Daniel Deusdado, diretor de programas da RTP, abordou na sua masterclass a temática da grelha televisiva, no contexto da televisão portuguesa da actualidade, distinguindo a lógica de uma grelha vertical (praticada pelos canais privados da SIC e TVI), da lógica de uma grelha horizontal (adoptada, nos últimos anos, pela RTP). A diferença base, entre uma grelha vertical e uma grelha horizontal, é que a primeira consiste em manter os mesmos programas, à mesma hora, durante toda a semana; enquanto que o segundo apresenta programas diferentes, em cada dia da semana, maioritariamente no horário de prime-time (compreendido normalmente entre as 20/21 horas e a meia-noite).
A RTP destaca-se assim por uma visão diferenciadora, no que diz respeito ao consumo televisivo, com a introdução das séries, no horário nobre, em vez da tradicional telenovela. Segundo Daniel Deusdado, o serviço público deve ser diferente – daí a escolha de um formato mais arriscado e desafiante para a slot das 21 horas. Como serviço de televisão pública, a RTP tem o dever para com o público, de apresentar uma programação mais diversificada e que abra os horizontes do espectador, produzindo entretenimento, que para além de entreter, seja ao mesmo tempo didático.
Daniel Deusdado falou-nos ainda que cada lugar da grelha televisiva deve ser ocupado tendo um público-alvo em mente – a televisão diurna, é uma televisão dita de “companhia”, para um público mais envelhecido, por exemplo; enquanto que o prime-time, apanha uma audiência mais abrangente, sendo que a RTP considera fundamental que este horário privilegie produções em português, e se possível, que consiga reunir a família à frente da televisão (com programas de talentos, por exemplo); finalmente, o horário depois da meia-noite, pode dar primazia a programas ditos de “nicho”, ou a séries e filmes estrangeiros.
No entanto, a RTP continua a ter audiências mais baixas que os outros canais generalista, apesar da sua grelha vertical estar em sintonia com o que se faz, actualmente, no resto da Europa e nos EUA; por isso, Daniel Deusdado pergunta-nos: “Vale a pena fazer séries em Portugal, se ninguém as vê?” e a resposta é imediata – sim, uma vez que, segundo o director de programas do canal, é necessário criar uma herança ficcional para o nosso país, aproveitando inclusive a riquíssima História do mesmo, e introduzindo em Portugal, géneros que estão em falta, como a série de culto.
Os academistas tiveram assim a oportunidade de conhecer melhor a realidade por trás das escolhas dos conteúdos televisivos, mas também, a oportunidade única de ver ao vivo o troféu da Eurovisão 2017 (ganho por Salvador Sobral), que Daniel Deusdado trouxe, amavelmente, para a nossa sala de aula.

Ana Madeira, academista