Os Animal Collective têm sido uma das bandas mais inovadoras da cena indie nos últimos 15 anos mas muito do que os torna especiais pode ser ligado aos Beach Boys, nomeadamente as harmonias vocais e a produção intrincada com sobreposição de diferentes elementos e camadas de som.
O último álbum, Painting With, foi mesmo gravado no East West Studio onde os Beach Boys fizeram Pet Sounds. Embora seja possível encontrar vários sinais da influência dos Beach Boys em qualquer dos álbuns de AnCon, bem como nos discos a solo de Panda Bear e Avey Tare, escolhemos “My Girls”, de Merryweather Post Pavillion (2008) como exemplo da ligação da banda de Baltimore aos autores de Pet Sounds.
Herdeiros de todas as coisas psicadélicas, os brasileiros Boogarins também acusam a influência dos Beach Boys na sua música. Se fossem necessárias provas para fazer a ligação, basta notar que o grupo participou no disco de tributo a Pet Sounds organizado pela Reverberation Appreciation Society, lançado em 2016, para assinalar os 50 anos do histórico álbum dos Beach Boys.
A verdade, no entanto, é que não é preciso ir buscar uma versão para encontrar ecos do grupo de Brian Wilson no som da banda goiana. Os Boogarins partilham o ADN lisérgico que define a personalidade de todo o psicadelismo e também dos Beach Boys, e “San Lorenzo”, de Manual ou Guia Livre para a Dissolução dos Sonhos, mesmo sem palavras, evoca a candura e o calor de alguns dos melhores momentos da banda de Brian Wilson.
Os Capitão Fausto nunca esconderam que gostam de Beach Boys. No último álbum, Capitão Fausto Têm Os Dias Contados, isso é evidente nos arranjos orquestrais e nas harmonias de voz, mas também na forma como o disco é encarado como adeus à adolescência, o fim da proteção maternal e da isenção fiscal, uma candura que tem tudo a ver com o universo dos Beach Boys e os tormentos que Brian Wilson tão honestamente expôs.
Podíamos escolher qualquer uma, mas escolhemos “Corazón”.
Os Flaming Lips podem até já ter feito várias versões dos Beach Boys mas, mesmo que não tivessem nenhuma, a influência do grupo de Brian Wilson na sua música seria sempre evidente, sobretudo naquele que chegou a ser designado como o “Pet Sounds dos anos 90”, The Soft Bulletin, o disco que desenhou o caminho seguido pela banda de Oklahoma desde então: pop psicadélica, simultaneamente doce e esquisita, melódica e explosiva, cheia de harmonias vocais e vibrafone, como acontecia com os Beach Boys.
Em 2012, os Flaming Lips participaram num álbum de tributo a Pet Sounds organizado pela revista Mojo com uma versão de “God Only Knows”. Em 2015, editaram uma versão limitadíssima de “Good Vibrations”, que também tocaram ao vivo no Brian Fest, espetáculo de tributo a Brian Wilson.
Ainda assim, como exemplo da ligação entre as duas bandas, escolhemos “Do You Realize”, do álbum Yoshimi Battles and The Pink Robots (2002).
Um pouco à semelhança do que acontece com os Animal Collective, também os Fleet Foxes são comparados aos Beach Boys desde o primeiro momento e nunca negaram a importância do grupo de Brian Wilson na sua formação musical.
Há quem diga mesmo que o seu álbum de estreia homónimo, editado em 2008, foi feito a ouvir Pet Sounds, mas talvez seja exagero. Ainda assim, o modelo Beach Boys é claro em canções como “Quiet Houses”, sobretudo nas harmonias vocais.
O líder dos Pixies nunca escondeu a sua devoção a Pet Sounds e é possível ouvir ecos de Beach Boys em várias canções: nos coros de “Levitate Me” (os Beach Boys chegaram a fazer uma versão fabulosa em todo o Wave of Mutilation, mas sobretudo nas palavras de abertura “cease to resist”, roubadas a “Never Learn To Love” dos Beach Boys que, na verdade, é uma versão de “Cease To Exist”, uma canção de Charles Manson (o assassino da actriz Sharon Tate, amigo de Dennis Wilson, que ajudou Manson nas suas tentativas de ser músico antes dos assassinatos de 1969). Mas, se for preciso eleger um momento de óbvia ligação entre Frank Black e os Beach Boys ele está no primeiro álbum a solo do líder dos Pixies (saído em 1993), em “Hang On To Your Ego”, de Pet Sounds.
São mais uma banda portuguesa que assume a figura tutelar de Brian Wilson. Os Nice Weather for Ducks, quinteto de Leiria, pertencem a uma família internacional de músicos que mistura de tudo um pouco, incluindo influências de psicadelismo e pós-punk, com Beach Boys a assumir posição central no processo.
A referência foi logo clara na primeira edição da banda na Omnichord Records, 2012 (deve ler-se twenty twelve, segundo o site da banda). Este foi o single de estreia.
Ligar os Beach Boys ao punk pode até parecer uma heresia para os mais ortodoxos ou distraídos, mas há vários indícios disso mesmo no punk, sobretudo nos Ramones, que tinham um verdadeiro fetiche pela banda de Brian Wilson e mostraram essa fixação várias vezes ao longo da sua carreira, não só com versões, mas também com canções que se apropriavam do modelo Beach Boys tornando-o seu.
“Rockaway Beach”, do álbum Rocket to Russia (1977), é a canção mais Beach Boys dos Ramones e fala sobre a praia em Queens onde Dee Dee Ramone, aparentemente o único Ramone que apanhava sol, ia enquanto adolescente. Foi um dos maiores sucessos dos Ramones.
À primeira vista, as afinidades entre os Radiohead e os Beach Boys não são claras, mas não é preciso ser literal quando se fala de influências, muitas vezes elas são de natureza mais conceptual e esse é o tipo de relação entre os Radiohead e os Beach Boys.
A complexidade da produção da Pet Sounds certamente paira sobre a banda, pelo menos, desde OK Computer, nos falsetes e também na escrita de Thom Yorke, sobretudo nos ambientes que os Radiohead confessaram ter construído a pensar no histórico disco dos Beach Boys.
Também não é difícil ver nas orquestrações do novo A Moon Shaped Pool alguma coisa da banda de Pet Sounds mas, como exemplo da ligação entre os universos de Thom Yorke e Brian Wilson, elegemos “No Surprises” que, logo nos primeiros acordes de guitarra, lembra “Wouldn’t It Be Nice” ou até “Hang On To Your Ego”.
Os Sonic Youth podem não ser a mais óbvia das bandas quando se pensa em descendência dos Beach Boys, mas o facto de estarem nesta lista só mostra como a influência do grupo de Brian Wilson cobre um espectro musical muito vasto e a sua sofisticação orquestral tem eco até no noise. É o próprio Thurston Moore que coloca “Hang On To Your Ego” numa lista de 38 canções favoritas, o que talvez explique porque razão os Sonic Youth fizeram uma versão (de “I Know There’s an Answer”, no fundo a mesma canção), uma pérola durante anos disponível apenas em edições obscuras mas que acabou por ser incluída na reedição especial de Goo, em 2005.
Thurston Moore fez também uma versão bastante experimental de “Here Today”, também de Pet Sounds, para “Smiling Pets”, uma edição japonesa de tributo a Brian Wilson de 1998. Já a versão de “I Know There’s An Answer” é provavelmente a única vez que Sonic Youth usaram maracas e pandeiretas…