagiante canção da mais psicadélica Soul Funk, coesa até não poder mais que, nos últimos anos, foi reactivada nos melhores clubes europeus, recordando um momento menos conhecido da carreira de Bootsy Collins, mas ao nível do melhor que produziu.

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  • Poder Soul

    10 – 14 de outubro

    Mixed Feelings

    Sha-La-La

    United

    Os Royals eram um grupo, de St. Matthews, na Carolina do Sul, com um line-up totalmente composto por brancos, liderado pelo teclista Glenn Walling.

    Depois de terem organizado uma audição para procurarem um vocalista, acabaram por integrar Arthur Donaldson na banda, adicionando-lhe uma voz negra, cujo impacto fez com que alterassem o seu nome para Mixed Feelings, nome que procurava reflectir a miscigenação da sua música.

    “Sha-La-La” foi gravada com o intuito de ser o lado b do seu único single, mas um erro do seu distribuidor, com base em Nashville, transformou-a, acidentalmente, na canção principal do disco.

    Este verdadeiro Santo Graal da cena Modern Soul, supostamente descoberto pelo incontornável Keb Darge, na década de 90, é um dos mais cobiçados sete-polegadas do género, trocando de mãos sempre acima dos 4.000 dollars.

    Felizmente, a subsidiária da Stones Throw, Soul Cal, em cooperação com a Kay-Dee, encarregou-se da sua reedição, em doze-polegadas, para júbilo de todos os adeptos da melhor Soul.

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  • Poder Soul

    10 – 14 de outubro

    Caffey Brothers

    Make me over

    Aura

    O Gospel, além de ser um dos alicerces da música negra norte-americana, teve sempre a capacidade de acompanhar os tempos, apropriando-se dos géneros dominantes do momento, fossem Rhythm & Blues, Soul, Funk, Disco ou Boogie, para tornar o Evangelho apelativo aos mais novos.

    Ainda assim, tem sido muita a resistência que tem encontrado para entrar nas pistas de dança.

    Greg Belson, o inglês radicado em Los Angeles, há cerca de uma década, que esteve ao lado de Keb Darge e de Snowboy na génese do movimento Deep Funk, tem-se dedicado à descoberta de inúmeras perolas Gospel, que contrariam o preconceito que os clubbers têm em relação à palavra de Deus, e se revelam completamente irresistíveis e incendiárias. Das suas pesquisas têm saído um sem número de bombas de Gospel Soul, de Gospel Funk ou de Gospel Disco, como é o caso de “Make me over” dos Caffey Brothers.

    Da banda nada se sabe, para além de serem oriundos de Youngstown, no Ohio, e deste ser o seu único lançamento e da pequena editora local – Aura – que não tem qualquer relação com o importante selo da West Coast, com o mesmo nome.

    Só mesmo estando focados na letra, conseguimos perceber que esta maravilha Soul, de 1975, é na verdade um disco de Gospel, algo que dificilmente nos acontece quando estamos atrás duma cabine ou no meio de uma pista de dança. Talvez por isso, “Make me over” seja uma das grandes descobertas dos últimos tempos na cena Soul.

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  • Poder Soul

    10 – 14 de outubro

    The Jelly Beans

    You don’t mean me no good

    Eskee

    Charles Thomas, Diane Taylor, Elyse e Maxine Herbert e Alma Brewer formaram The Jelly Beans, em New Jersey, em 1964.

    Assinaram contrato com a recém formada Red Bird, mítica editora da dupla Leiber e Stoller, e chegaram ao Top 10 americano logo na sua estreia em disco, com “I wanna love him so bad”.

    Quando se parecia advinhar um futuro promissor para o quinteto vocal, The Jelly Beans gravaram mais um single e parte de um Lp, que acabou arquivada, para a Red Bird, transformaram-se num trio, editaram um derradeiro sete-polegadas para a pequeníssima Eskee e desapareceram. A concorrência de bandas como as Shangri-Las ou Dixie Cups sentenciou as suas vidas.

    “You don’t mean me no good”, gravada em 65, foi a última tentativa de Elyse, Maxine e Alma sobreviverem ao abandono a que a Red Bird as tinha votado.

    Não lhes refez a carreira, mas transformou-se num monstro da cena Northern Soul, ou não tivesse o trio, com o auxílio de Charles Thomas, que compôs e produziu a canção, explorado territórios mais declaradamente negros e bastante menos Pop, daqueles que marcaram a sua ligação a Leiber e Stoller.

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